Qatar 2022, um Mundial que envergonha a história do futebol? Recorde as polémicas do evento

Qatar 2022, um Mundial que envergonha a história do futebol? Recorde as polémicas do evento
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Porto Canal

É o Mundial mais caro de sempre e, provavelmente, aquele com mais polémicas. A competição arranca este domingo mas a contestação remonta ao anúncio da candidatura vencedora. O aparecimento de novas informações e histórias controversas ao longo das últimas semanas fez, no entanto, aumentar a "temperatura" e subir o tom das críticas.

O evento custou 225 mil milhões de euros e a vida de mais de 6,5 mil migrantes em construções relacionadas com o torneio.

Foi em Dezembro de 2010 que o Qatar foi anunciado como o país acolhedor do Mundial de 2022.

Desde logo surgiram suspeitas de 'batota' e favorecimento a pairarem sobre a candidatura vencedora que, contudo, avançou.

O então presidente da FIFA, Joseph Blatter, justificou na altura as escolhas com a aposta em "novos territórios", mas, anos mais tarde, admitiu que a realização do Mundial no Qatar, primeiro país do Médio Oriente a receber a prova, tinha sido "um erro", opinião partilhada por milhões de pessoas espalhadas pelos quatro cantos do globo.

“A homossexualidade é uma doença mental”

A frase é de Khalid Salman, embaixador do Mundial 2022, e foi dita durante uma entrevista à televisão alemã ZDF, quando faltavam 12 dias para o arranque da prova.

"Muitas coisas vão acontecer aqui no país durante o Mundial. Vamos falar sobre gays. O mais importante é aceitar que todos venham, mas terão de aceitar as nossas regras", disse Khalid Salman. "A homossexualidade é 'haram' (proibido)", reforçou o ambaixado do Mundial e, antes de ser interrompido por um assessor, acrescentou: "É 'haram' porque é um distúrbio mental".

Estas declarações levaram não só à interrupção imediata da entrevista, a mando de um funcionário que acompanhava Khalid Salman, presumivelmente um assessor, como também gerou reações por todo o mundo, nomeadamente do ex-presidente da FIFA que disse que a realização do Mundial no Qater tinha sido "um erro".

A questão da homossexualidade tem sido um dos temas associados ao campeonato do mundo de futebol, tendo em conta no Qatar é considerada um crime e é punível até sete anos de prisão.

Adeptos falsos ou comprados?

Nos últimos dias surgiram vídeos nas redes sociais de supostos adeptos portugueses que levantaram algumas questões, nomeadamente se os fãs da seleção portuguesa no Qatar estariam a ser pagos para apoiar a seleção nacional.


No entanto, ao mesmo tempo que os rumores se iam itensificando pela internet, Elisabete Reis, "fan leader" no Qatar dos adeptos da seleção de Portugal, desmentiu as notícias de que os fãs da seleção vão ao Qatar pagos para apoiar a equipa das quinas.

“Ninguém aqui no Qatar é pago para apoiar a seleção portuguesa, nem eu nem os restantes fãs”, garantiu Elisabete.

A portuguesa que reside no Qatar desde 2006 foi convidada pelo Comité Organizador do Qatar 2022 para ser "fan leader" dos adetpos da seleção nacional no Qatar, convite que aceitou, disse na altura, “com muita alegria e orgulho”.

Extravagância compra vidas?

A par das questões da homossexualidade, o país tem sido alvo de várias críticas pelo facto de os direitos humanos nem sempre estarem assegurados, nomeadamente os direitos das mulheres e dos imigrantes.

Desde finais de 2010, foram construídos oito estádios de futebol para receber o Mundial 2022 que trouxeram, na verdade, milhares de mortes. O jornal inglês “The Guardian” fez as contas e, com base em dados recolhidos junto dos governos da Índia, Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Paquistão (os países com mais emigrantes no Catar), já terão ocorrido, pelo menos, 6500 mortes de trabalhadores nestes últimos dez anos, devido à falta de condições de trabalho. Um estudo da Organização Mundial do Trabalho concluiu que, só em 2020, morreram 50 trabalhadores no Catar, registando ainda 500 feridos graves e 37 600 que sofreram ferimentos leves.

Números alarmantes, mas que não espelham uma realidade que se teme ainda mais negra. Isto porque os números apenas incluem migrantes de cinco países asiáticos (Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka), faltando comunidades significativas como os trabalhadores provenientes de Filipinas ou Quénia.

Perante estas situações, a seleção da Dinamarca tem sido das mais ativas na defesa dos trabalhadores migrantes e dos direitos LGBTQI+, e prentedia treinar com camisolas com a mensagem "direitos humanos para todos", pedido que foi rejeitado pela FIFA.

Também a seleção australiana já se pronunciou. A menos de um mês do seu jogo de abertura, a 23 de novembro, a Austrália enviou, em formato de vídeo, uma mensagem de protesto. Nele, 16 jogadores da equipa criticaram o regime do Qatar pelo seu tratamento aos trabalhadores migrantes, bem como apelaram à despenalização das relações entre pessoas do mesmo sexo.

O Mundial mais caro de sempre

Em 2017, Ali Shareef Al-Emadi, ministro das finanças do Qatar, tinha afirmado a uma delegação de jornalistas convidados a visitar as obras para o Mundial 2022, que os custos totais da organização deste evento que chegariam a 187 mil milhões de euros e que até 2021 teria a expetativa de gastar mais de 440 milhões de euros por semana na construção de infraestruturas.

Segundo algumas estimativas recentes, os custos totais já ultrapassam os 200 mil milhões de euros, devido às derrapagens com algumas obras dos oito estádios.

O Campeonato do Mundo vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro no Qatar. A seleção portuguesa joga pela primeira vez contra o Gana, no dia 24 de novembro.

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