Barbearias tradicionais no Porto. Uma espécie em vias de extinção

Barbearias tradicionais no Porto. Uma espécie em vias de extinção
Pedro Benjamim | Porto Canal
| Porto
Alexandre Matos

As barbearias tradicionais no Porto são cada vez mais uma espécie em vias de extinção. A cada ano que passa, são menos as que se mantêm abertas. Entre a vontade de preservar aquilo que é tradicional e a necessidade de se reinventar vive a dicotomia que afeta as barbearias históricas da Invicta.

O panorama das barbearias está, já há largos anos, a mudar. Hoje em dia, muitas das pessoas procuram mais do que só cortar o cabelo. Quem o diz é José Moreira, dono do Salão da Lapa, a barbearia mais antiga do país, fundada em 1865.

“Hoje o cliente vai muito atrás de ver as coisas bem arranjadas, de ver uma instalação moderna.”, contou o barbeiro.

Mas já não é isso que José Moreira quer para o Salão, espaço que comprou em 1966. Vai ficando por lá, na Rua da Lapa, até quando a saúde o permitir. “Enquanto eu mandar nas mãos, não quero outro passatempo”.

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Mas também confessa que apenas consegue manter o espaço aberto porque é o proprietário. “Se agora tivesse que pagar um aluguer atualizado, mais valia ir passear”, diz Moreira, como é conhecido.

O sentimento é o mesmo no Salão Veneza, na Rua Elísio de Melo. Poucos metros antes da entrada para o Túnel de Ceuta, a barbearia vai ficando aberta muito por capricho de Pedro Almeida. Tem 35 anos de casa, e assumiu a gestão depois da saída do anterior dono.

Não é proprietário, mas paga uma renda ainda antiga. “Não conseguia doutra forma”, admite.

E como José Moreira na Lapa, também já não tem interesse em grandes renovações do espaço.

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Vai mantendo o Salão aberto com alguma clientela habitual, muitos que já conhece como a palma da mão, conseguindo também captar alguma clientela estrangeira. “Há algum negócio do turismo, mas já foi melhor”.

Um dos fatores que mais foi afetando o volume de trabalho, que outrora não dava descanso, foi a reconfiguração da Baixa. A saída do comércio tradicional e principalmente dos serviços tirou muitos clientes ao Salão Veneza, conta Pedro Almeida.

E na Barbearia Garrett o discurso não é muito diferente. Acácio Branco, de 86 anos, conta a mesma evolução da cidade. Lembra-se de quando havia milhares de bancários a trabalhar na Avenida dos Aliados, a poucos metros da sua barbearia.

Agora, esses clientes saíram da Baixa, e muitos deixaram de cortar o cabelo na Barbearia Garrett.

Mas nem isso tira o sorriso e a alegria do senhor Branco. Lembra saudosamente o cliente mais famoso que passava pelo espaço na Rua de Ramalho Ortigão – José Maria Pedroto. O antigo treinador e ídolo do FC Porto está imortalizado na Garrett com um mural numa das paredes onde aparece ao lado do próprio Acácio Branco, bem como alguns dos pontos mais conhecidos da cidade do Porto.

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O futuro da barbearia está assegurado, pelo menos no imediato. Quando Acácio quiser sair, o neto André vai assumir a Garrett.

Até lá, o espaço mantém-se como o Salão da Lapa e o Salão Veneza: o mais tradicional que se consegue imaginar, ainda que nem sempre “bem arranjado”, com muitas histórias para contar, mas com mais cadeiras vazias que clientes para as ocupar.

A modernização com o toque clássico

Onde a história já é bem diferente é na Barbearia Tinoco. O espaço, que foi fundado em 1929, está a dois passos da Estação de São Bento, e é hoje uma atração turística.

José Vilas, gestor da barbearia desde 2010, pretende encontrar o equilíbrio entre um espaço que tenha o ar tradicional, mas com um funcionamento já moderno.

“Nós temos de estar sempre atualizados. Se paramos, estagnamos e somos ultrapassados. Mas temos que ser capazes de marcar a diferença. Barbearias há imensas, mas com a história da Tinoco só vais encontrar esta”, acredita.

O espaço esteve recentemente fechado para obras, suportadas ao abrigo do programa “Porto de Tradição”, da Câmara Municipal do Porto, mas José Vilas garante que a essência do espaço se mantém. As cadeiras com décadas de história, os espelhos com a estrutura em bronze, todos os elementos clássicos que tanto caracterizam a Barbearia Tinoco.

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E a diferença no ambiente na Tinoco é claro em relação a outras barbearias que se mantêm com as gerências de largas décadas. São quatro os barbeiros, com José Vilas a tratar da receção e gestão de marcações, e o trabalho não para.

“80% é turismo”, aponta José Vilas, sobre o volume de negócios hoje em dia na barbearia. “Nós temos a sorte estar aqui na Baixa”. Na Rua Sá da Bandeira, onde está a Tinoco, os turistas que por ali passam são inúmeros. E muitos são também os param para fotografar o interior e a fachada.

 
 
 
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