Vitória da esquerda acabou em confrontos entre manifestantes e polícia francesa. Imagens mostram rasto de destruição
Porto Canal / Agências
Milhares de parisienses encheram a praça da República para festejar a vitória da esquerda nas eleições legislativas, numa manifestação marcada por confrontos com a polícia, que acabou por usar gás lacrimogéneo.
Durante toda a manifestação, a praça esteve rodeada por um forte perímetro de segurança, com carrinhas e polícias de choque a controlarem todos os acessos à praça, equipados com capacetes e escudos de proteção.
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Muitas pessoas com máscaras foram atirando petardos e garrafas contra as forças de segurança, tendo incendiando lixos e bicicletas. Em resposta, a polícia lançou gás lacrimogéneo, acabando por dispersar, por volta das 00h00 (23h00 em Portugal) a grande maioria da multidão que se encontrava na praça.
Antes destes confrontos, milhares de pessoas encheram a praça para celebrar a vitória da esquerda nas eleições legislativas, com bandeiras da coligação de esquerda Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês), assim como bandeiras de França, de Marrocos, Argélia ou com o arco-íris representativo do movimento LGBT.
Armande, de 30 anos, veio para a manifestação com um cartaz em que escreveu “Contamos convosco”, salientando que “quer muito” que a coligação de esquerda cumpra o seu programa, mas salientando que, na história recente, os socialistas não governaram à esquerda.
“Estou contente que a esquerda tenha ganho e que os partidos que se juntaram compreendam que as pessoas que votaram neles fizeram-no porque tiveram esperança de que funcionasse”, salientou.
Entre estes manifestantes, muitos apelaram a que a coligação de esquerda se mantenha nos próximos tempos e, sobretudo, que governe com base no programa com que se apresentou, com muita gente a recordar a “política de direita” que consideraram ter sido implementada pelo último Presidente da República socialista, François Hollande.
Selon la préfecture de police des Bouches du Rhône, 5000 personnes défilent dans les rues de Marseille à l’issue des résultats des élections législatives. pic.twitter.com/rV69s1hjKI
— Mathilde Ceilles (@MathildeCeilles) July 7, 2024
“Esperemos que as reformas que prometeram, sejam verdadeiramente implementadas. A esquerda tem de governar, mas tem de governar com verdadeiras ideias de esquerda e não perder-se como aconteceu com o Partido Socialista. Nós vamos estar aqui para verificar”, disse à Lusa Jonathan Alves, de 37 anos, e que veio para a manifestação com um lenço palestiniano à volta do pescoço.
Também Vincent, de 32 anos, diz que espera que, “por uma vez, os partidos sociais-democratas não traiam a sua palavra” e garantam que “regulam o capitalismo e repartam de outra maneira as riquezas do país”.
“Há um programa que permite dirigir o país e agora cabe ao senhor Macron render-se à evidência e aceitar o voto dos franceses, que votaram por este programa”, acrescenta, numa manifestação em que também se ouviram alguns pedidos de demissão do Presidente da República.
Para a maioria destes apoiantes da esquerda entrevistados pela Lusa, a vitória desta noite foi “completamente inesperada”. Clara, de 27 anos, admite mesmo que nem sequer ligou a televisão porque “tinha a certeza” que ia ver uma vitória da União Nacional. Mas agora disse que tinha quatro razões para festejar.
“A primeira é que a extrema-direita não teve a maioria absoluta, a segunda é porque não teve maioria de todo, a terceira é porque teve um resultado da treta e a quarta porque a esquerda ganhou. Por isso, estou aqui para celebrar esta vitória que vale por quatro”, salienta.
Já Michelle, de 67 anos, veio sobretudo à Praça da República festejar que hoje se tenha criado “a esperança numa mudança” no país e pediu agora que a esquerda faça política de “uma forma diferente”.
“É preciso fazer as coisas de maneira mais democrática. Acho que hoje surge a possibilidade de haver um Governo de esquerda, mas mais ao centro, e que governe de uma forma diferente da de Macron”, sublinhou.