Porto é casa da mais antiga barbearia do país
Porto Canal
Em frente à Igreja da Lapa, no centro do Porto, mora a barbearia mais antiga do país, segundo as contas dos filhos de José Moreira, mais conhecido pelo apelido.
Moreira comprou o espaço em 1966, na altura por 10 contos. Seriam hoje 50 euros. Mas a barbearia tinha já feito um século de existência um ano antes, como mostra uma placa pendurada na parede. “Tem mais de 150 anos. Eu estou aqui há 57. Pelo menos 157 tem”.
Já tinha começado a aprender o ofício aos 18 anos, em Matosinhos, com o primo e tios. A profissão de barbeiro era, afinal, algo que corria no sangue da família.
Numa ida à Baixa, passou pelo espaço, que esteve brevemente fechado enquanto estava à venda, e decidiu gastar todas as suas poupanças na pequena loja no número 56 da Rua da Lapa.
Os anteriores proprietários pediam o dobro, mas engraçaram com o jovem barbeiro e aceitaram a proposta de Moreira.
O início foi mais difícil, admitiu. Com um sorriso na cara, conta a história de um amigo que lhe disse, ao fim de uma semana do Salão da Lapa estar aberto, que não sabia se se ia conseguir “safar”. “Olhe que eu esta semana fiz 250 escudos”, respondeu Moreira, na altura. “Olhe que então talvez se safe”, respondeu o colega.
E safou-se. Começou sozinho, cresceu, ganhou conhecimentos, “fez das tripas coração”. Acabou por passar muito tempo com as três cadeiras que ainda tem no Salão preenchidas, com dois funcionários a trabalhar ao seu lado.
“Tive 20 anos de ouro. Dez antes do euro e dez depois”. Ficou depois sozinho, quando os “funcionários ficaram muito caros”, mas “ainda com muita clientela”.
Moreira, pela janela fora, viu uma cidade inteira a mudar. “Quando vim para aqui, este passeio parecia um formigueiro”, lembrou. “Agora está muito melhor, e ainda vai melhorar mais”, falando das novas construções que se vão erguendo à volta da Lapa.
Quase 58 anos depois, o Salão da Lapa vive até que a saúde de Moreira o permita - de lá de dentro não quer sair, tenha mais ou menos clientela. Não vende a ninguém, e já teve propostas para o fazer, e também não pretende ir para casa descansar.
“Eu não quero outro passatempo. Passo melhor o tempo a trabalhar. Canso-me menos a trabalhar do que a não fazer nada”, conta. “Enquanto eu mandar nas mãos…”
“Não sei fazer mais nada. Só sei cortar cabelos”, confessa. “Ah, e jogar às damas”, ri-se.
Para já, a barbearia mais antiga do país vai-se mantendo pela Baixa do Porto. São praticamente 158 anos de história, numa arte e profissão que já não é propícia a tamanha longinquidade.
Para já, enquanto se mantiver vivo, Moreira “gostava de ver isto a continuar”. Depois, já não vai gostar de nada. “Quando eu morrer isto já não tem valor nenhum para mim”, diz com uma risada.
“Claro que daqui a 100 anos não vou estar aqui”.
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