PS diz que fundamentos da multa da CNPD "são completamente atacáveis"

| Política
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 14 jan 2022 (Lusa) -- O ex-vice-presidente da Câmara de Lisboa João Paulo Saraiva (PS) disse hoje que os fundamentos da multa da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) "são completamente atacáveis" e considerou "uma vergonha" a reação da atual liderança do município.

"Vamos admitir, por absurdo, que essa seria a coima final - 1,2 milhões de euros. Significa 0,1% do orçamento da câmara [proposta de 1,16 mil milhões de euros para 2022]", afirmou o socialista João Paulo Saraiva, rejeitando as palavras da atual liderança da Câmara de Lisboa, sob a presidência de Carlos Moedas (PSD), de que a multa da CNPD "coloca em causa opções e apoios sociais previstos no orçamento agora apresentado".

"Acho que devia haver decoro por parte do presidente da câmara Carlos Moedas e da sua equipa quando se fazem afirmações deste género, porque a única palavra que me surge, assim à primeira, é [que é] uma vergonha dizer uma coisa deste género, é um absurdo", declarou o ex-vice-presidente da Câmara de Lisboa (no anterior executivo, presidido pelo socialista Fernando Medina) e atual vereador da oposição, sem pelouro atribuído.

Em declarações à agência Lusa, João Paulo Saraiva recusou ainda a ideia de que a multa da CNPD "é uma pesada herança" do anterior executivo, considerando que tal afirmação por parte da atual liderança municipal é uma "falta de decoro total, político e pessoal". Quando o PS assumiu a liderança do município após a governação do PSD, acrescentou, "recebeu mil milhões de euros de dívidas e 500 milhões de euros de dívidas a fornecedores".

Em causa está a decisão da CNPD de multar a Câmara de Lisboa em 1,2 milhões de euros no processo relativo ao tratamento de dados pessoais de participantes em manifestações, confirmada hoje à Lusa por fonte oficial do município.

Para o autarca socialista, a autarquia deve recorrer da decisão da CNPD e "o PS apoiará todas as iniciativas de recursos sobre esta matéria".

Para João Paulo Saraiva, as questões apresentadas pela CNPD "são completamente atacáveis", nomeadamente a atribuição de ação dolosa a todos aqueles que participaram nos processos decisão sobre esta matéria, o que "não tem qualquer sustentabilidade jurídica", e a transmissão da informação sobre quem são os promotores das manifestações à Polícia de Segurança Pública (PSP): "Num conjunto apreciável das 225 infrações que são referidas no relatório, cerca de 111 têm envio a entidades terceiras, nomeadamente a PSP".

O ex-vice-presidente destacou também o histórico da CNPD, sublinhando que "1,2 milhões de euros não é a maior coima" - as mais elevadas foram aplicadas ao Hospital do Barreiro (a comissão propôs cinco milhões de euros e acabou por não cobrar nada) e à operadora de telecomunicação Optimus, em que a multa inicial era de cerca de quatro milhões de euros e acabou por ser aplicada no valor de 100 mil euros.

"Se não fosse por outro motivo, que há muitos outros e melhores do que este, este seria um bom motivo por si só para recorrer", apontou.

O socialista considerou que o valor da coima à autarquia "não tem expressão" comparado com os montantes divulgados inicialmente. No seu entender, "a CNPD alimentou e deixou que fosse alimentado que seriam centenas de milhões de euros", antes do trabalho de auditoria interna que a câmara fez e da defesa que apresentou à comissão.

"Estou só a relativizar o facto de na altura se ter falado que, para além da questão reputacional do município, havia a questão financeira em centenas de milhões de euros", expôs, recusando a ideia de desvalorização e desresponsabilização da situação, que "é grave".

Sobre o que poderá ser a coima final após a câmara recorrer, João Paulo Saraiva defendeu que "será um valor completamente insignificante relativamente àquilo que foram os valores iniciais e mesmo relativamente ao valor que está agora em cima da mesa".

A Lusa tentou contactar, sem sucesso, o anterior presidente Fernando Medina.

A CNPD tinha já anunciado em julho de 2021 -- quando a autarquia era ainda liderada pelo socialista Fernando Medina - a identificação de 225 contraordenações nas comunicações feitas pelo município no âmbito de manifestações, comícios ou desfiles.

O processo foi aberto devido a uma participação - que deu entrada na CNPD em 19 de março de 2021 - relativa à comunicação à embaixada da Rússia em Portugal e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo de dados pessoais dos promotores de uma manifestação realizada junto à embaixada.

Após a vitória nas autárquicas de setembro de 2021 à frente da coligação "Novos Tempos" (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), Carlos Moedas governa o município de Lisboa, mas sem maioria absoluta.

No atual mandato (2021-2025), o executivo é composto por sete eleitos pela coligação "Novos Tempos" -- três do PSD, dois do CDS-PP e duas independentes -, que são os únicos com pelouros atribuídos; sete pela coligação "Mais Lisboa" -- cinco do PS, um do Livre e uma independente -; dois da coligação PCP/PEV -- ambos do PCP -; e uma do BE.

SSM (ROC/TFS) // ROC

Lusa/fim

+ notícias: Política

“Não há condições políticas” para regresso do Serviço Militar Obrigatório, garante ministro da Defesa

O ministro da Defesa Nacional admitiu que “hoje não há condições políticas” para voltar a impor o Serviço Militar Obrigatório (SMO), sugerindo que os jovens que optem pelas Forças Armadas tenham melhores condições de entrada na universidade ou função pública.

"Acabarei por ser inocentado", diz Galamba sobre caso Influencer

O ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, disse esta sexta-feira que acredita que vai ser inocentado no processo Influencer e discorda que a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, deva prestar esclarecimentos no Parlamento.

Governo responde a Marcelo. "Não está em causa nenhum processo" para reparação do passado colonial

O Governo afirmou este sábado que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português e defendeu que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.