“Não há uma relação direta entre aquilo que é insegurança e imigração”, afirma ‘vice’ da Câmara do Porto
Pedro Benjamim
O vice-presidente da Câmara do Porto defende que “não há uma relação direta entre aquilo que é insegurança e imigração”. Filipe Araújo falava na Assembleia Municipal após uma intervenção do deputado do Chega.
“O Porto é uma cidade de liberdade, o Porto é uma cidade de tolerância e de abertura”, frisou Araújo afirmando que “quanto à segurança, aquilo que nos importa é que haja mais segurança para todos, independentemente da nacionalidade”, demonstrando as posições do executivo da Câmara do Porto.
A resposta de Filipe Araújo surgiu depois de o deputado do Chega afirmar que “os cidadãos sentem insegurança”. Sem demonstrar dados, Jerónimo Fernandes frisou que “há um aumento da criminalidade, pelo menos, percebida”.
“Para não dar oportunidade que os cidadãos tomem em mãos a defesa daquilo que consideram a ameaça à sua segurança e à sua integridade, o que a todos os títulos não é de aceitar e se deve reprimir vigorosamente. Ninguém está aqui a dar razão aos cidadãos que tomam em mãos querer fazer cumprir a lei pela sua própria iniciativa. É da responsabilidade das autoridades prevenir as situações que levam a que estes cidadãos tenham essa leitura dos acontecimentos”, disse o deputado do Chega falando dos atos de violência contra imigrantes no Campo 24 de agosto no início de maio.
O líder da bancada do Movimento Rui Moreira, Raúl Almeida, em resposta destacou três problemas da cidade. Em primeiro lugar regulamentar a imigração para “acolher melhor” os imigrantes, também os problemas de criminalidade relacionados com o “crescimento da cidade”, além de destacar o “problema que foi um crime de ódio na nossa cidade”. “Temos um crime de ódio de motivação racista, feito por portugueses de gema”, afirmou.
Em resposta, o deputado do Chega considerou “ousado enveredar por essa tipificação que ainda não foi feita pelas autoridades competentes”. Raúl Almeida vincou, contudo, que “o que aconteceu foi absolutamente terrível e envergonha a nossa cidade, porque somos parte desta cidade e desta sociedade e não podemos tolerar que isto aconteça.”
Já o deputado Rui Lage acusou o deputado do Chega de fazer política com base em sensações. “Se de facto está de boa fé, tem de pelo menos ter o mínimo de seriedade para vir aqui fazer um retrato minimamente fidedigno da realidade da segurança no Porto e há dados disponíveis em profusão para poder fazê-lo. O senhor saberá certamente que em 2022 a criminalidade do Porto é menor que aquela que houve em 2019 e é menor que a de 2013”, afirmou.
Durante a tarde desta segunda-feira Rui Moreira frisou que "é indevido" associar o ataque a imigrantes no Porto "com problemas de imigração". Na ótica do presidente da Câmara do Porto os incidentes ocorridos na cidade Invicta tratam-se de "um crime de ódio". As declarações foram proferidas, na tarde desta seguda-feira, durante um encontro com o Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, de visita ao norte do país.
Noite de violência contra migrantes no Porto
Numa madrugada muito agitada nas ruas do Porto no início do mês de maio, a PSP foi alertada cerca da 1h00 para uma agressão no Campo 24 de agosto, a dois imigrantes, por um grupo de quatro ou cinco homens que fugiu antes da chegada dos agentes da Polícia, começou por descrever o porta-voz, indicando que os dois agredidos foram assistidos no Hospital São João.
Cerca de 10 minutos mais tarde, um pouco mais acima, na Rua do Bonfim, 10 imigrantes foram atacados, na habitação onde estavam, por um grupo de 10 homens, munidos com paus e, a PSP não conseguiu confirmar, por uma arma de fogo, continuou Sérgio Soares.
Três dos agredidos foram conduzidos ao Hospital São João, disse.
Ainda segundo o responsável da PSP, cerca das 3h00, na Rua Fernandes Tomás, outro imigrante foi também agredido, por outros suspeitos, sendo que um deles usava uma arma de fogo.
Nesta altura, com o contingente de polícias reforçado foi, então, possível intercetar um dos suspeitos de agressão na Rua Santo Ildefonso, na posse de um bastão extensível, relatou.
Cerca das 5h00, fruto das diligências operadas pela PSP foi intercetada a viatura usada no ataque da 1h00, com cinco suspeitos no interior e que foram todos identificados, acrescentou Sérgio Soares.
A PSP deu conhecimento da ocorrência ao Ministério Público e, dada a suspeita de existência de crime de ódio, o assunto transitou para a Polícia Judiciária, concluiu.