Quatro anos depois espécie de cágado volta a ser observada no Rio Sousa em Gondomar
Porto Canal / Agências
Um cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) foi encontrado há cerca de duas semanas no rio Sousa, em Gondomar, num espaço onde não era visto há quatro anos, revelou à Lusa o produtor de documentários sobre a natureza Paulo Ferreira.
Segundo o especialista, trata-se de “uma das duas espécies nativas de cágados” existentes em Portugal e que, segundo os dados fósseis, “habita o planeta há aproximadamente 120 mil anos”, distribuindo-se, atualmente, ao longo da Península Ibérica, sudoeste de França e noroeste de África.
“Em Portugal distribui-se ampla e maioritariamente no interior do país e a sul do Tejo, sendo que no litoral, do Mondego para cima, é escasso e apresenta populações pontuais e dispersas”, acrescenta.
Paulo Ferreira assinala, por isso, “contarem-se pelos dedos de uma mão, os registos oficiais desta espécie no litoral norte e por ser uma redescoberta no local, depois de quatro anos de ausência”.
O exemplar encontrado é uma “fêmea”, precisou o especialista – que contou com a colaboração do biólogo Joel Neves para a identificação do cágado, que é normalmente encontrado nas margens dos rios, “geralmente locais de postura, onde pode colocar até 12 ovos num pequeno buraco”.
Sublinhando a “extrema importância” da descoberta, explicou à Lusa que esta observação “realça a necessidade e urgência da conservação deste réptil e dos corpos de água onde habitam, os quais se encontram altamente perturbados e ameaçados”.
Segundo Paulo Ferreira a espécie possui o estatuto de “não ameaçada”, mas o “isolamento desta possível população é um entrave à sua continuidade e ao seu futuro, uma vez que estão mais vulneráveis à extinção local já que indivíduos isolados têm maior dificuldade em se reproduzir e deixar descendência”, para além da presença de “espécies invasoras” serem “fatores limitantes à sua sobrevivência”.
Neste contexto, alertou, a presença assídua do cágado-da-Florida (Trachemys scripta) ameaça a continuidade deste cágado autóctone, uma vez que competem diretamente por espaço e recursos. Para além disso, as características morfológicas e fisiológicas como o facto de atingirem a maturação sexual muito mais cedo, uma maior taxa de fecundidade, a sua dieta mais generalista e de serem maiores e mais agressivos, facilitam a sua propagação e rápida predominância, sobrepondo-se às espécies autóctone, levando ao seu declínio e até mesmo desaparecimento.
Outras ameaças, elencou, são o lagostim-vermelho-do-Louisiana que se “alimentam dos seus juvenis” e a artificialização das margens, obras de “engenharia que afetam a hidromorfologia das linhas de água, sobre-exploração de recursos hídricos, poluição e descargas de poluentes, bem como a pressão turística sobre zonas húmidas”.