OE2016: UTAO diz que cenário macroeconómico é incerto e duvida da melhoria do emprego
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 28 jan (Lusa) -- A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) afirma que o cenário macroeconómico do Governo, inscrito no esboço de plano orçamental, está revestido de "elevada incerteza", sobretudo quanto ao modelo de crescimento e às previsões de melhoria do emprego.
Na análise da UTAO ao esboço do Orçamento do Estado para 2016, a que a agência Lusa teve hoje acesso, os técnicos independentes afirmam que existe uma "elevada incerteza" quanto às estimativas de crescimento do Governo para este ano, que apontam para os 2,1%.
O executivo liderado por António Costa antevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) "decorrente de um contributo mais positivo da procura interna e menos negativo da procura externa líquida" face a 2015, mas a UTAO admite que poderá não ser assim.
"Existe um risco não negligenciável de que a composição do crescimento para 2016 seja diferente da considerada no cenário do esboço de Orçamento do Estado, com maior contributo positivo da procura interna e maior contributo negativo da procura externa líquida, resultando em impactos relevantes ao nível dos ajustamentos internos e externos", lê-se na nota dos técnicos independentes.
Isto porque, o crescimento do PIB "poderá ser pressionado por um maior aumento do consumo privado" e, consequentemente, das importações, pela recuperação de rendimentos, sobretudo nos trabalhadores do setor público.
Adicionalmente, a UTAO sublinha "o risco de diminuição do crescimento das exportações", que seria agravado num cenário de "maior crescimento do consumo privado".
Além disso, "existem ainda riscos quanto à concretização da recuperação do emprego no setor privado, intensificados num cenário de menor crescimento das exportações ou do investimento privado", escrevem os especialistas.
Por outro lado, avisa a UTAO, a "evolução das economias dos principais parceiros comerciais surge como importante desafio externo para a concretização do cenário macroeconómico".
Em particular, os ténicos sublinham a recessão económica do Brasil, destino de 1,3% do total das exportações portuguesas, "com efeitos ainda incertos sobre as importações", bem como os receios face ao abrandamento das economias da China e da zona Euro, nomeadamente em Espanha e na Alemanha, parceiros portugueses.
"Neste contexto poderá identificar-se um risco significativo no sentido descendente do ritmo de crescimento da economia mundial com um efeito potencial negativo sobre o crescimento da economia portuguesa", lê-se.
A UTAO afirma ainda que "a vulnerabilidade a eventuais choques financeiros globais é muito elevada", perante as necessidades de financiamento e os elevados níveis de endividamento.
Os técnicos escrevem também que a análise deste cenário é "particularmente afetada pela incerteza em torno do detalhe das medidas de política orçamental subjacentes", uma vez que se trata apenas de um esboço do Orçamento do Estado para 2016.
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