Movimentos do Veneto e do Tirol do Sul querem ser a Escócia e a Crimeia de Itália
Porto Canal / Agências
Viena, 12 mai (Lusa) -- Movimentos independentistas nas regiões italianas do Veneto e do Tirol do Sul ganharam este ano alento com os exemplos da Escócia e da Crimeia, mas a Constituição italiana proíbe qualquer processo separatista.
Em março, o grupo Veneto Indipendente realizou na região um plebiscito à independência. O referendo não tinha valor legal e não foi sancionado por nenhuma autoridade oficial, mas os organizadores descreveram-no mesmo assim como um sucesso. Quase 90% dos participantes declararam-se a favor da soberania do Veneto.
O número exato de eleitores no referendo é disputado: segundo o jornal "Il Messagero", os organizadores dizem ter registado 2,5 milhões de votos (mais de metade da população do Veneto), mas o voto foi sobretudo feito online e por telefone, em plataformas onde era possível a cada eleitor votar mais de uma vez.
Ainda assim, o resultado foi suficiente para chamar a atenção do Governo federal italiano. O ministro do Interior, Angelino Alfaro, disse à agência Ansa que "há uma questão do Veneto", que só pode ser resolvido através de uma "dupla solução": "Por um lado, reforçar a autonomia; por outro, melhorar os serviços públicos."
A Constituição italiana, que descreve a República como "una e indivisível", não permite a realização de referendos independentistas.
O governo regional do Veneto é dominado pelo ramo local da Liga do Norte, o partido regionalista de Umberto Bossi. O Veneto tem perto de 4,9 milhões de habitantes e é uma das regiões mais ricas de Itália. Os independentistas associam a sua causa à herança histórica da República de Veneza, cuja bandeira (um leão dourado sob um fundo vermelho) ostentam. Veneza foi uma cidade-estado independente durante um milénio, e só se juntou à Itália unificada na segunda metade do século XIX.
Os independentistas do Veneto aspiram a ser a Escócia de Itália -- isto é, a realizar um referendo vinculativo com a possibilidade de conquistar a soberania. Por sua vez, os separatistas da região vizinha do Tirol do Sul olham para o exemplo da Crimeia: em vez de independência, preferem a anexação ao vizinho de Leste, neste caso a Áustria.
O Tirol do Sul, ou Alto Adige, na designação em italiano, é uma região autónoma com 500 mil habitantes junto à fronteira austríaca. A região foi incluída em Itália em 1919, como resultado da reorganização do Império Austro-Húngaro no pós-I Guerra Mundial. Segundo números oficiais, mais de dois terços da população local fala alemão.
Tal como o Veneto, o Tirol do Sul é das regiões mais prósperas da Itália, mas a sua autonomia é mais profunda: a região mantém pelo menos 90% dos impostos cobrados, e o governo regional é dominado por partidos locais.
O Partido Popular do Tirol do Sul (SVP, conservador) teve quase metade dos votos nas últimas eleições regionais, em que os partidos nacionais italianos tiveram votações residuais (abaixo de 10%). O SVP não defende o separatismo, apenas uma autonomia reforçada -- mas o segundo partido mais votado da região é o Partido da Liberdade (STF), cujo programa é ostensivamente separatista.
O principal símbolo do STF é o slogan "Süd-Tirol ist nicht Italien!" ("o Tirol do Sul não é Itália") escrito sobre uma bandeira às riscas horizontais vermelhas e brancas -- as cores da Áustria.
Em março, quando se realizou um referendo na Crimeia favorável à anexação da região à Rússia, uma porta-voz do STF instou o governo regional do Tirol do Sul a seguir-lhe o exemplo: "O povo da Crimeia, por grande maioria, decidiu unir-se à Rússia", disse Ulli Mair ao jornal Südtirol News. "O SVP [governo regional do Tirol do Sul] já não pode ignorar a realidade, é necessária uma solução sem a Itália", concluiu a porta-voz do STF.
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