Maio de 68: Embaixada de Portugal em França destaca falta de "ações políticas"

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Porto Canal com Lusa

Lisboa 22 abr (Lusa) -- Os tumultos laborais e estudantis em França no mês de maio de 1968 foram resultado de uma governação "tecnocrata" e da ausência de "ações políticas" considerava o então embaixador de Portugal em França nas comunicações com Lisboa.

"Com efeito este regime tendo-se sempre preocupado apenas com a 'administração' e não como a ação política, dominado por tecnocratas despidos de sensibilidade política e de contacto com as realidades humanas e sociais, vê-se agora perplexo e impotente perante a hostilidade da generalidade da população e o estado insurrecional em que se encontra Paris, bem como as graves desordens em Lyon, Estrasburgo e Nantes", referia a embaixada de Portugal em França.

"A vulnerabilidade e a fraqueza do regime surpreenderam não só os partidários do governo como os seus próprios adversários e isto explica que o Partido Comunista e seus aliados não tenham ainda tentado tomar o poder", acrescenta a análise da embaixada portuguesa no dia 26 de maio de 1968.

As principais manifestações estudantis e sindicais em Paris ocorrem nas noites de 10 e 25 de maio verificando-se confrontos com a polícia.

No mesmo telegrama "urgente" a embaixada de Portugal em França informa Lisboa das perturbações e confrontos especificando que vários pavilhões da cidade universitária (Paris) tinham sido ocupados por estudantes esquerdistas e operários e que entre os "ocupantes" se encontravam portugueses.

Na descrição dos acontecimentos, o telegrama refere que o Conselho de Administração da cidade universitária entende nada poder fazer para pôr cobro ao "estado de coisas por considerar ser impossível e contraproducente qualquer recurso às autoridades - na hipótese de estarem dispostas a tal intervenção", informa o aerograma "urgente" enviado para Lisboa.

Na mais longa mensagem sobre os acontecimentos disponível no Arquivo Histórico e Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a embaixada expõe igualmente a situação no país no dia em que De Gaulle se dirigiu ao país (25 de maio) aludindo que estavam "reunidas as condições de guerra civil".

"Com efeito a França está inteiramente paralisada", escreve o embaixador detalhando que "não há comboios, nem aviões e que os navios não entram" nem saem dos portos e que bandeiras vermelhas e pretas foram içadas nos mastros.

"O reabastecimento das cidades é apenas efetuado por estrada, mas faz-se já sentir a falta de combustíveis. A maioria das bombas de gasolina estão fechadas e algumas apenas estão reservadas a médicos e ambulâncias", destaca a embaixada.

Na mesma mensagem é referida também a falta de bens alimentícios, sobretudo de arroz e azeite e que: "os bancos e as caixas económicas estão encerrados e que as comunicações telefónicas são deficientes, sobretudo as ligações internacionais".

Sobre o discurso de De Gaulle sobre a realização do referendo, a comunicação diplomática frisa que a "alternativa à guerra civil" a que o chefe de Estado fez referência é a única razão que pode levar a uma votação "favorável" para o presidente.

Na mesma altura, o primeiro-ministro Pompidou reúne-se com sindicatos e representações patronais para "estudo e definição" de novas regras de participação de operários na gestão de empresas, aumento do salário mínimo, diminuição do horário de trabalho de 48 para 42 por semana "a fim de tentar-se absorver meio milhão de trabalhadores atualmente desempregados".

"Também quanto ao ensino vão iniciar-se conversações entre professores, assistentes e estudantes para reorganização de programas, intervenção efetiva, abolição de exames de admissão e eventual supressão de exames como método de apreciação dos conhecimentos dos alunos", indica o telegrama.

Um dia mais tarde, a embaixada de Portugal refere que a situação piora de "momento a momento" já que os sindicatos não aceitaram as propostas do governo.

"De Gaulle encontra-se presentemente perante a grande deceção mas, atualmente, perante uma dúvida sobre a forma como a História o julgará ante a falência e o malogro da sua ação", considera a embaixada.

"Pétain não desapareceu há muito e talvez De Gaulle já tenha pensado no trágico destino do antigo defensor de Verdun e chefe da França de Vichy (colaboracionista nazi)", reflete o embaixador sobre o chefe de Estado.

O mesmo aerograma regista perturbações da ordem em Estocolmo, na Alemanha e noutros lugares levados a cabo por estudantes.

"Não seria surpreendente que brevemente outros países do Ocidente sejam submetidos à vaga revolucionária que, neste momento, pretende destruir a França", considera.

No dia 06 de junho de 1968, a embaixada envia um telegrama para Lisboa informando que "o regresso ao trabalho vai-se fazendo lentamente" mas de forma desordenada referindo também as preocupações que o Partido Comunista Francês demostra sobre a influência de grupos "pró-chineses" que tomam cada vez mais amplitude junto do proletariado e dos estudantes.

PSP // SB

Lusa/fim

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