Porto timorense de Tibar, maior infraestrutura do país, a operar em 10 dias
Porto Canal / Agências
As gruas pórtico de descarga de contentores, instaladas no cais do porto de Tibar, nos arredores de Díli, são hoje a estrutura mais alta de Timor-Leste, dominando a paisagem da maior infraestrutura da história do país.
Com 80 metros de altura, as duas gruas são o elemento mais visível da infraestrutura, o primeiro grande projeto em modelo de parceria público-privada, entre o Governo timorense e a francesa Bolloré, do país, para entrar em funcionamento dentro de apenas dez dias.
"Fizemos no final da semana passada os primeiros testes de descarga com dois navios da linha Mariana, subsidiária da PIL. Descarregámos cerca de 500 contentores em menos de 24 horas para cada navio e carregámos 22 contentores cheios para exportação", disse à Lusa o presidente do conselho de administração da Timor Port, Laurent Palayer.
"Estamos muito contentes e as autoridades também estão muito contentes. Aguardamos agora a certificação para operar em pleno a 30 de setembro. A partir daí, deixaremos de ter atracagem de navios mercantes no porto de Díli", referiu.
O gigantesco espaço -- as gruas são visíveis muito antes de se chegar a Tibar -- não podia contrastar mais com o que existia no mesmo local há cinco ou seis anos: algumas cabanas toscas de pescadores e pequenos barcos a remos ou a motor.
Mais do que uma mudança no espaço, a operacionalização dos 27 hectares do porto de Tibar representa uma alteração significativa nos transportes marítimos de carga de e para Timor-Leste.
Até aqui, o transporte de carga é fortemente condicionado pela dimensão limitada do porto de Díli, por só receber navios com grua, que não existe em terra, por atrasos no processamento de contentores, 'custos extra', muitas vezes 'escondidos', e um forte impacto no espaço urbano da cidade, com torres de contentores e trânsito de camiões.
A partir de 30 de setembro, todos os navios de carga começam a descarregar em Tibar. Os contentores cheios, já em Díli, serão entregues aos clientes e os vazios serão transferidos para a nova infraestrutura.
Numa primeira fase, o porto de Díli vai passar a servir apenas para o transporte de passageiros e pequena carga para Ataúro e Oecusse.
Depois, eventualmente, para um espaço de recreio e uma marina.
A mudança vai afetar tudo: desde a dimensão e tipo de navios que podem vir até Timor-Leste, à forma como os contentores são processados em terra e, argumenta a Bolloré, vai representará custos mais reduzidos para os importadores, especialmente pelas economias de escala que passam a ser possíveis.
Atualmente em visita a Díli, o diretor executivo da Bolloré para portos e concessões, Olivier de Noray, disse à Lusa que "a tarifa não é a mesma, mas haverá poupanças porque as transportadoras podem trazer navios de maior dimensão, permitindo maior escala".
"Díli, atualmente, trata-se de um mercado nicho, com navios especiais, com gruas, e que são mais caros para o transporte", referiu.
Atualmente, por exemplo, o transporte de um contentor de 20 pés de Surabaya para Kupang, na Indonésia, é de cerca de 650 dólares (650 euros) e para Díli, mais 12 horas de viagem, é mais do dobro, com um número reduzido de operadores.
"Com esta nova infraestrutura, pode haver muitas outras empresas e a competição aumenta", considerou Noray.
Laurent Palayer concordou e referiu que Kupang é mais barato, em termos de tarifas, "porque funciona como porto doméstico, como 'hub' a nível provincial de carga que vem de portos internacionais no arquipélago, como Surabaya".
"Como é doméstico, é subsidiado pelo Governo indonésio, e por isso tem tarifas mais baixas", indicou.
"Hoje fala-se muito do aumento de custos. Haverá um aumento de custos cobrados às empresas marítimas. A questão é se as empresas marítimas tentam recuperar estes custos com o consignatário", referiu Palayer.
A Meratus, o maior operador de contentores para Timor-Leste e que transporta a maior parte da carga para o país, já anunciou que vai passar a totalidade do aumento de custos para os consignatários, para recuperar 100% dos custos extra do porto de Tibar.
Palayer disse que as autoridades devem estar "muito vigilantes" sobre esta questão, notando que a Meratus tem beneficiado, durante duas décadas, de um quase monopólio muito penalizador em termos de custos para Timor-Leste.
"Na verdade, têm estado a trabalhar num mercado nicho, sem competição, com grandes margens de lucro. E agora, em vez de ajustarem os preços, querem apenas aumentar. Na prática vão poupar dinheiro: menos tempo de espera, menos tempo no porto e a capacidade de trazer navios maiores", explicou.
"No mercado de 'charters' de navios, há menos navios da dimensão que o porto de Díli pode receber. Com Tibar a funcionar será mais fácil e mais barato contratar navios no futuro, incluindo porque podem deixar de ser navios com gruas. Isto representa economia de escala. Em vez de quatro navios por mês bastarão dois navios, por exemplo. Vão poupar muito dinheiro, mas não querem admitir isso", afirmou.
Palayer notou mesmo que várias grandes empresas não queriam operar em Timor-Leste, devido às grandes limitações, e que atualmente empresas em Singapura rejeitam contentores para Díli por não existir capacidade.