Ex-piloto da TAP analisa acidente entre dois aviões no Japão que fez cinco mortos
Pedro Benjamim
Um avião da Japan Airlines colidiu, esta terça-feira, com uma aeronave da Guarda Costeira japonesa, quando aterrava no aeroporto de Haneda, no Japão. Morreram cinco oficiais da Guarda Costeira japonesa, avança a NHK citando fonte da polícia. Os militares estavam a bordo do DHC-8, avião militar que estava no início da pista. Não houve registo de qualquer morte entre as cerca de 400 pessoas que iam a bordo do airbus A350 da Japan Airlines.
“Só não foi uma catástrofe de dimensões bíblicas – chamemos-lhe assim – devido ao altíssimo profissionalismo, quer de pilotos, mas principalmente do pessoal de cabine do avião da Japan Airlines, que conseguem por toda a gente cá fora nas piores condições possíveis”, afirma o comandante José Correia Guedes. “Há fogo, há fumo, é de noite, há fumo na cabine, gases tóxicos, a visibilidade é baixíssima, e conseguem por aquela a gente cá fora toda em segundos” destaca o antigo piloto da TAP em declarações ao Porto Canal.
Para o especialista, a geografia do acidente pode ter influenciado a eficácia da evacuação e o reduzido número de mortos, que aconteceu no avião militar com o qual a aeronave da Japan Airlines terá colidido.
“Estamos a falar de passageiros japoneses, educados, principalmente disciplinados. Eu refiro isso porque em algumas evacuações que nós temos tido notícia acontecida noutros lugares, os passageiros saem com a respetiva bagagem” lembra José Correia Guedes afirmando: “isso pode provocar mortes, porque atrasa a evacuação”.
Além da rápida evacuação do avião da Japan Airlines, o comandante destaca “a chegada super atempada dos bombeiros, portanto, há aqui uma série de fatores que se conjugaram para que este acidente não tivesse consequências de outra dimensão”.
Os materiais utilizados na construção da aeronave, um Airbus A350, terão também contribuído para o sucesso da evacuação sem vítimas a registar. “Estes materiais compósitos são mais resistentes à propagação do fogo, do que as antigas ligas de alumínio. Isso poderá ter contribuído para o sucesso de evacuação”, aponta o antigo piloto da TAP.
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José Correia Guedes realça que o aeroporto de Haneda, em Tóquio, “é um dos aeroportos com mais movimento no mundo, onde estão aviões a partir e a chegar a cada minuto e às vezes em simultâneo, porque o aeroporto tem mais do que uma pista”. O antigo piloto da TAP aponta que a operação “é difícil de gerir”. “Trabalha-se no limite da capacidade do aeroporto e, eventualmente, da capacidade do controlo de tráfego aéreo, portanto, aquilo é gerido ao limite. Terá havido uma falha qualquer aí. Ainda não sabemos, nestas coisas é muito difícil falar a quente, estamos a poucas horas do acidente. Vamos saber o que aconteceu, neste momento tudo parece apontar para um erro do controlo de tráfego aéreo, mas eu também não descarto erro dos próprios pilotos”, frisa o comandante.
José Correia Guedes, em declarações ao Porto Canal, a poucas horas após o acidente, destaca que alguém “cometeu um erro muito grave e dá-me a impressão que não foi só uma pessoa. Nestas coisas também não há só um erro, há uma cadeia de erros, há qualquer coisa que levou a isto”.
Quanto à futura investigação às causas do acidente, realça que o relato dos pilotos será essencial. “Os pilotos estão vivos, num acidente de avião raramente os pilotos sobrevivem, mas neste caso ambos estão vivos e serão as testemunhas privilegiadas deste acidente”, afirma.
“Depois há os gravadores de vozes, quer dos aviões, os cockpits têm um gravador de voz que regista tudo o que lá se passa, mas também das comunicações da torre de controlo. Tudo aquilo está gravado, esse material existe, portanto, da audição desse material será relativamente simples tirar conclusões”, aponta explicando que deverá haver um relatório preliminar sobre o acidente entre duas a quatro semanas.