Atrasos na VCI “são atentados à produtividade” das empresas de transporte, alerta ANTRAM
Catarina Cunha
A Via de Cintura Interna (VCI) é considerada a grande responsável pelo tráfego constante na cidade do Porto. Como o Porto Canal já tinha noticiado, em média, os condutores que atravessam a cidade perdem em média 148 horas na estrada e gastam 125 euros por estarem ‘agarrados ao volante’ no ‘para-arranca’.
Este é mais um aperto de cinto para a carteira dos automobilistas, uma situação que se agrava quando se fala do setor do transporte de mercadorias, que “vive de produtividade”, onde o objetivo “é fazer mais no menor tempo possível”. Em resposta ao Porto Canal, o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), Pedro Polónio confirma que “os atrasos provocados pela VCI e a falta de alternativas reais para o atravessamento do grande Porto, são atentados à produtividade das empresas transportadoras”.
O responsável pela ANTRAM exemplifica que uma empresa de transportes, num serviço onde cobra 130 euros demora “mais de 6 horas” do Porto de Leixões a Vila Nova de Gaia. No total, é “1 hora para levantar o contentor num parque, duas horas em viagem, mais duas horas para carregar na origem e 1 hora para o entregar no Porto de Leixões”, completa.
Neste exemplo, “temos uma perda de mais de uma hora, provocada pelo trânsito”, ressalva Pedro Polónio.
Este cenário deixa as empresas com duas hipóteses: “Ou os transportadores se fazem cobrar e existirá uma fatura a pagar, por parte de quem recorre aos nossos serviços, ou não o fazem, e muitas das empresas poderão tornar-se inviáveis”, sublinha.
Pedro Polónio comenta ainda que as queixas dos transportadores, relativamente ao fluxo de tráfego têm aumentado, não se cingindo apenas à VCI: “há toda uma rede viária na zona do Grande Porto que apresenta dificuldades muito acrescidas, veja-se, por exemplo, o caso da A28”.
Utilização da VCI “é obrigatória”
Há 12 anos, a Circular Regional Exterior do Porto – vulgarmente conhecida como CREP – foi apresentada e construída como a solução para ‘sugar’ o trânsito da VCI, uma opinião partilhada por Marco Martins, presidente da Câmara Municipal de Gondomar.
Todavia, a CREP hoje em dia é pouco utilizada, em grande parte pelo facto de ser concessionada em regime de SCUT, o que afugenta os condutores e que se vêem sem outra opção que não utilizar a VCI.
Um grupo de trabalho foi então criado em 2021 para encontrar medidas para minimizar o tráfego na VCI, entre elas a proposta que nessa via se limitasse o tráfego a veículos pesados e que se incentivasse o uso da CREP, isentando as portagens.
Em entrevista exclusiva ao Porto Canal, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, divulgou que, durante reuniões com a ANTRAM, a Associação “disse que se não tivessem que pagar portagens na CREP estaria na disposição de fazer um pacto e abandonar a utilização da VCI”.
Ao Porto Canal, o presidente da ANTRAM não fala nessa possibilidade, mas esclarece que “o estudo de modelos híbridos, por exemplo, conjugar a utilização da CREP com a VCI em função das horas de utilização ou passagem das viaturas, pode ser uma boa solução”.
Além disso, exclui a utilização da CREP “a pagar nos moldes atuais”, considerando uma opção “inaceitável para os transportadores”, porque representa “um aumento de custos”, sobretudo para os “transportadores que a tiverem de utilizar em atravessamento”.
Por isso, e devido ao facto de “inexistirem alternativas viáveis”, “a VCI é obrigatória”, reforça o presidente.
Para Pedro Polónio, os veículos pesados não têm culpa no cartório, no que toca ao fluxo de trânsito da VCI: “os dados conhecidos mostram que as viaturas ligeiras são imensamente mais do que os veículos pesados”, salienta.
Apesar desta constatação, o presidente da Associação reconhece que “em caso de acidente, ou avaria”, o impacto no trânsito de um veículo pesado “é sempre superior”.
Veja a entrevista na íntegra com o presidente da Câmara Municipal do Porto: