Eleições Estados Unidos. O muito que separa Harris de Trump

Eleições Estados Unidos. O muito que separa Harris de Trump
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Porto Canal

O que une os programas eleitorais da candidata democrata à presidência dos EUA, Kamala Harris, ao adversário republicano, Donald Trump, é muito pouco ou quase nada, tais as diferenças ideológicas e programáticas.

Eis uma súmula das posições de ambos os candidatos nos temas que têm dominado os comícios de campanha e as entrevistas aos 'media' dos candidatos que se vão enfrentar nas urnas no dia 05 de novembro:

 

Acesso ao aborto

Este é um dos pontos mais populares das propostas democratas, depois de a atual vice-Presidente se ter assumido como uma entusiasmada defensora do alargamento dos direitos reprodutivos.

Harris defende nova legislação federal que salvaguarde o acesso ao aborto em todo o país, impedindo que os governos estaduais tenham liberdade para impor as suas propostas, como tem vindo a defender Trump.

"Quando o Congresso aprovar uma lei para restaurar as liberdades reprodutivas, como Presidente dos Estados Unidos, vou assiná-la", prometeu Harris num comício de campanha em Atlanta, Geórgia.

O candidato republicano gaba-se de ter sido responsável pela escolha dos três juízes conservadores que revogaram a lei que dava ao Governo federal a prerrogativa de estender o acesso ao aborto em todo o país, em 2020.

Trump quer que os governos estaduais tenham liberdade para escolher as suas próprias leis sobre o acesso ao aborto, apesar de o seu candidato a vice-Presidente, J.D. Vance, ser bem mais radical nesta matéria, depois de ter defendido que esse acesso deveria ser fortemente limitado em todo o país

Nesta fase final de campanha, ambos têm moderado os discursos sobre esta matéria, percebendo que esta é uma das bandeiras eleitorais eficazes para os democratas, mas procurando ao mesmo tempo não alienar a base mais conservadora do seu partido.

 

Imigração 

Os republicanos cunharam a expressão "czar da imigração" para Harris, acusando-a de ser responsável pelo aumento da imigração ilegal, enquanto vice de Joe Biden, e denunciando a sua incapacidade para travar a escalada de descontrolo nas entradas, em particular na fronteira com o México.

Harris tem repetido a intenção de manter o plano da presidência Biden para a imigração, no que diz respeito ao projeto de lei de segurança fronteiriça, que teve mesmo um acordo bipartidário no Congresso.

A candidata democrata lembra que os republicanos se comprometeram com esse plano, incluindo o investimento de centenas de milhões de dólares para a construção de mecanismos de segurança nas linhas de fronteira (incluindo o muro que foi e é uma das bandeiras de campanha de Trump).

Harris promete aumentar a construção de lares de receção para requerentes de asilo, limitar a liberdade condicional humanitária e alargar competências às forças de fronteira para deportar migrantes que não cumpram requisitos mínimos.

Numa posição mais forte do que as que assumiu no passado, e mais próxima da posição dos republicanos, Harris promete endurecer as consequências de todos aqueles que tentarem atravessar ilegalmente a fronteira.

O controlo da imigração ilegal é a principal prioridade de campanha do candidato republicano, que promete continuar a construção do muro na fronteira com o México e travar a entrada de pessoas não autorizadas, depois de o número de passagens fronteiriças ter atingido números recorde em 2023.

Trump promete também as maiores deportações em massa de imigrantes ilegais de sempre, com o seu candidato a vice, JD Vance, a dizer que a Casa Branca, sob controlo republicano, utilizará as primeiras semanas de mandato para deportar mais de um milhão de pessoas.

No programa eleitoral republicano, os filhos de residentes não documentados também deixam de ser elegíveis para a cidadania.

Crime

A candidata democrata tem um longo historial de apoio a normas de segurança no acesso a armas, desde o tempo em que foi procuradora-geral na Califórnia, onde defendeu leis estaduais restritivas.

No combate ao crime, Harris considera que as atuais leis são adequadas e suficientes, e critica os republicanos por defenderem leis mais duras e um excesso de investimento nas forças de segurança.

Em campanha eleitoral, Harris promete mais recursos federais para implementar leis de controlo de acesso às armas, negando-o a todos aqueles que, comprovadamente, possam causar danos a si próprios ou a terceiros.

Harris anunciou ainda a atribuição de fundos aos governos estaduais para programas de controlo de violência e promete a proibição de armas de assalto e de carregadores de alta capacidade.

O candidato republicano elegeu o combate à criminalidade como uma das suas principais bandeiras, prometendo eliminar um elevado número de cartéis de droga e de grupos violentos organizados, dando mais meios às forças policiais.

Trump acusa os democratas de quererem retirar fundos para as forças de segurança e promete mais esquemas de policiamento de proximidade.

 

Economia

A equipa de Kamala Harris já admitiu que o objetivo é encontrar o ponto de equilíbrio entre a estratégia desenvolvida pelo atual Presidente, Joe Biden, de quem é vice, e uma nova visão para os Estados Unidos.

Harris promete prosseguir o trajeto de grandes investimentos em infraestruturas e na energia verde, que foi um ponto de honra do Governo de Biden, prometendo manter um rumo de crescimento e de criação de emprego.

Contudo, Harris promete também lutar contra o aumento da inflação, tentando acertar estratégias com a Reserva Federal para ser possível descer as taxas de juro, assegurando que a classe média vai pagar menos impostos, porque estes vão ser acentuados para os mais ricos dos ricos.

Em termos práticos, a candidata democrata promete ainda ajuda hipotecária a quem compra casa pela primeira vez, bem como créditos fiscais e controlo de preços de bens essenciais.

A principal promessa eleitoral do candidato republicano na área económica é "travar a fundo" na subida da inflação, que considera ser um dos principais "pesadelos das famílias trabalhadoras".

"Vou tornar a América acessível de novo", tem prometido Trump nos seus comícios, dirigindo-se aos norte-americanos que acusam Biden de lhes ter dificultado a vida economicamente.

Para obter ganhos de produtividade na economia, Trump promete expandir a produção de energia, em particular de energia fóssil, promovendo a perfuração de petróleo, ao mesmo tempo que acusa a sua adversária democrata de tentar impedir esta estratégia, "a todo o custo, mesmo a custo do bem-estar dos norte-americanos".

Trump assegura ainda que vai diminuir o preço da habitação, o que tenciona atingir impedindo os imigrantes ilegais de ter acesso a hipotecas.

 

Impostos

O candidato republicano promete continuar a sua política de cortes nos impostos que introduziu durante a sua passagem pela Casa Branca (2017-2021), prolongando alguns desses cortes e introduzindo novos pacotes de revisão fiscal.

Trump garante que as primeiras semanas do seu mandato serão ocupadas a fazer "a maior revisão fiscal das últimas décadas", simplificando o código fiscal e apostando em ajudar as pequenas e médias empresas, bem como as grandes empresas que deslocalizem operações para território norte-americano.

Os cortes de impostos mais radicais ficam reservados para essas grandes empresas e para os mais ricos, sob o ruidoso protesto do Partido Democrata, que o acusa de querer tornar os ricos ainda mais ricos à custa dos pobres.

Trump promete ainda reduzir em um ponto percentual o imposto direto sobre as empresas, descendo para 15%.

Para a classe média, o republicano promete também reduzir o imposto sobre rendimento, nesta área estando sintonizado com as propostas democratas.

Trump quer ainda eliminar os impostos sobre pagamentos para a Segurança Social, no âmbito da sua reforma de pensões.

A candidata democrata promete um programa fiscal progressivo, revertendo algumas das propostas com que se apresentou aos eleitores em 2020, na candidatura presidencial de Joe Biden (onde tinha apresentado taxas de IRC que chegavam aos 35%).

Este ano, Harris defende um corte de impostos para a classe média, que assegura ir beneficiar mais de 100 milhões de norte-americanos, incluindo a reposição do Crédito Fiscal por Filhos e o Crédito Fiscal sobre o Rendimento do Trabalho.

A democrata segue algumas das linhas de rumo que a Casa Branca definiu nos últimos 12 meses, incluindo a promessa de não aumentar os impostos dos contribuintes que ganhem menos de 400 mil dólares (cerca de 380 mil euros) anuais.

A equipa de Kamala tem trabalhado com alguns economistas e congressistas da ala mais radical (à esquerda) do Partido Democrata, incluindo o ex-candidato presidencial Bernie Sanders, para, no campo da segurança social, conseguir aumentar as ajudas para os mais idosos, através de um novo imposto sobre investimentos financeiros.

 

Comércio

O candidato republicano promete manter a trajetória de endurecimento da política de tarifas sobre bens importados da Europa e, em particular, da China.

Estas medidas, em parte, foram mantidas (e em alguns casos ampliadas) pelo atual Presidente, Joe Biden, mas Trump quer agora um reforço de taxas em diversos setores, alegando a necessidade de fortalecer a competitividade da economia norte-americana.

Trump propõe novas tarifas, de 10% a 20%, sobre muitos produtos estrangeiros, com os oriundos da China a poderem chegar a taxas de 60%, procurando acabar com externalização de vários setores económicos.

A candidata democrata tem procurado evitar respostas muito assertivas sobre a política de comércio externo, mas condena a intenção de Trump de agravar as tarifas sobre produtos estrangeiros, considerando que essa forma de hostilização da China pode ser contraproducente.

Contudo, Harris não se compromete com a eliminação de algumas das atuais tarifas, nomeadamente aquelas que foram aplicadas pela atual Casa Branca, de que faz parte, alegando que uma rutura total com o atual modelo poderia provocar consequências dramáticas na economia dos EUA.

Ainda assim, a democrata tem elogiado um espírito de maior cooperação económica com os aliados europeus, deixando a entender que tentará evitar confrontos negociais passados, mas sem se comprometer com medidas concretas neste setor.

