“A língua só morre quando não houver falantes”. O ensino de Mirandês no Porto

“A língua só morre quando não houver falantes”. O ensino de Mirandês no Porto
| Porto
Maria Abrantes

Já é possível ouvir falar Mirandês na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A língua, em vias de extinção, ganhou vida, através do interesse de uma dezena de alunos que aprendeu o linguajar das Terras de Miranda e alguns dos costumes daquela zona de fronteira.

É Ana Afonso quem conduz os alunos pelas mais curiosas tradições e pela língua mirandesa. “É uma língua de herança”, diz a professora, orgulhosa, que aprendeu a falar Mirandês com os pais, nascidos e criados nas Terras de Miranda.

 
 
 
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“Eu tenho muita vaidade de ter uns alunos como tive, dispostos a ouvir-me”. É assim que Ana Afonso se refere à turma de 2023, composta por dez alunos que, por variados motivos, se interessaram por esta língua, património imaterial, cultural, linguístico de Portugal.

“Está em vias de extinção e, por isso, temos de continuar com ela, porque a língua só morre, quando não houver falantes”, afirma Davide Cruz, encantado por ter aberto o curso de Mirandês na Faculdade de Letras, já depois de ter procurado aprender a língua na própria terra de origem, mas sem sucesso.

Teresa Nunes é fotógrafa e, a propósito de um trabalho pessoal sobre o burro mirandês, decidiu aprender um pouco da língua, para facilitar a conversa com os locais, quando se desloca àquelas terras para fotografar.

Embora ainda não conheça Miranda do Douro, as aulas da professora Ana Afonso suscitaram uma grande curiosidade em Eliana Pinho, escultora e interessada em cultura rural. “Fiquei com mais vontade de ir a Miranda e de descobrir a cultura mirandesa”.

São várias as áreas de interesse e profissionais que compõe esta turma, mas o aluno mais inusitado talvez seja Deukkwon Ryu, coreano a viver em Portugal há dez meses. Coreano, sim. E, por incrível que possa parecer, entende e lê bastante bem Mirandês. “Eu não tive muita dificuldade para perceber e gostei. O Mirandês e essa cultura é uma parte de Portugal, por isso estou muito feliz por aprender uma parte de Portugal”, diz o estudante de Relações Internacionais que quis vir para Portugal, depois de já ter vivido no Chile e na América Latina. Agora, sabe também um pouco da língua que carrega consigo a cultura dos Pauliteiros, da gaita de foles e da sanfona, mas não só.

“A língua mirandesa é doce como uma romã”, assim a descreve a docente, apaixonada pela língua e cultura mirandesas, mas que, ao mesmo tempo, lamenta a falta de interesse e, especialmente, de investimento por parte do Governo português, por não existirem apoios para o ensino da língua.

“Queremos que nos ouçam em Lisboa. Que nos ouçam e vejam que o Governo tem a obrigação de apoiar a língua mirandesa porque assinou a Carta Europeia das Línguas Minoritárias. Era bom que concretizasse o que prometeu no Orçamento do Estado para 2023, na lei 219, um fundo pela criação de organismo que estudasse, apoiasse e divulgasse a língua mirandesa. Só falta um mês e meio e estamos a ver tudo em águas de bacalhau”.

“O prometido é devido, mas aqui estamos.”, lamenta Ana Afonso. Serve-lhe de consolo o interesse que vai suscitando nos alunos, de que é exemplo esta turma de dez pessoas, que quis aprender Mirandês no Porto.

 

“La lhéngua solo se muorre quando nun houbir falantes.” L ansino de mirandés ne l Porto

Yá ye possible oubir falar mirandés na Faculdade de Lhetras de l’Ounibersidade de l Porto.
La lhéngua, an bias de stinçon, ganhou bida, por bias de l antresse dua dezena de alunos que daprendiu l modo de falar de las Tierras de Miranda i alguns de ls questumes daqueilha zona de frunteira.

Ye Ana Afonso quien guia ls alunos pulas más curjidosas tradiçones i pula lhéngua mirandesa. “Ye ua lhéngua de hardança”, diç la porsora, cun proua, que daprendiu a falar mirandés culs pais, nacidos i criados nas Tierras de Miranda.

“You tengo muita proua de tener uns alunos como tube, çpuostos a oubir-me”. Ye assi q’ Ana Afonso se refire à la turma de 2023, cumpuosta por dieç alunos que, por bários motibos, s’antressórun por esta lhéngua, patrimonho eimaterial, cultural, lhenguístico de Pertual.

“Stá an bias de stinçon i, por isso, habemos de cuntinar cun eilha, porque la lhéngua solo muorre, quando nun houbir falantes”, afirma Davide Cruz, ancantado por tener abierto l curso de mirandés na Faculdade de Lhetras, yá apuis d’haber precurado daprender la lhéngua na própia tierra de ourige, mas sin sucesso.
Teresa Nunes ye retratista i, a porpósito dun trabalho pessonal subre l burro mirandés, decediu daprender un cachico de la lhéngua, para facelitar la cumbersa culs locales, quando bai àqueilhas tierras para retratar.

Anque inda nun cunheça Miranda de l Douro, las classes de la porsora Ana Afonso çpertórun ua grande curjidade an Eliana Pinho, scultora i antressada an cultura rural. “Quedei cun más ganas de ir a Miranda i de çcubrir la cultura mirandesa”.

Son bárias las áreas de antresse i profissionales que forman esta turma, mas l aluno más ralo talbeç seia Deukkwon Ryu, coreano a bibir an Pertual fai dieç meses. Coreano, si. I, por ancredible que puoda parecer, antende i lei bastante bien mirandés. “You nun tube muita deficuldade para perceber i gustou-me. L mirandés i essa cultura ye ua parte de Pertual, por isso stou mi feliç an daprender ua parte de Pertual”, diç l studante de Relaçones Anternacionales que quijo benir para Pertual, apuis de yá haber bibido ne l Chile i na América Lhatina. Agora, tamien sabe un cibo de la lhéngua que carrega cun eilha la cultura de ls Dançadores, de la gaita de fuolhes i de la çanfona, mas nun solo.

“La lhéngua mirandesa ye doce cumo ua meligrana”, assi diç la docente, apeixonada pula lhéngua i cultura mirandesas, mas que, al mesmo tiempo, lamenta la falta de antresse i, mormente, de ambestimiento por parte de l Gobierno pertués, por nun eijistiren apoios pa l ansino de la lhéngua.

“Queremos que mos óuban an Lisboa. Que mos óuban i béian que l Gobierno ten l oubrigaçon de apoiar la lhéngua mirandesa porque assinou la Carta Ouropeia de las Lhénguas Minoritairas. Era buono que fazisse l que prometiu no Ourçamiento de l Stado para 2023, na lei 219, un fundo pula criaçon dun ourganismo que studasse, apoiasse i spargisse la lhéngua mirandesa. Solo queda un més i meio i stamos a ber todo an augas de bacalhau”.

“L prometido ye debido, mas eiqui stamos.”, lastima Ana Afonso. Sirbe-l de cunsolo l antresse que bai çpertando ne ls alunos, de que ye eisemplo esta turma de dieç pessonas, que quijo daprender mirandés na cidade de l Porto.

“Poucos mas buonos”

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