Há em Portugal um crescimento acelerado de pequenos empresários imigrantes, a maioria brasileiros

Há em Portugal um crescimento acelerado de pequenos empresários imigrantes, a maioria brasileiros
| Economia
Porto Canal / Agências

O número de pequenos empresários imigrantes cresceu a um ritmo acelerado na associação Empreendedores Vencedores, passando de 25 elementos em 2020 para 700 hoje, com brasileiros e mulheres em maioria, disse à Lusa a sua fundadora.

No início, "éramos 25 mulheres e a base foi um grupo que se conheceu numa formação no CNAI [Centro Nacional de Apoio ao Imigrante], hoje já somos mais de 700 pessoas, que se contactam num grupo do whatsapp diariamente, trocando experiências e fazendo a divulgação do trabalho uns dos outros", afirmou Andréa Santos.

A responsável adiantou que, nas redes sociais, a associação já conta com mais de 4.000 seguidores no Instagram e praticamente 2.500 no Facebook.

Para a presidente da Empreendedores Vencedores, este aumento explica-se em boa parte pelo crescimento da comunidade imigrante brasileira em Portugal, mas também pela capacidade de arriscar dos brasileiros. Por isso, estão em "grande maioria" na associação, representando já 72% dos pequenos e médios empresários que dela fazem parte, frisou.

“Os brasileiros são mais destemidos do que criativos”, frisou, o que na sua opinião se torna por vezes até "um pouquinho perigoso”.

Os outros aspetos que, no seu entender, contribuíram para o crescimento e fortalecimento da associação foram os resultados da rede de 'networking' criada no whatsapp, a educação para os empreendedores, desenvolvida às quartas-feiras, com palestras 'online', e as feiras durante dois anos no Mercado da Vila, em Cascais, que despertaram o interesse e adesão de novos elementos.

"A maior das maiores dificuldades para estas pessoas é ser reconhecida, ter contactos", o que a rede de 'networking' da associação lhes oferece, sublinhou.

Há uma prática em que "cada um escolhe ser o comercial de três outras pessoas do grupo e passa 30 a 40 dias fazendo a função de um verdadeiro comercial daquele empreendedor", explicou. Ou também um contabilista a ajudar os empreendedores do grupo.

"Cada um vai fazendo o seu nome através da sua doação. E não é doar dinheiro, é doar apoio aos outros empreendedores", mas sempre com o objetivo de vender para fora do grupo, salientou.

A educação empreendedora, que se traduz em ‘workshops’, palestras, com especialistas em diversas áreas todas as quartas-feiras é a outra vantagem que os empreendedores encontram, realçou.

"Das 700 pessoas que temos hoje, posso dizer que metade veio pela educação empreendedora e a outra metade veio pelas feiras", afirmou Andréa Santos, ela própria empresária.

Quanto ao facto de 93% dos 700 empreendedores serem mulheres, a presidente explica que isso tem a ver com o modo como estas emigram. "As mulheres emigram de duas formas, ou com a família, ou porque tiveram uma separação ou algo assim que fez com que a família se separasse e elas decidem fazer alguma coisa diferente na vida e dar uma educação melhor para os filhos", continuou.

Por isso, "entre os empreendedores há muitas famílias monoparentais", frisou, acrescentando que "mesmo as que vêm com apoio dos maridos acabam se colocando mais rápido como empreendedoras", pela necessidade de criarem uma forma de sustento para a família.

Isto também pode explicar que a maioria dos negócios dos empreendedores se divide por três áreas: gastronomia, acessórios femininos, o que inclui roupas, e a do bem-estar, que abrange terapias olísticas, saúde, beleza e estética.

A maioria dos pequenos e médios investidores, em geral, diz que têm entre 40 e 60 anos de idade e poucos recorrem a crédito, adiantou. “Começam com o um investimento inicial pequeno”, que ronda os 2.000 euros, e “crescem organicamente”. A maioria tem um faturação que oscila entre os 100 e os 2.500 euros.

A associação Empreendedores Vencedores nasceu em 2020, durante a pandemia de covid-19, porque quando emigrou para Portugal e quis entrar no mercado português, como empresária, Andréa sentiu como maior dificuldade "a falta de pessoas que confiassem" na qualidade do seu trabalho.

"A associação surgiu a partir da necessidade de conectar pessoas, para que a gente pudesse fazer o boca a boca e uma ajudar a outra a divulgar os seus negócios", concluiu. E as pessoas, por seu lado, sentiram-se "acolhidas e viram uma janela para serem vistas" em Portugal, destacou.

Hoje, a associação já não é só para brasileiros e outros imigrantes, mas também para pequenos e médios empreendedores portugueses, que já representam 24% das pessoas da associação. E ainda há venezuelanos, espanhóis, moçambicanos e argentinos, disse. Além disso a organização ultrapassou fronteiras e já tem uma parcela de empreendedores brasileiros que estão no Reino Unido e em Espanha.

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