FMI aprova desempenho económico moçambicano, mas alerta sobre investimentos do Governo
Porto Canal / Agências
Maputo, 16 jan (Lusa) - O FMI mostrou-se hoje satisfeito com os resultados macroeconómicos que Moçambique obteve durante 2013, como o crescimento "muito elevado" da economia e a estabilidade da inflação, deixando, no entanto, alertas à política de investimento público do Governo moçambicano.
Na análise aos principais indicadores macroeconómicos do último ano, Moçambique obteve nota positiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), que hoje apresentou, em Maputo, alguns resultados da primeira revisão do programa económico do Governo moçambicano, apoiado pela organização.
Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,1 por cento, "um dos maiores da África subsariana", nível de inflação "relativamente estável" de 4,2 por cento e um desempenho fiscal "que superou as metas", influenciado por receitas extraordinárias de mais-valias no setor dos recursos naturais, no valor de 624 milhões de dólares, foram destacados, em conferência de imprensa, pelo representante do FMI em Moçambique, Alex Segura.
Embora, no plano geral, o desempenho do plano económico do país tenha sido "satisfatório", com "progressos" registados nas reformas estruturais, como "na área da gestão das finanças públicas e de supervisão bancária", o FMI deixou alertas à política de investimento público do executivo moçambicano.
"Houve atrasos na implementação de reformas, em particular o plano integrado de investimentos, que não foi aprovado a tempo, e carece de especificidade de ligação com o Orçamento do Estado (OE) e análises de sustentabilidade da dívida", disse Alex Segura.
Anunciando as previsões económicas para 2014, ano em que a economia moçambicana deverá registar um crescimento de 8,3 por cento e uma inflação entre cinco e seis por cento, o responsável destacou o aumento acentuada da despesa pública como um indicador negativo, que deve merece particular atenção do Governo.
"Em 2014, a despesa pública deverá aumentar de forma muito acentuada, 36,3 por cento para 40 por cento do PIB, refletindo a utilização, em 2014, das mais-valias de 400 milhões de dólares, coletadas em 2013, que deverão financiar despesas de investimento e eleitorais, e a incorporação no OE das operações não comerciais da recém-criada empresa Ematum", referiu Alex Segura.
"O défice fiscal, incluindo donativos, deverá deteriorar-se de 4,5 por cento do PIB para 12,5 por cento do PIB em 2014", continuou.
O polémico tema da Ematum, uma empresa moçambicana recentemente criada, que encomendou embarcações militares e pesqueiras no valor de 850 milhões de dólares, num financiamento obtido com garantias do Estado moçambicano, mereceu ainda alguns reparos do FMI, que reconhece que a operação provocou atrasos no desembolso dos apoios externos dos parceiros internacionais ao país.
"O caso da Ematum é um exemplo da necessidade de melhorar esse sistema de investimento público, dado que uma garantia pública de 850 milhões de dólares ao projeto foi recebida com alguma surpresa por nós. A garantia do Governo à Ematum criou inicialmente uma necessidade de diálogo [com os parceiros internacionais], mas estamos otimistas de que a situação já foi ultrapassada", garantiu o representante do FMI.
Sobre os riscos que o programa de desenvolvimento económico para 2014 enfrenta, o FMI destacou, ao nível externo, a redução dos preços das mercadorias exportadas, como o carvão, e os atrasos e possíveis reduções no desembolso dos apoios externos ao OE moçambicano.
Já ao nível interno, a organização refere possíveis atrasos na melhoria de infraestruturas, mudanças na política económica no contexto das eleições gerais de outubro, e, ainda, o aumento da insegurança no país, devido à tensão político-militar entre a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, e o Governo.
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