Camas voadoras, extinção dos cavalos e imortalidade. Como se imaginava 2024 há 100 anos
Porto Canal
“Como será o nosso mundo daqui a 100 anos?”. O início do século passado foi pródigo em previsões utópicas de uma futura humanidade com viagens interplanetárias e ferramentas extraordinárias capazes de mudar o curso dos povos. Nem todas as previsões acertaram, mas algumas tiradas (irrealistas) chegaram mesmo a concretizar-se. Como se imaginava 2024 em 1924?
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No contexto histórico, fazia sentido acreditar-se numa evolução tecnológica nunca antes vista no início dos anos 1900 – afinal de contas, todas as viragens de século estimulam a imaginação do ser humano. Mas a Grande Guerra (1914-1918) marcou um avanço determinante das ferramentas ao nosso dispor: foi nesta época que se popularizaram os aviões modernos e os tanques, se inventou a máquina de raio-X, o aço inoxidável, a rádio sem fios, os fertilizantes industriais e até o horário de verão.
Os loucos anos 20 trouxeram uma fé inabalável na modernidade e o culto das máquinas, e com elas a ideia de progresso da humanidade. Passou a ser popular os grandes jornais perguntarem às pessoas como seria o mundo em 100 anos. Aqui estão algumas respostas, mais ou menos imaginativas.
Horses will no longer exist pic.twitter.com/eBGjp42Agu
— Paul Fairie (@paulisci) January 1, 2024
A extinção dos cavalos
Em 1924, o jornal americano The Folsom Telegraph trazia uma reportagem sobre a futura extinção dos cavalos. A teoria era simples: à velocidade a que o número destes animais diminuía no mundo, o último cavalo deveria morrer antes de 2024.
A verdade era que a utilidade dos cavalos mingava de dia para dia no início do século XX. Eram pouco utilizados em quintas como animal de trabalho, e o carro era cada vez mais popular como forma preferencial de deslocação.
A extinção dos cavalos pode não ser uma realidade, com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura a estimar a população de equinos no mundo em quase 60 milhões de animais. Mas 2018 marcou o fim dos cavalos selvagens no planeta.
Autoestradas nos centros das cidades
“Na cidade de 2024, vão existir estradas com três andares, autoestradas no centro das cidades e arranha-céus com as suas próprias entradas de carro até 15 pisos de altura (..) o avião vai substituir o carro como meio de transporte preferido”.
Via rápida construída na praia de Alexandria, Egito, iniciada em junho de 2022
Nem tudo estava errado na previsão de mobilidade das grandes cidades de 1924 do jornal Anaconda Standard. Por um lado, intuía-se a popularização do sistema de metro nos grandes centros urbanos. E as autoestradas pelos centros das cidades não é uma previsão inteiramente ao lado, com exemplos de vias a rasgar centros urbanos nos Estados Unidos ou o conhecido caso da autoestrada costeira de Alexandria, no Egito.
Camas voadoras
Num artigo humorístico publicado na revista americana Girls’ School Magazine, em 1924, imaginava-se o fim dos despertadores em troca de uma cama voadora capaz de despejar as crianças mais preguiçosas diretamente no chão da cozinha, prontas para o pequeno almoço.
As cadeiras da escola seriam aquecidas eletricamente, os autocarros seriam capazes de voar – convenientemente designados de aeroautocarros – e as aulas seriam dadas através de lições áudio por gramofones na sala de aula.
O atrofiamento das pernas do ser-humano
Qual é a necessidade dos membros inferiores para os humanos num futuro em que vamos de carro para todo o lado, existem elevadores que substituem as escadas, e estamos sentados todos os dias num escritório a trabalhar?
A previsão de 1924 era que a falta de utilização levasse ao atrofio generalizado das pernas humanas, a um ponto em que deixassem de ser úteis no dia-a-dia.
Men's legs will wither away from underuse pic.twitter.com/24SaV1UzzR
— Paul Fairie (@paulisci) January 1, 2024
Imortalidade vai ser realidade?
Ser capaz de viver para sempre podia não ser um resultado possível, mas o enorme aumento da esperança média de vida era uma previsão comum em 1924. O deputado britânico conservador Kingsley Wood acreditava, no início do século XX, que o ser humano vivesse confortavelmente até aos 100 anos de idade. Uma pessoa com 75 seria, então, considerada jovem.
Álbuns de fotografias transformados em vídeo
Uma previsão que acertou em cheio? Na edição de 12 de maio de 1924, o diário Evening Sun defendia que os álbuns de fotografias das famílias teriam os dias contados. Em vez disso, um aparelho tecnológico com capacidade de suportar e reproduzir vídeo seria a escolha perfeita para famílias e amigos partilharem memórias e recordações. Será que este jornal americano imaginava um smartphone como nos dias de hoje?