Sindicato diz que Governo está de "mãos dadas" com Galp sobre fecho da refinaria de Matosinhos

Sindicato diz que Governo está de "mãos dadas" com Galp sobre fecho da refinaria de Matosinhos
| Economia
Porto Canal com Lusa

O Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (SICOP) acusou hoje o Governo de estar de "mãos dadas" com a petrolífera Galp que anunciou na segunda-feira o encerramento da refinaria de Matosinhos, pondo em causa a sustentabilidade de milhares de famílias.

Em comunicado, o SICOP refere que a decisão de encerramento da atividade de refinação na unidade de Matosinhos, no distrito do Porto, põe em causa cerca de 500 postos de trabalho diretos, mais de 1.000 referentes a trabalhadores das empresas de prestação de serviços.

O sindicato recorda também que em causa estão as "muitas micro, médias e pequenas empresas que produzem bens e serviços para a Petrogal, algumas em regime de exclusividade, e muitos postos de trabalho na refinaria de Sines e na sede em Lisboa".

"O Governo minoritário do PS, mais uma vez, de mãos dadas com a Administração da Petrogal pretende destruir milhares de postos de trabalho, afetar drasticamente a economia da região norte e do país e pôr em causa a sustentabilidade de milhares de famílias (...). Na obsessão de cumprir 'com distinção' as orientações da União Europeia para a transição energética, o Governo não olha a meios e a qualquer custo pretende mostrar a Bruxelas que é o 'melhor aluno'", acusa o sindicato.

O SICOP acrescenta que "depois da decisão do encerramento das centrais de Sines e do Pego já para 2021, o Governo ignorou todos os alertas e preocupações manifestadas" quer pelos sindicatos, quer pela Comissão de Trabalhadores e "decidiu, uma vez mais, dar continuidade à destruição da economia, local e nacional, do emprego e das condições condignas da vida de milhares de famílias".

A Galp anunciou na segunda-feira que vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano, uma decisão que o Governo já referiu que "levanta preocupações" em relação ao destino dos trabalhadores, mas lembra que as medidas anunciadas se inserem num processo que visa a descarbonização do setor energético.

A decisão da Galp de concentrar operações em Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano foi avançada em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Nele se refere que a empresa "continuará a abastecer o mercado regional mantendo a operação das principais instalações de importação, armazenamento e expedição de produtos existentes em Matosinhos", e que está a "desenvolver soluções adequadas para a necessária redução da força laboral e a avaliar alternativas de utilização para o complexo".

Para quarta-feira está marcado um plenário geral de trabalhadores na cantina da refinaria de Matosinhos com a participação da secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, bem como do coordenador da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas (FIEQUIMETAL), Rogério Silva.

No comunicado enviado hoje à agência Lusa, o SICOP dá conta de que "nos contactos realizados para repudiar e travar esta ofensiva" à refinaria de Matosinhos realizou na quarta-feira reunião com o candidato presidencial João Ferreira, e na próxima segunda-feira reunirá com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

O SICOP refere, ainda, que "nas reuniões promovidas pelos representantes dos trabalhadores destaca-se a hipocrisia dos Ministérios, do Trabalho, do Ambiente e da Economia, que, ao mesmo tempo que manifestavam cínica preocupação, congeminavam a desgraça com a Administração da Petrogal".

O sindicato aponta, por fim, que os representantes dos trabalhadores têm "batido a todas as portas" e está agendada reunião com o grupo parlamentar do PSD para 07 de janeiro e que foram também realizadas reuniões com os municípios e com as entidades regionais.

Na terça-feira, o ministro do Ambiente considerou que a Galp "está obrigada a fazer mais do que a lei" no que diz respeito à situação dos trabalhadores da refinaria de Matosinhos, cujas operações serão descontinuadas a partir do próximo ano.

Antes, na segunda-feira, numa carta enviada ao gabinete de João Pedro Matos Fernandes, a câmara de Matosinhos liderada pela socialista Luísa Salgueiro exigiu saber que medidas excecionais serão ativadas pelo Governo para "prevenir o colapso" de empresas que dependem da refinaria da Galp localizada há 50 anos no concelho.

Vários partidos políticos solicitaram já uma audição, com caráter de urgência, do ministro do Ambiente e da Ação Climática.

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