BE critica "chantagem" e hipocrisia "da direita" em adiar renegociação da dívida

| Política
Porto Canal / Agências

Porto, 03 out (Lusa) -- A coordenadora do BE acusou hoje o Governo de "adiar a renegociação da dívida" para "destruir o Estado Social" e criticou a "chantagem" e o "discurso dúplice e hipócrita da direita" sobre algo que "sabem que não vão pagar".

Defendendo a "renegociação da dívida" nacional antes que se torne "impagável", Catarina Martins reagia assim em declarações à Lusa às afirmações do Presidente da República, Cavaco Silva, sobre o "masoquismo" de analistas e políticos que dizem que "a dívida portuguesa não é sustentável".

"Há um discurso dúplice e hipócrita da direita que é dizer que os sacrifícios são feitos em nome de pagar a dívida, quando sabem que isso não está a acontecer nem vai acontecer", alertou a responsável do BE, à margem do quarto Congresso de Direito Fiscal que hoje começou na Faculdade de Economia da Universidade do Porto.

Catarina Martins começou por responder à Lusa frisando que "não é possível, e está demonstrado até à exaustão, ter ao mesmo tempo medidas recessivas e fazer baixar o défice ou a divida".

"A política recessiva é uma política que objetivamente aumenta a dívida e não controla o défice. O que tem acontecido é a utilização do argumento de chantagem do pagamento da dívida para fazer uma transferência de rendimentos do trabalho para o capital", afirmou.

Frisando que "nenhuma das metas do memorando da 'troika' sobre o défice e sobre a dívida estão a ser cumpridas" e que, "muito longe disso, a dívida está muito mais alta", Catarina Martins assegura ser impossível pagá-la.

"Sabemos hoje que não é possível pagar a dívida que Portugal tem. Tem de ser renegociado, senão é impagável", vincou, lembrando que "quando a dívida estava em 70% do Produto Interno Bruto (PIB)" e ainda não fazia parte do Governo, Carlos Moedas, secretário de Estado Adjunto do Primeiro Ministro, "já dizia que tinha de ser renegociada".

Para Catarina Martins, "o adiar da renegociação da dívida por parte do Governo só tem uma leitura: é um plano ideológico de destruição do salário e do Estado Social em Portugal".

"Uma dívida tão alta só está a servir sistematicamente de chantagem para quebra de salários e pensões, e de cortes no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e na escola pública. Todos estes cortes não pagam a dívida. Portanto, nada a não ser um fanatismo ideológico pode explicar o que está a acontecer".

Referindo-se à reforma do IRC, que em breve será debatida no Parlamento, Catarina Martins sustentou que "o capital vai pagar menos impostos".

"Dizem que isto tem de ser feito porque precisamos de investimento, mas um país que tem uma economia débil não gera investimento produtivo, que é o que precisamos", lamentou.

Depois de, na terça-feira, ter manifestado a sua convicção de que Portugal não precisará de um segundo resgate, o Presidente da República Cavaco Silva questionou na quarta-feira em Estocolmo, Suécia, que analistas e políticos digam que a dívida portuguesa não é sustentável, considerando que essa atitude é "masoquismo".

Sublinhando que os próprios credores, a Comissão, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Europeu dizem que "é sustentável", Cavaco Silva questionou por que são os próprios portugueses, que são os "devedores", que dizem que não é sustentável. "Só há uma palavra para definir esta atitude: masoquismo", disse.

ACG/(VAM) // SMA

Lusa/fim

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