Maioria dos comerciantes com bancas no Mercado do Bolhão descontente com atual gestão
Porto Canal/Agências
A maioria dos comerciantes com bancas no Mercado do Bolhão, que reabriu portas há um ano, estão descontentes com a atual gestão assegurada pela empresa municipal GO Porto, revela hoje uma consulta realizada pela associação Bolha de Água.
A consulta, realizada pela Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água e a que a Lusa teve hoje acesso, contou com a adesão de 58 dos 72 comerciantes com bancas no mercado centenário do Porto.
A maioria dos comerciantes (92%) afirma que o regulamento do Mercado do Bolhão não está de acordo com as necessidades de gestão do equipamento e que as regras de funcionamento não são adequadas.
“Quem está a gerir isto não percebe nada de mercados”, “Há excesso de regras para um mercado tradicional”, “Isto é pior que um ‘shopping’, é uma ditadura” e “São umas leis muito rigorosas” são algumas das considerações partilhadas no documento.
Já quanto à participação na elaboração do regulamento do Mercado do Bolhão, 92% dizem não ter participado e 73% afirmam que as regras de funcionamento não foram devidamente comunicadas.
Questionados se têm sentido dificuldades no exercício da sua atividade, 96% dos comerciantes afirmam que sim, sobretudo na aplicação das regras, horário, condições logísticas da banca, cumprimento do regulamento e organização do Mercado do Bolhão.
“Não é possível almoçar dentro da banca e não existe um espaço próprio para refeições que inclusive nos foi prometido”, “Falta visibilidade, ninguém vê os meus produtos, a banca não tem condições” e “Mau escoamento das águas de lavagem das bancas, estamos sempre com os pés molhados e a sujidade da vizinha vem aqui parar”, são algumas das críticas apontadas.
Apesar das críticas, 83% dos comerciantes diz estar disponível a participar na elaboração do plano estratégico do Mercado do Bolhão. Aos comerciantes é ainda solicitado que indiquem três aspetos positivos que a renovação do Mercado do Bolhão trouxe à atividade comercial, ponto em que as opiniões se dividem.
Enquanto uns afirmam que o equipamento “é mais um ‘shopping’ do que um mercado” e que “O Bolhão é como a Lello”, outros salientam que “foi a melhor prenda que podia ter da Câmara do Porto” e que o presidente da câmara, Rui Moreira, “foi o único que teve coragem de pegar nisto”.
A modernização, limpeza, segurança e aumento de público são outros dos aspetos positivos indicados. Mais de metade (57%) dos comerciantes ouvidos indicam, no entanto, que os clientes habituais não voltaram ao Mercado do Bolhão por “excesso de movimento” e ser “feito para o turismo”.
“Voltaram no início, mas não gostaram, não voltaram mais”, referem.
Também questionados se o regresso ao mercado correspondeu às expectativas, alguns comerciantes admitem faltar “tradição e ligação ao passado”, “a alegria e o barulho de antigamente”, enquanto outros dizem estar felizes, gostar e não sentir falta de nada no renovado Bolhão.
O objetivo da consulta, indica a associação, é “dar voz aos comerciantes para identificação das áreas que necessitam de melhorias, ao qual se soma o objetivo específico de realização de um diagnóstico que permita lançar as bases para a construção de um plano estratégico e a idealização de um modelo público de gestão e governação do Mercado do Bolhão”.
A recolha de informação arrancou a 20 de junho com o apoio de uma entrevistadora, mas segundo a associação, a partir de 03 de julho, a direção do Mercado do Bolhão “impediu ativamente a realização do inquérito nos moldes iniciais, com recurso a diversos atos intimidatórios, inclusive intimidação física”.
“Da parte da direção do Mercado do Bolhão houve a exigência, transmitida via email e presencialmente em reunião, de aprovarem previamente as questões do inquérito alegando que tinha de assegurar a integridade da sensibilidade dos comerciantes”, refere.
Contactada pela Lusa, fonte da autarquia afirmou que "a câmara municipal não comenta porque não reconhece credibilidade no inquérito".
O Mercado do Bolhão reabriu portas a 15 de setembro de 2022, depois de uma obra de restauro “exigente”, consignada a 15 de maio de 2018 ao agrupamento Alberto Couto Alves S.A e Lúcio da Silva Azevedo & Filhos S.A., por 22,379 milhões de euros, mas, veio, no entanto, a custar mais 15% do que inicialmente previsto, passando para cerca de 26 milhões de euros.
Com 79 bancas, 38 lojas e 10 restaurantes, o Bolhão acomoda os frescos no piso térreo e os restaurantes no piso superior.