António Costa presta “agradecimento e tributo” na Alemanha aos fundadores do PS
Porto Canal/Agências
O secretário-geral do PS, António Costa, brindou esta segunda-feira aos fundadores do partido no local onde o Partido Socialista português foi criado, na localidade alemã de Bad Münstereifel, numa cerimónia que considerou de “agradecimento e tributo”.
Num pequeno restaurante onde socialistas portugueses e alemães, do SPD, negociaram em 1973 a criação, na clandestinidade, do Partido Socialista português, António Costa, acompanhado do antigo líder socialista alemão Martin Schulz, descerrou uma placa em bronze evocativa da fundação do PS há meio século, que homenageia em concreto duas das maiores figuras de ambos os partidos e diretamente envolvidas na criação do PS, Mário Soares e Willy Brandt.
“Em 19 de abril de 1973, na então Academia da Friedrich-Ebert-Stiftung, foi fundado o Partido Socialista português (PS), ponto de partida de uma estreita amizade entre Mário Soares e Willy Brandt (SPD)”, lê-se, em português e alemão, sob relevos dos dois históricos dirigentes, antigos líderes do PS e do SPD, e também antigos chefe de governo e de Estado português e antigo chanceler da Alemanha.
“O PS foi fundado há 50 anos aqui na Alemanha, na clandestinidade, juntando militantes socialistas que vieram de Portugal e vários daqueles que estavam exilados em diversos pontos da Europa, como Mário Soares, que estava exilado em Portugal. E foi possível essa criação graças ao apoio, à camaradagem, à fraternidade do SPD e da fundação Ebert”, salientou António Costa, referindo-se à mais antiga fundação política alemã, agora presidida por Martin Schulz, que desenvolveu as ‘pontes’ com vista à fundação do PS.
O secretário-geral apontou que, ainda no âmbito das comemorações dos 50 anos do PS, a comitiva que encabeça decidiu deslocar-se a Bad Münstereifel para “agradecer ao SPD e à fundação Ebert todo o apoio” dado nessa altura, “e também todo o apoio que deram a Portugal a seguir ao 25 de abril, quer quando foi necessário resistir na rua para que a liberdade fosse preservada, quer em todo o processo de adesão de Portugal à União Europeia”.
António Costa salientou que se trata assim de “uma mensagem de agradecimento, mas também de tributo àqueles que há 50 anos fundaram o PS” e a quem os apoiou.
“Infelizmente, muitos já nos deixaram, outros felizmente ainda estão vivos e entre nós, e todos nós prestamos naturalmente o nosso tributo e a nossa gratidão por terem criado um partido que tem sido tão importante para a democracia, para a liberdade, e para o projeto europeu em Portugal”, declarou.
Costa salientou ainda que “esta geração destes homens, como Mário Soares e Willy Brandt, que viveram na pele o que é a ditadura, o que é a perda da liberdade, o que é o exílio, foi uma geração que percebeu muito bem o sentido da democracia e da liberdade”, alertando que estas têm de ser defendidas “no dia a dia”.
O líder do PS comentou que aqueles “que tiveram a felicidade de já nascer em democracia e liberdade” tendem a achar que é um dado adquirido, “e é preciso lembrar que não é, porque, como vemos em muitas partes do mundo, há sempre novas ameaças à democracia e à liberdade, por isso é bom estarmos conscientes que se constrói no dia a dia, que se defende no dia a dia, que se preserva no dia a dia”.
Na sua intervenção, Martin Schulz, antigo líder do SPD e da bancada dos Socialistas Europeus no Parlamento Europeu, ao qual também presidiu (entre 2012 e 2017), e atualmente presidente da Fundação Friederich Ebert, destacou o papel de “Mário Soares, um homem que neste sítio, em 1973, no contexto de uma ditadura, criou o PS”, um partido que se revelou fundamental para a democracia.
“É um partido que desempenhou um papel chave na preparação da mudança de 1974 e que, especialmente depois da revolução, contribuiu de uma forma excecional e histórica para introduzir e estabilizar a democracia em Portugal, que dura agora há 50 anos, tendo ao longo desses 50 anos contribuído com muitas personalidades de prestígio em diferentes governos, diversos Presidentes da República, com um enorme contributo para aprofundar o papel de Portugal como um Estado-membro chave da União Europeia”, declarou.
“O PS nasceu historicamente aqui neste lugar, nesta sala, e tornou-se um ator chave da democracia em Portugal e na Europa. Penso que é um momento de orgulho, para o Partido Socialista português e para nós, a Fundação, e os sociais-democratas [SPD]. Termos podido contribuir para tamanho sucesso é também motivo de orgulho para nós”, declarou.
Martin Schulz iniciou a sua curta intervenção com umas palavras em português, dirigidas a António Costa: “A vossa luta é a nossa luta, estamos do vosso lado. Muito especificamente nestes tempos”, disse.
Questionado no final pelos jornalistas que sentido deu a estas palavras, Costa disse não crer que Schulz se referisse à crise política que se vive em Portugal e designadamente no PS, entendendo antes que o dirigente alemão se referia “ao combate de sempre” das duas forças partidárias, PS e SPD, “pela liberdade e democracia e defesa do projeto europeu”.
“Interpretei como uma palavra de que estamos juntos, na defesa do projeto europeu, no aprofundamento da UE e na construção de uma Europa mais social, que resista melhor aos ataques do populismo e assim preserve a democracia”, disse.
António Costa, à frente de uma comitiva que integra, entre outros, o secretário-geral adjunto do PS, João Torres, o presidente do grupo parlamentar do partido, Eurico Brilhante Dias, a presidente da Fundação Mário Soares-Maria Barroso, Isabel Soares, participa entre esta segunda-feira e terça-feira numa celebração do 50.º aniversário do partido, naquela que será uma das suas últimas ações como secretário-geral do PS, pois a 15 e 16 de dezembro realizam-se as eleições diretas para a escolha do seu sucessor.
Na terça-feira, e depois de mais alguns eventos, da parte da manhã, em Bad Münstereifel, a comitiva encabeçada por António Costa ruma a Bona, onde o secretário-geral intervirá, juntamente com o líder do SPD, num painel de discussão sobre "Como proteger uma Europa democrática”, no quadro das eleições europeias de 2024, e numa visita ao Arquivo da Social Democracia, ambos na Fundação Friedrich Ebert.