Radiação ultravioleta C pode ajudar a combater pragas nas vinhas do Douro
Porto Canal/Agências
O projeto “UVineSafe” propõe combater pragas e doenças da vinha recorrendo a um protótipo com radiação ultravioleta C (UV-C), que estimula as defesas naturais das videiras, e quer reduzir a utilização de químicos, foi anunciado esta segunda-feira.
“Queremos estimular as defesas naturais das videiras e, para isso, vamos selecionar a melhor combinação dose-frequência de radiação UV-C, sem provocar efeitos secundários, ao mesmo tempo que asseguramos a qualidade da uva”, afirmou, citada em comunicado, Lia-Tânia Dinis, coordenadora do projeto e investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O estudo, que tem arranque previsto para o início do próximo ano, vai incidir numa parcela de vinha da Fundação Casa de Mateus, em Vila Real.
“A praga sobre a qual vamos incidir este estudo é a traça-da-uva, uma das mais preocupantes para os viticultores. No entanto, existem outras pragas que também afetam as vinhas, como o ácaro-da-vinha, a cigarrinha-verde, a filoxera e a cochonilha”, explicou Lia-Tânia Dinis.
A responsável realçou que “cada uma dessas pragas pode causar danos significativos à produção, comprometendo a qualidade e a quantidade das uvas”.
A traça-da-uva é considerada uma das principais pragas das vinhas da Região Demarcada do Douro (RDD) porque pode provocar quebras de produção e potenciar a instalação da podridão cinzenta.
A equipa do CITAB vai contar, no terreno, com a ajuda de um protótipo que percorrerá os valados. Este equipamento tem a forma de um túnel, revestido com as lâmpadas UV-C, e encontra-se em fase de otimização e desenvolvimento pelas empresas parceiras do projeto, Castros e Matglow.
“Comparativamente com a radiação UV-B, as lâmpadas de UV-C apresentam um comprimento de onda mais curto, sendo necessário um menor tempo de aplicação para alcançar o mesmo efeito. No caso da vinha, estamos a falar de apenas uns segundos de exposição”, apontou a coordenadora do projeto.
À agência Lusa a investigadora explicou que já existem estudos sobre a utilização da radiação ultravioleta com efeito germicida, inclusive para desinfeção de superfícies ou adegas.
“E se tem um efeito desinfetante nas adegas, porque não tentar utilizá-lo para desinfetar a vinha”, salientou.
Esta, acrescentou, é uma “medida preventiva”, pois pretende-se que os “raios UV-C estimulem as defesas e confiram mais resistência” à planta.
A investigadora destacou que um dos principais objetivos é conseguir reduzir a utilização dos químicos, indo ao encontro das diretrizes da União Europeia, e apontou ao aumento do preço dos produtos e a cada vez maior resistência dos micro-organismos aos fitofármacos.
Mas, ao mesmo tempo quer-se ainda reduzir o número de aplicações e a compactação do solo e aumentar a biodiversidade.
A radiação UV-C será aplicada ao final do dia e, numa fase inicial, os testes serão feitos na casta sauvignon, por ser uma casta muito comercial e suscetível a doenças.
Durante o estudo, serão analisados diferentes parâmetros, nomeadamente diferentes dosagens e modalidades de aplicação.
No âmbito do projeto será feita uma recolha contínua de dados climáticos e da previsão das condições ideais para o desenvolvimento de pragas e doenças, o que permitirá “a aplicação de radiação UV-C em momentos-chave, que maximizem a sua eficácia”.
De acordo com o comunicado, nos últimos anos e por causa dos efeitos das alterações climáticas, aumentou a incidência de pragas e doenças na vinha.
A contribuir para este aumento estão também a intensificação do cultivo da vinha e a globalização, que facilita a entrada de novas pragas vindas de outras regiões.
Financiado em 250 mil euros pelo Banco Português de Investimento (BPI) - Fundação “La Caixa”, o “UVineSafe” decorre até 2028 e junta ainda ao CITAB a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).