Climáximo critica ausência de objetivos vinculativos no acordo da COP28

Climáximo critica ausência de objetivos vinculativos no acordo da COP28
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Porto Canal / Agências

O grupo Climáximo denuncia a ausência de objetivos vinculativos no acordo alcançado esta quarta-feira na COP28, que aponta pela primeira vez para o abandono dos combustíveis fósseis, sublinhando que o documento reconhece falhanços na luta contra as alterações climáticas.

Em declarações à Lusa, Noah Zino, membro da organização ativista ambiental, sustenta que a declaração dos países reunidos na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), no Dubai, não difere muito do que foi feito nas anteriores cimeiras e reforça a convicção de que “nenhuma instituição é capaz de parar de produzir a crise climática”.

“Liderada pelo executivo de uma petrolífera, o texto nem sequer vincula nada nem nenhum país e o que vemos é uma espécie de cadáver do Acordo de Paris [de 2015], que já está morto há anos e foi maquilhado, apesar do seu falhanço óbvio. 2023 é o ano com mais emissões de sempre e continuam a passar falsas soluções que não vinculam nada a ninguém”, refere.

O texto da COP28 apela à "transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de forma justa, ordenada e equitativa, acelerando a ação nesta década crucial, a fim de alcançar a neutralidade de carbono em 2050 em acordo com recomendações científicas".

No entanto, Noah Zino realça que o documento da cimeira também assume que “os esforços atuais só vão reduzir as emissões por 2% até 2030”, sem mudanças realmente visíveis no clima, e que nem a meta de triplicar o uso de energias renováveis será efetiva perante a dependência dos combustíveis fósseis.

“Triplicar renováveis não serve para nada se não for para cortar uns 70% de emissões até 2030. Isto é, têm de falir algumas das maiores petrolíferas do mundo. Nenhuma desta expansão energética está associada a uma redução de emissões, simplesmente querem produzir mais energia e tentam passar uma narrativa de que isso está associado a alguma espécie de corte de emissões. E isso não está escrito em lado nenhum. Nada disto é vinculativo”, observa.

A ativista contesta ainda a aposta em “falsas soluções” sem provas científicas de viabilidade, como a tecnologia de captura de carbono ou ao hidrogénio, mas também a aposta em Portugal em projetos que podem vir a reforçar as emissões de carbono, nomeadamente “o novo aeroporto, um gasoduto ou a expansão do terminal fóssil em Sines”.

“É mesmo impossível resolver a crise climática no modelo económico que temos e precisamos urgentemente de uma resposta de crise, da mesma forma que tivemos ao covid, porque, efetivamente, estamos numa emergência”, afirma, continuando: “Nada disto é um compromisso sério para lidar com a crise climática e a crise social”.

Noah Zino lamenta ainda que o acordo não deixe vinculada uma transição justa para os trabalhadores da indústria fóssil e apela a uma mudança sustentável na política económica para os países em vias de desenvolvimento, que são mais afetados pelas alterações climáticas.

“O que desenvolve economias não são os combustíveis fosseis, mas sim a energia. Se houver um esforço global - que parta das pessoas - de resistir contra a economia fóssil e de colocar energia renovável, transportes públicos coletivos acessíveis e uma indústria de ‘emissões zero’ no centro da economia, é muito mais fácil desenvolver estes países, porque estão a sofrer as consequências de décadas de colonialismo fóssil”, conclui.

Os países reunidos na cimeira do clima aprovaram esta quarta-feira "por consenso" uma decisão que apela a uma transição no sentido de abandonar os combustíveis fósseis, anunciou o presidente da COP28, Sultan Al Jaber.

Na abertura da sessão plenária de encerramento, no Dubai, os delegados adotaram a decisão preparada pelos Emirados Árabes Unidos, que foi aplaudida.

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