Humberto Pedrosa diz que projecto "não se adapta" com uma posição minoritária
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 17 dez (Lusa) - O empresário Humberto Pedrosa, que através do Atlantic Gateway controla 61% da TAP, afirmou hoje que o seu projeto "não se adapta" com uma posição de minoria.
Humberto Pedrosa falava aos jornalistas à margem da apresentação do livro "Grupo Barraqueiro -- 100 anos em imagens" para celebrar os 100 anos de existência da empresa que lidera, no mesmo dia em que o consórcio Atlantic Gateway esteve reunido com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, sobre a TAP.
"O nosso projeto não se adapta com minoria", afirmou o empresário.
Questionado pelos jornalistas se poderia adaptar-se o contrato para uma posição minoritária, o empresário afirmou: "Não sei como, é muito difícil".
E se fosse proposto minoria com carta aberta na gestão? Apesar de "não ser inédito", nunca seria uma situação fácil para o consórcio que tem atualmente a maioria do capital da transportadora aérea portuguesa.
"Não é fácil gerir uma empresa com minoria porque há decisões que são importantes que não são compatíveis, muitas vezes, com o poder político e é isso que realmente dificulta a gestão", afirmou o gestor.
"Estamos a conversar [com o Governo]. Isto foi uma primeira conversa, com certeza que o Governo não quer fechar a porta e nós não queremos fechar a porta", acrescentou.
Questionado se não receia ter de reescrever a parte final do seu livro sobre o grupo Barraqueiro, empresa que lidera há 48 anos, relativamente à TAP, Humberto Pedrosa foi perentório: "Não, não receio".
"Seria uma pena" se tal acontecesse, continuou, apontando que "a TAP foi uma prenda de anos para a Barraqueiro, que fez 100 anos, e uma prenda daquelas é importante".
"Nós temos um projeto [para a TAP] onde somos maioritários, onde temos toda a nossa disponibilidade para mexer na empresa", salientou.
"É claro que o Governo querendo ficar com a maioria do capital, com certeza que também tem uma estratégia para empresa. Quando eu disse que não casava [os projetos do consórcio e do Executivo] é porque não pode haver duas maiorias", explicou.
No entanto, garantiu que as portas para conversações estão "abertas".
"Quando não se tem a maioria não se consegue gerir uma empresa à vontade do acionista", reiterou, sublinhando que o Governo "tem uma decisão" tomada, que passa por ser maioritário.
No entanto, disse que todas as partes - Governo e consórcio - têm de pensar na operadora aérea.
"O Governo também irá pensar no interesse da companhia e preocupa-se como nós", sublinhou o gestor.
"Não sei como se casam estes dois interesses, mas vejo que há muita dificuldade", disse aos jornalistas o dono da Barraqueiro.
Para haver um acordo, provavelmente deveria haver cedências de ambas as partes, mas o empresário não descortinou qualquer possibilidade de um consenso.
No encontro com o Governo, o ministro perguntou ao consórcio se estava disponível para conversar, explicou o empresário, que recordou que já foi investido na TAP 180 milhões de euros, aos quais acresce mais 120 milhões de euros dentro de dois a três meses, num total de 300 milhões de euros.
"A TAP tem responsabilidades, estamos a pagar dívida que a TAP tinha", lembrou.
Caso o consórcio ficasse com uma posição minoritária, o Estado teria de pagar pela redução dessa posição, tendo em conta que a Atlantic Gateway já investiu na companhia aérea.
Questionado sobre se o Estado teria dinheiro para o efeito, Humberto Pedrosa afirmou: "Acho que sim".
"Com certeza que o Governo não iria pôr uma situação se não tivesse possibilidades de o fazer", considerou.
O empresário disse estar "confortável" juridicamente com o acordo assinado no âmbito da privatização da TAP e afirmou que dentro de um ano será "visível" que a companhia aérea portuguesa está em "boas mãos".
O acordo de conclusão da venda direta de 61% do capital da TAP foi assinado no dia 12 de novembro entre a Parpública, empresa gestora das participações públicas, e o agrupamento Gateway, na presença da então secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco, do então secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Miguel Pinto Luz.
A apresentação do livro da Barraqueiro contou com uma intervenção do ex-governante Eduardo Catroga, que elogiou o percurso do grupo e os 48 anos de liderança de Humberto Pedrosa à frente da empresa.
"Não estamos velhos, temos juventude acumulada", disse Catroga a Pedrosa, que na sua intervenção na CCIP - Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa considerou que o Estado "não sabe gerir", quando se referia ao setor dos transportes.
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