Pablo Neruda foi envenenado, confirmam os especialistas. Recuando 50 anos, o que aconteceu ao Nobel da Literatura? 

Pablo Neruda foi envenenado, confirmam os especialistas. Recuando 50 anos, o que aconteceu ao Nobel da Literatura? 
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Porto Canal

50 anos depois, chega a confirmação: o Prémio Nobel da Literatura morreu de envenenamento, 12 dias depois do golpe militar chileno liderado por Augusto Pinochet, que derrubou o regime do seu amigo próximo, e Presidente, Salvador Allende.

O recuar no tempo

23 de setembro de 1973. Foi neste dia que um dos poetas mais influentes do século XX morreu e as causas foram, durante cinco décadas, desconhecidas.

Neruda enfrentava um cancro da próstata, pelo que, durante algum tempo, a doença era a principal e mais lógica razão pela qual o poeta teria falecido aos 69 anos de idade.

No entanto, e uma vez que o caso continua por resolver tantos anos depois, a morte do Prémio Nobel da Literatura não tem sido assim tão fácil de desvendar. O antigo motorista do escritor, Manuel Araya, argumentou durante décadas que ele havia sido envenenado e especulou-se mesmo que Augusto Pinochet poderia estar envolvido na sua morte.

Isto porque, para além de poeta, Neruda era um político e diplomata de esquerda, (senador, pré-candidato presidencial, embaixador em França e membro do Comité Central do Partido Comunista são algumas das posições que ocupou). Para além disso, era também amigo próximo do Presidente que viu a sua governação cair com o golpe de Estado de 1973, liderado pelo general Augusto Pinochet.

Salvador Allende acabou por se suicidar, com a ascensão de Pinochet, e o plano do poeta chileno era exilar-se no estrangeiro. O exílio acabou por não acontecer, uma vez que a morte tardou apenas 12 dias em chegar. No entanto, Rodolfo Reyes, sobrinho do poeta, relembra que, como exilado, Neruda teria sido o “grande adversário” de Pinochet.

 
 
 
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Do cancro da próstata ao envenenamento

Em 2015, um documento do Programa de Direitos Humanos chileno fez novas revelações e reacendeu um dos grandes debates do Chile. Se, até então, a morte por complicações no cancro da próstata era a única causa que estava em cima da mesa, 42 anos depois o cenário muda, e descobre-se que “é claramente possível e altamente provável a intervenção de terceiros na morte de Pablo Neruda”, leu-se num comunicado do Governo do Chile.

Na altura, soube-se que a certidão de óbito foi feita pelo médico do poeta a partir de uma chamada telefónica, o que explica que o documento não contivesse informações sobre “um calmante injetado ao poeta que viria a provocar a paragem cardíaca que motivou a sua morte”.

Uns anos depois, em 2017, encontrou-se, nos molares de Neruda, a bactéria 'clostridium botulinum', que é um bacilo normalmente encontrado no solo. Sendo assim, havia a possibilidade de a bactéria se ter infiltrado no corpo de Neruda através do seu caixão, teoria que foi rejeitada por especialistas da Universidade McMaster (Canadá) e da Universidade de Copenhaga (Dinamarca). Os peritos concluíram que o poeta chileno já tinha a bactéria antes de morrer.

Em declarações à agência de notícias Efe, o sobrinho de Pablo Neruda fala em assassinato, do qual desconfia desde a morte do poeta. "Sabemos agora que o 'clostridium botulinum' não deveria estar no esqueleto de Neruda. O que significa isto? Que Neruda foi assassinado, que houve intervenção de agentes estatais em 1973", disse Rodolfo Reyes, acrescentando que “não há dúvida de que Nerudo foi morte por intervenção direta de terceiros”.

A incógnita que permanece é a de saber como e por quem a toxina botulínica foi introduzida no corpo de um dos maiores e mais importantes poetas do século XX.

Família de Neruda acredita que bactéria foi injetada pelo abdómen

Manuel Araya, motorista do poeta, tem, desde sempre, uma versão sobre a sua morte. Nunca acreditou no falecimento por cancro da próstata, mas para além de defender o envolvimento de terceiros, acredita que a bactéria foi injetada no corpo de Neruda através do abdómen e por um agente secreto do regime que se fez passar por médico na Clínica Santa Maria em Santiago, onde o Pablo Neruda se encontrava.

Uma versão que é apoiada pela maior parte da família do autor. "Neruda não estava gravemente doente, apenas tinha cancro. Andava com dificuldade, estava a sofrer, mas não estava preparado para morrer", disse à Efe a advogada da família, Elizabeth Flores.

As suspeitas da família recaem sobre Augusto Pinochet e o sobrinho do poeta torna-o bem claro, relembrado que o escritor, cujos restos mortais foram exumados em 2013 do seu jardim em Isla Negra, na costa central do Chile, tinha planeado viajar para o México alguns dias antes da sua morte, algo que, se se tivesse concretizado, teria feito de Neruda o "grande adversário" do general Pinochet.

Não houve confirmação dos comentários de Reyes por parte de peritos forenses do Canadá, Dinamarca e Chile, que vão divulgar publicamente o relatório sobre a causa da morte de Neruda.

As conclusões deste novo relatório deveriam ter sido apresentadas a 3 de fevereiro, mas a audiência foi cancelada em duas ocasiões - primeiro devido a falhas técnicas e depois devido a alegados desacordos entre os peritos - e remarcada para 15 de fevereiro.

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