Infiltrações, graffitis e lixo. Qual o futuro do “Sanatório de Valongo”, em Gondomar?

Infiltrações, graffitis e lixo. Qual o futuro do “Sanatório de Valongo”, em Gondomar?
Porto Canal
| Porto
Catarina Cunha

Construído em 1932 e inaugurado em 1958, o “colossal” edifício do Sanatório do Monte’Alto está abandonado há mais de 50 anos mas o seu destino, apesar de inúmeros esforços, mantém-se incerto. Apesar de estar situado na freguesia de São Pedro da Cova, Gondomar, é conhecido por milhares de pessoas como antigo “Sanatório de Valongo”.

O caminho até ao edifício é feito entre caminhos de terra batida e paralelo desgastado. De um dos lados da estrada é possível contemplar os contornos da cidade do Porto e do outro a imensidão do Monte da Santa Justa, um dos três pontos de maior elevação das Serras de Valongo. Ao fundo, a imponente estrutura de seis andares, construída em granito e betão armado, apresenta uma palete de cores que é fruto de graffitis que foram ali desenhados ao longo de décadas. As janelas, todas elas degradadas e escancaradas, são o cartão de visita de uma construção esquecida no tempo.

Não há sinal de barreiras ou vedações a impedir a entrada, o que permite o acesso aos mais curiosos. Um “frio característico” confere ao espaço a percepção de uma temperatura interior que é inferior à do exterior, com infiltrações de água que ‘enchem’ o piso de pequenas poças. Os espaços estão vazios, com o tijolo à vista e algum entulho acumulado, sem vestígios que denunciem aquela que foi, outrora, uma unidade de saúde.

O Sanatório de Monte’Alto, mais conhecido por Sanatório de Valongo - apesar de estar localizado em São Pedro da Cova, freguesia pertencente ao município de Gondomar, no distrito do Porto - começou a ganhar forma em 1932, na época de Estado Novo. Foi erigido com o objetivo de tratar os doentes da região Norte infectados com tuberculose, uma doença que naqueles anos muito “abalou” o país.

Desde 1933 que a Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal (ATNP), fundada por António Lopes Rodrigues, é proprietária do edifício, após a doação do terreno por parte da família Sá, os antigos herdeiros. Atualmente, a ATNP é liderada por Eduardo Soares, neto do fundador.

Porto Canal

Documento do lançamento da primeira pedra

Infraestrutura ‘fora do prazo’

Devido à falta de investimento, as obras do edifício prolongaram-se no tempo, o que levou a que as portas do Sanatório só abrissem no final dos anos 50, numa altura em que o flagelo da tuberculose estava mais controlado e a doença era tratada em ambulatório.

Perante esta nova realidade, manter a estrutura em funções representava um grande investimento, o que ditou a decisão de ser decretado o seu encerramento, em 1972. Ao longo dos 16 anos que serviu a população local, o Sanatório recebeu aproximadamente 300 pacientes.

“O fundador não teve meios económicos. Foram sempre iniciativas que resultaram de donativos e de beneméritos”, argumenta Eduardo Soares, admitindo que não há registo histórico do investimento que foi destinado à construção do Sanatório.

Durante os últimos 52 anos, inúmeros projetos para dar uma nova vida ao Sanatório foram colocados em cima da mesa. Entre planos para um novo hospital para os retornados do Ultramar ou um hospital psiquiátrico, nenhuma destas ideias acabaria por avançar, tudo porque “a lei não permite”.

“A doação tinha uma limitação”, conta o diretor, explicando que o novo projeto teria sempre de ser vocacionado para a área da tuberculose.

Volvidas cinco décadas, o futuro do Sanatório continua incerto. A entidade gestora confirmou ao Porto Canal que não tem condições financeiras para avançar com uma requalificação estrutural da estrutura e que pretende encontrar um novo proprietário, seja ele privado ou público, para que seja encontrada uma solução para o espaço.

“Enquanto direção da ATNP, queremos fazer com que o edifício regresse à comunidade para o melhor fim útil possível. Não é um projeto para amanhã”, reforça o presidente, garantindo que até 2026 haverá “um futuro para aquele local”.

“Toda a gente se sente dono” do Sanatório

Hoje em dia, o lugar é utilizado para atividades de lazer, como ‘paintball’ e sessões fotográficas, bem como para a prática de tiro, treino de cães e simulacros das forças de segurança.

A segurança do Sanatório é algo que preocupa os atuais proprietários, que confirmaram ao Porto Canal que o espaço chegou a ser limpo e vedado, mas rapidamente as barreiras foram destruídas.

“Toda a gente hoje se sente um bocadinho dona daquele local para fazer o que lhes apetecer. Entendem que é público, mas está lá no edifício que é privado e que pertence à ATNP”, reforça.

O local escolhido para erguer as paredes do sanatório, a apenas seis quilómetros da cidade do Porto, foi propositado. O contacto com a natureza ajudava no tratamento dos doentes e a distância com os municípios mais próximos, Gondomar, Valongo e Paredes, prevenia o risco de novas infeções.

O espaço de 88 mil metros quadrados, que equivale a nove campos de futebol, foi desenhado por Júlio José de Brito, arquiteto que projetou o Coliseu do Porto e o Teatro Rivoli.

Mas o “Sanatório de Valongo” não é o único edifício degradado naquele local. À sua volta outros edifícios devolutos, como uma escola, uma lavandaria, uma igreja, uma capela e um reservatório de água, fazem desta uma aldeia fantasma rodeada de grandes centros urbanos.

 
 
 
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