Mais de 750 milhões de pessoas no mundo sem água potável
Porto Canal (JYL e PYR)
Existem mais de 750 milhões de pessoas no mundo sem água potável. Todos os anos 840 mil morrem devido a problemas relacionados com a privação ou consumo de água imprópria, os desfavorecidos são os mais afectados. A longo prazo a situação tende a agravar-se.
No início deste ano, por ocasião do Dia Mundial da Água (assinado a de Março), a directora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência, e Cultura, Irina Bokova, mostrou-se preocupada.
"As tendências actuais de consumo mostram que não haverá água suficiente, em geral, e qualidade da água em particular, para atender às crescentes necessidades mundiais, sem que se altere radicalmente a forma como esses recursos finitos são usados, geridos e partilhados. Em tal cenário, o risco de conflitos localizados não pode ser desprezado", disse Irina Bokova.
As alterações climáticas e as consequentes variações da temperatura estão entre os factores que causam modificações nas condições do ciclo da água, influenciando, no limite a quantidade disponível para efeitos de consumo humano imediato. A poluição, contaminação, ou excesso de sal, também são outros aspectos que afectam a qualidade da água, impedindo a sua ingestão.
Segundo projecções da ONU, em 2050 passaremos a ser mais 9 mil milhões de indivíduos, contrastando com os 7,2 mil milhões actuais. O aumento da esperança média de vida, a subida da taxa de natalidade nos países em desenvolvimento, a evolução e o alargamento de cuidados médico-sanitários a regiões tradicionalmente mais desfavorecidas estão entre as razões que explicam este crescimento.
Esta explosão demográfica significa mais pressão sobre os recursos do planeta, e mais quantidade de alimentos disponíveis. Estima-se que a agricultura tenha de gerar mais 60% de comida para saciar o mundo, até 2050, e no caso dos países em desenvolvimento o valor é de 100%. Seguindo a mesma tendência, entre 2000 e 2050 a procura da indústria por água pode crescer até 400%.
Até ao ano de 2030, o planeta enfrentará uma assinalável carência de água potável para fazer face à demanda humana. O défice de 40% deste recurso fundamental é uma das drásticas conclusões do relatório da ONU, divulgado no ano passado, em Nova Deli (índia), intitulado "Água para um Mundo Sustentável" (ver infografia).
De momento ainda não existe uma gestão sustentável dos recursos hídricos. Esta situação é agravada por factores como a rega intensa de plantações, aplicação descontrolada de pesticidas e outros produtos químicos que contaminam os cursos de água e a ausência de tratamento de águas residuais, cenário que abrange 90% do total dos afluentes dos países em desenvolvimento.
A pouco tempo da aprovação dos novos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030, o relatório "Água para um Mundo Sustentável" invoca a necessidade de se dedicar um objectivo especificamente aos recursos hídricos. O documento defende, ainda, que o foco deve ser alargado da água potável e do saneamento para a gestão mundial de todo o ciclo da água.