Pedro Nuno Santos quer diálogo com PSD em áreas de soberania e acordo sobre aeroporto
Porto Canal/Agências
O candidato à liderança dos socialistas Pedro Nuno Santos prometeu esta terça-feira dialogar com o PSD sobre áreas de soberania nacional e respeitar o acordo com os sociais-democratas sobre a metodologia para a escolha da localização do novo aeroporto.
O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação assumiu estas posições sobre as relações políticas com o partido liderado por Luís Montenegro em entrevista à CNN/Portugal, durante a qual também acusou o PSD de estar “radicalizado”, sobretudo por “depender” da Iniciativa Liberal e já não do CDS-PP.
Interrogado sobre a forma como se relacionará com o PSD se for eleito secretário-geral do PS nas eleições de 15 e 16 de dezembro, Pedro Nuno Santos referiu que “há matérias de regime que são imprescindíveis serem trabalhadas, dialogadas e debatidas com o PSD”.
“Sobre isso não tenho a menor dúvida. Agora, não posso ignorar que nós hoje temos um PSD que está radicalizado. Não só há um líder do PSD que disputa [eleitorado] com o Chega, como temos também hoje um PSD que depende da Iniciativa Liberal”, apontou.
Pedro Nuno Santos caracterizou a Iniciativa Liberal como “um projeto radical, que tem uma visão diametralmente oposta à do PS sobre o Estado social”.
“E obviamente que uma aliança entre o PSD e a Iniciativa Liberal tornam um Governo do PSD muito mais radical do que aquele que nós tivemos no tempo da troika”, sustentou.
Na entrevista, o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação afirmou que irá respeitar o acordo feito pelo atual Governo socialista com o PSD sobre a metodologia para a escolha da localização do novo aeroporto de Lisboa.
Mas também avisou que avançará para uma decisão se, eventualmente, no fim do processo, após a divulgação do relatório final da Comissão Técnica Independente, não houver concordância entre os dois maiores partidos portugueses sobre a localização.
“Esse processo não vai ser posto em causa obviamente por mim e, por isso, levarei até ao fim, mas com a certeza de que haverá uma decisão, com ou sem acordo do PSD. É fundamental que o país de uma vez por todas consiga resolver um problema que já leva cinco décadas", advertiu.
Pedro Nuno Santos admite que a Comissão Técnica Independente faça uma identificação dos pontos positivos e negativos de cada uma das localizações em análise e que depois exista um espaço para debate.
“Se for possível esse entendimento existir [com o PSD], isso é bom, porque garante estabilidade a uma decisão que vai implicar um investimento prolongado no tempo, mas não podemos ficar paralisados mais uma vez. Isso não podemos. Isso é um crime que fazemos ao país. Estamos a perder muito dinheiro por não termos tido a capacidade de decidir", argumentou.
Em relação ao processo de privatização da TAP, reiterou a sua posição a favor de uma privatização parcial, com o Estado a manter a maioria do capital. E defendeu que “não há pressa para a venda”.
“Os potenciais compradores e investidores têm de saber que o Estado português não está desesperado”, justificou.
Na CNN/Portugal, Pedro Nuno Santos voltou a ser confrontado com as relações entre a justiça e o PS – um tema que tinha dominado a primeira parte da entrevista que uma hora antes tinha concedido ao Jornal Nacional da TVI.
Questionado sobre o facto de dois primeiros-ministros do PS, José Sócrates e António Costa, no espaço de nove anos, terem problemas com a justiça, o candidato à liderança dos socialistas repetiu que devem ser protegidos dois princípios fundamentais: “Um deles é a presunção de inocência, e outro é a independência das instituições judiciais”.
Referiu-se, em seguida, especificamente à investigação judicial que envolve o primeiro-ministro, afirmando: “No que diz respeito a este processo em particular, estamos muito longe de poder retirar conclusões, mas muito longe mesmo".
Rejeitou, depois, que se diga que “o PS tem um problema estrutural e crónico com a justiça”.~
“Isso não é assim, não pode ser assim”, acentuou.
Interrogado sobre de que forma pode prometer que na sua eventual futura residência oficial de primeiro-ministro não vai ser encontrado dinheiro vivo escondido – uma alusão aos mais de 75 mil euros (em numerário) encontrados na sala de trabalho de Vítor Escária, ex-chefe de gabinete de António Costa, Pedro Nuno Santos respondeu: “Aquilo que devemos fazer é procurar garantir que a nossa equipa é eticamente irrepreensível. E essa preocupação será a minha desde o primeiro minuto até ao fim", prometeu.
Ainda em relação a este caso com o ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro, o candidato a secretário-geral do PS referiu que António Costa teve “um momento em que pediu desculpa pelo que aconteceu na residência oficial”.
“Ele é o primeiro traído, desse ponto de vista. Somos todos, é o PS, e ele em primeiro lugar. António Costa fez uma escolha de alguém que tinha experiência, que era qualificado, que podia acrescentar e ajudar no seu trabalho. Não fez uma escolha de alguém que achava que podia ter aquela quantidade de dinheiro no seu gabinete. E, portanto, foi uma traição para ele”, acrescentou.