Grupo português constroi em Espanha primeiro edifício híbrido de madeira e betão
Porto Canal / Agências
A empresa portuguesa Grupo Casais desenvolveu o primeiro edifício de Espanha de "construção híbrida" (madeira e betão), um hotel na região de Madrid, e vai avançar para uma segunda unidade hoteleira na mesma comunidade autónoma espanhola.
O Grupo Casais tem ainda projetos, em Espanha, para hotéis, residências de estudantes e residências de idosos, entre outros, para a região da Andaluzia, no sul do país, disse à Lusa o presidente executivo, António Carlos Rodrigues.
A "construção híbrida" tem como base uma tecnologia (conhecida como tecnologia CREE) cuja patente foi desenvolvida na Áustria e que o Grupo Casais já usou em projetos em Portugal e agora levou para Espanha.
Traduz-se na construção de edifícios juntando betão e madeira transformada industrialmente ("madeira de engenharia", que consegue ter "uma capacidade de resistência à compressão 10 vezes superior à do betão", nas palavras do presidente executivo do Grupo Casais).
A tecnologia CREE torna os edifícios e o próprio processo de construção mais sustentáveis ambientalmente, além de reduzir prazos, segundo António Carlos Rodrigues.
Por um lado, os edifícios tornam-se eles próprios sumidouros de carbono e abrem a possibilidade da designada "economia circular" na construção, por serem desenvolvidos em módulos sem ligações rígidas entre si, potencialmente reutilizáveis, ao contrário do que acontece com os "edifícios monolíticos" de construção clássica.
O edifício "é pensado para acompanhar a evolução da própria sociedade e por isso é pensado em componentes que não são ligados de uma forma definitiva, que podem ser reversíveis", disse António Carlos Rodrigues.
"O imobiliário e a construção, em vez de ter de extrair matéria-prima continuadamente de pedreiras ou da floresta também passa a ter no próprio património edificado uma fonte futura de materiais de construção porque, uma vez que o edifício ou o espaço interior deixa de ser útil, eu posso aproveitar aqueles componentes porque eles são reutilizáveis", acrescentou.
Para além deste impacto ou potencial benefício a longo prazo, este tipo de construção diminuiu o tempo de edificação em 30 a 50% em relação a um processo tradicional, além de reduzir o desperdício de materiais.
Os prazos de construção diminuem, essencialmente, porque deixa de ser um processo linear e passa a permitir o desenvolvimento em paralelo das diversas fases.
Isto explica-se por o processo de desenvolvimento e construção passar a ser em ambiente de fábrica e, por exemplo, a par das escavações no terreno poderem estar já a ser construídos os diversos módulos que depois serão colocados no local.
"Num processo linear, qualquer interrupção e problema", como aconteceu, por exemplo, com a covid-19 ou quando há escassez de materiais, faz com que "se some sempre no prazo final", com constantes aumentos de custos e de tempo, explicou o presidente executivo do Grupo Casais.
A construção em fábrica elimina também o habitual desperdício de materiais ou resíduos de obra.
No caso do hotel da região de Madrid, em 14 dias, o hotel passou de ter apenas os alicerces a ter todas as fachadas e paredes completas, segundo a empresa.
A necessidade de betão para um edifício deste é 1/3 da quantidade de uma construção tradicional.
Neste tipo de construção, o Grupo Casais está a usar, como matéria-prima, pinho nórdico, produzido em larga escala em países como França, Finlândia, Alemanha, Lituânia ou Eslovénia.
"Infelizmente, não conseguimos ainda utilizar pinho nacional", afirmou António Carlos Rodrigues.
O presidente executivo do Grupo Casais destacou que estes países europeus "investiram há muitos anos nesta indústria transformadora", o que não aconteceu em Portugal.
"É algo que nós temos de sinalizar ao mercado e ao nosso próprio governo", disse, realçando a preocupação continuamente manifestada em Portugal com a floresta, a sua gestão e a preservação dos incêndios.
"Só há uma forma de conseguirmos fazer com que a floresta seja tratada convenientemente, que é dar-lhe mais valor. E dar-lhe mais valor tem a ver com esta componente de floresta de produção e, depois, uma fileira de transformação", acrescentou.
Quanto ao mercado de habitação, António Carlos Rodrigues disse que o grupo português trabalha em projetos para construções que "estão mais próximos do residencial", com investidores que pretendem criar oferta de arrendamento em Espanha destinada, por exemplo, a trabalhadores temporários num determinado local, como os “nómadas digitais”.
O Grupo Casais foi fundado em 1958, está presente em 17 países e teve um volume de negócios de 681 milhões de euros em 2022 (mais 13% do que no ano anterior).