 

Clima

A candidata democrata quer incentivar a participação dos Estados Unidos em diversos acordos internacionais para combater as alterações climáticas, alegando que este problema apenas pode ser travado a nível global.

Harris tem sido muito criticada por Trump, que a acusa de prejudicar vários setores económicos do país por querer travar a exploração de energia fóssil.

Depois de algumas hesitações nesta área (o chamado 'fracking'), Harris acabou por assumir a sua posição a favor de energias verdes e renováveis, prometendo milhares de milhões de dólares e créditos fiscais para programas de combate às alterações climáticas.

O candidato republicano insiste em querer continuar o seu trabalho (interrompido depois da sua saída da Casa Branca, em 2021) de reverter proteções ambientais, incluindo limites às emissões de dióxido de carbono.

Para um novo mandato, Trump quer novos cortes de regulamentação no setor ambiental, alegando querer ajudar a indústria automóvel nacional, criticando a aposta nos veículos elétricos.

Trump promete que os Estados Unidos abandonarão alguns dos tratados internacionais para o combate às alterações climáticas.

 

Gaza e Israel

A candidata democrata é uma fervorosa defensora da solução de dois estados e tem pedido o fim imediato da guerra em Gaza.

Ao mesmo tempo, Harris disse estar empenhada em garantir que Israel não será ameaçada por inimigos externos, em particular pelo Irão, seguindo a trajetória defendida pelo Presidente Joe Biden, mas condena os excessos do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tal com o atual inquilino da Casa Branca.

No entanto, Harris não acompanha o apelo ao embargo de armas a Israel, desejado pelos setores mais à esquerda do Partido Democrata.

O candidato republicano tem mostrado ser um apoiante incondicional de Israel, condenando veementemente os apoiantes da causa palestiniana.

Contudo, Trump tem mostrado sérias reservas sobre a forma como o Governo israelita tem conduzido a guerra na Faixa de Gaza, garantindo que os problemas no enclave palestiniano nunca teriam acontecido se ele tivesse permanecido na Casa Branca.

Trump continua a dizer que uma das suas melhores decisões foi ter deslocado a embaixada dos EUA para Jerusalém, apesar da ira palestiniana com essa decisão.

 

NATO

O candidato republicano assume frontalmente uma postura mais isolacionista para os Estados Unidos, prometendo que afastará o país de um envolvimento direto nos principais conflitos mundiais, através de um progressivo afastamento relativamente à NATO e aos aliados europeus, mas também no Indo-Pacífico, com os seus aliados regionais, Austrália e Japão.

Trump promete continuar a pressionar os parceiros da Aliança Atlântica a cumprir o financiamento estipulado pelo tratado da organização, com um investimento acima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), ameaçando mesmo deixar os países que não o façam por sua conta e risco no caso de ameaças externas.

A candidata democrata mostra-se recetiva em reforçar a unidade da Aliança Atlântica, criticando Trump pelas ameaças feitas aos aliados europeus e assegurando que os Estados Unidos zelarão pela integridade territorial de todos os países-membros.

Em fevereiro deste ano, durante a Conferência de Segurança de Munique, Harris disse mesmo que a NATO deve ser alargada, para se tornar uma plataforma de defesa ainda mais temida pelos potenciais inimigos, em particular no leste da Europa.

Harris garantiu que a NATO prosseguirá o trajeto de fortalecimento de ligações políticas e pediu ainda uma modernização dos seus planos de defesa, para se adaptar às novas realidades das guerras híbridas, combatendo fenómenos como a desinformação, e preparando-se para o desafio da Inteligência Artificial (AI) no campo militar.

 

Ucrânia 

A candidata democrata promete apoiar Kiev "durante o tempo que for necessário, prometendo influenciar o Congresso federal para continuar a aprovar pacotes de ajuda militar e financeira.

Harris disse ainda estar empenhada em encontrar soluções para o "enorme desafio" de recuperar a Ucrânia após o fim da invasão russa, argumentando que a fatura dessa empreitada deve ser apresentada a Moscovo.

O candidato republicano tem repetido muitas vezes em comícios que conhece o Presidente ucraniano, Volodymyz Zelensky, e o Presidente russo, Vladimir Putin, assegurando que, se for eleito de novo para a Casa Branca, coloca um fim ao conflito em 24 horas, com um par de telefonemas.

"Penso que é do interesse dos Estados Unidos por fim a esta invasão. E tenho a certeza de que o conseguirei, negociando um acordo", disse Trump, sem dar mais pormenores do seu plano e apesar de o Kremlin já ter reagido dizendo que "nada pode ser feito em apenas 24 horas".

Trump promete ainda acabar com os pacotes de ajuda militar e financeira a Kiev, dizendo que vai usar esse dinheiro para financiar projetos de defesa e financiar setores de economia que se confrontam com os adversários económicos, China e União Europeia.

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