Porto: o caos no trânsito e as soluções sem luz verde
Porto Canal
Numa altura em que o trânsito na cidade do Porto chega a registar níveis de congestionamento que ultrapassam os 100% e o elevam a registos que ultrapassam as cidades europeias com maior congestionamento, identificamos algumas das soluções que ainda não saíram do papel, mesmo que o projeto já exista, como é o caso da expansão da rede de metro, cuja segunda fase deveria ficar concluída em 2022.
Caracterização do trânsito metropolitano
O tráfego na cidade do Porto é caracterizado maioritariamente por movimentos pendulares, comumente designados por commuting. Estas deslocações de pessoas entre municípios acontecem diariamente, seja para o trabalho, para a escola e de novo para o ponto de origem.
O destino, por norma, é o centro da cidade do Porto, não existindo, por isso, alternativas às infraestruturas existentes, que já estão sobrecarregadas, como é o caso da Ponte da Arrábida.
Além destes movimentos pendulares, as mesmas vias são igualmente usadas pelo tecido empresarial da região e não só que, na grande maioria, não necessitariam de atravessar o centro do Porto.
Desta forma, a grande quantidade de camiões ajuda a congestionar ainda mais o trânsito de vias como a Via de Cintura Interna.
Circular Regional Externa do Porto – CREP
Uma das soluções encontradas para resolver a aglomeração de veículos desnecessários – e para criar alternativas de circulação – foi a CREP, a Circular Regional Externa do Porto, que vai desde Perafita, em Matosinhos, pela A4, até Espinho, pela A41.
Esta seria uma ótima alternativa para atrair e retirar grande parte do trânsito do centro da cidade, mas o facto de ser portajada afugenta os possíveis utilizadores que, no final do mês, preferem ter mais horas no banco filas de trânsito do que mais dinheiro destinado às autoestradas portuguesas.
E é precisamente por isso que não cumpre um dos principais propósitos, ou seja, não é vista como uma alternativa para contornar o epicentro do trânsito na cidade.
Via de Cintura Interna
Outra das necessidades é a tentativa de alívio da VCI. Nesta via, só entre Paranhos e o Amial, por exemplo, passam em média mais de 140 mil carros por dia, em cada sentido.
O facto da infraestrutura estar no limite, levou agora o Governo a avaliar dois cenários, sendo que um deles obriga à eliminação dos pórticos da A4, com a introdução de outros dois: um na A28 e outro na A3.
Sistema de gestão integrada de semáforos
O sistema de semáforos da cidade é um dos elementos que também não tem ajudado na equação de alívio de trânsito da cidade. O sistema é obsoleto e tem de monitorizar cerca de 400 mil veículos por dia.
Depois de ter ficado a marinar desde 2016, por uma questão judicial, o novo sistema de gestão de semáforos do Porto já começou a ser implementado. Dos 272 controladores de tráfego, 88 foram substituídos, até ao momento. Mas a operação só deve ficar concluída em 2025, sendo que o próprio contrato termina em 2026.
Obras na baixa da cidade e crescimento do turismo
O caos no trânsito da cidade do Porto é igual ou ainda pior do que o que acontece nas zonas periféricas e de grandes vias.
Nesta altura, assiste-se a uma grande quantidade de obras de reabilitação urbana, não só de edifícios, assim como de obras de fundo, o que faz com que os passeios transitem para a via de circulação, provocando estreitamento das próprias vias e congestionamento.
Neste caso, também não existe alternativa. Além da necessidade estrutural destas intervenções, a baixa da cidade não permite escapatória no trajeto.
Adicionalmente, o turismo tem aumentado bastante. Uma situação positiva no balanço económico, facilmente abalroada pela falta de investimento existente, que não acompanha o crescimento turístico.
Um dos pontos evidentes é o transporte público, muito utilizado pelos que visitam a cidade, e cuja rede não é satisfatória.
Metro do Porto
Linha de Leixões
A servir as populações dos concelhos do Porto, Matosinhos, Maia e não só, está a linha de Leixões, entretanto destinada apenas a mercadorias, desde 1987.
O encerramento da linha à circulação de passageiros sempre foi muito contestado e a promessa de reabertura já tem mais de vinte anos, mas nunca chegou a acontecer.
Sabe-se, no entanto, que a recuperação desta linha está em cima da mesa e que poderá servir de extensão à alta velocidade, ainda que se desconheça o desenho do traçado entre o Porto e Vigo.
Modos suaves
No contexto europeu, Portugal é um dos países com uma maior taxa de uso de automóveis por cidadão. Em Portugal, só no primeiro trimestre de 2022, os novos registos subiram de 10.786 veículos para 12.469, o que representa um aumento de 15,6%.
Algumas zonas do Porto refletem essa mesma realidade, até nas áreas de expansão mais recentes, como é o caso da Asprela. Esta zona da cidade cresceu exclusivamente a pensar no automóvel, até à chegada do metro, mas continua a tardar a integração dos modos suaves, como modo preferencial de transporte.