Carlos Tavares admite que com mais informação tinha suspendido acções do BES mais cedo
Porto Canal / Agências
Lisboa, 18 nov (Lusa) - O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Carlos Tavares, reconheceu hoje no parlamento que, caso tivesse tido acesso a mais informação sobre a situação do BES, teria mandado suspender os títulos mais cedo.
"Se a CMVM tivesse mais informação teria sido prudente suspender a negociação mais cedo", afirmou o responsável durante a sua audição na comissão de inquérito parlamentar à gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (BES).
"O equilíbrio entre o que deve ser divulgado e o que não deve ser é muito fino. Mas isso é a informação que é passada para o mercado. O supervisor tem que ter toda a informação", realçou.
Questionado sobre se o Banco de Portugal (BdP) falhou na transmissão de informação ao supervisor do mercado, Carlos Tavares evitou responder.
"Eu não quero discutir quem é que teve responsabilidades", disse o líder da CMVM.
Ainda assim, realçou que "o primeiro responsável por informar a CMVM é o emitente", ou seja, o próprio BES, que na altura já era liderado por Vítor Bento.
"Havendo um conselho de supervisores financeiros, é suposto que as entidades que o formam colaborem da forma mais estreita possível", acrescentou Tavares, sem nunca apontar o dedo ao seu homólogo do supervisor bancário.
Antes, o presidente da CMVM já tinha relatado aos deputados o que o levou a determinar a suspensão da negociação em bolsa dos títulos do BES no dia 01 de agosto.
"O governador contactou-me às 15:12 dizendo apenas que receava que houvesse uma fuga de informação", revelou.
O governador do BdP, Carlos Costa, havia dito na sua audição no parlamento, na segunda-feira, que tinha ligado a Carlos Tavares nessa tarde de 01 de agosto, sexta-feira - dois dias antes de ser conhecida a medida de resolução para o BES -, pedindo a suspensão da negociação das ações do BES.
Nesse dia, o banco bateu um novo mínimo histórico, descendo até aos 0,105 euros, uma queda de quase 50%.
Perante a pergunta sobre se o governador do BdP lhe tinha dito o que se passava no BES durante o telefonema que lhe dirigiu a 01 de agosto, Carlos Tavares disse que não.
"Nem eu lhe pedi. Se há a indicação para suspender a negociação, não há tempo para grandes conversas", sublinhou.
Tavares disse ainda que, nessa data, se encontrava a gozar o seu "direito constitucional a férias".
E relatou: "Estávamos a uma hora do fecho do mercado, não fazia sentido suspender a cotação por estar a descer muito. Como não o fazemos quando está a subir muito".
O presidente da CMVM especificou ainda que quem interrompe a negociação de ações é a gestora da bolsa portuguesa, Euronext Lisboa, por ordem do supervisor do mercado.
Já quanto à importância da conversa com o governador do BdP na decisão de abertura de um processo de investigação sobre eventual abuso de informação privilegiada, Tavares negou-a.
"Essa investigação abrange um período longo. O ano de 2014 é cheio de factos relevantes em relação ao Grupo Espírito Santo [GES]", vincou.
A comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES arrancou na segunda-feira e no total serão ouvidas cerca de 130 personalidades ligadas direta e indiretamente ao assunto.
Carlos Tavares, a ser ouvido desde as 15:00, é a segunda personalidade que presta hoje esclarecimentos, depois de o presidente do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), José Almaça, ter estado no parlamento hoje de manhã.
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