Covid-19: Restrições à ajuda humanitária colocam em risco rohingyas no Bangladesh
Porto Canal com Lusa
Banguecoque, 28 abr 2020 (Lusa) -- A organização Human Rights Watch (HRW) alertou hoje que as novas restrições do Governo do Bangladesh em relação à ajuda humanitária nos campos de refugiados, devido à pandemia da covid-19, colocam em risco a minoria muçulmana rohingya.
Segundo a organização não-governamental (ONG), as medidas do Governo do Bangladesh reduziram em 80% a atuação dos trabalhadores humanitários nos campos de refugiados, que ficam em sério risco de escassez de alimentos e água, além da propagação de doenças.
Para a HRW, as autoridades de Bangladesh devem garantir que quaisquer medidas de contenção não impedem a capacidade dos grupos de ajuda humanitária de fornecer comida, água e assistência médica, e não impedem estes funcionários de proteger os refugiados em maior risco, incluindo mulheres e jovens mulheres que enfrentam violência e abuso doméstico.
Em 08 de abril, o comissário do Bangladesh para os refugiados e o repatriamento emitiu uma diretiva que restringe os serviços e a entrega de equipamentos, entre outros, nos campos de refugiados da minoria rohingya aos chamados "essenciais" e reduz o acesso à equipa de ajuda humanitária em 80%.
Embora essas medidas tenham sido adotadas para evitar um surto de covid-19 nos campos, 14 trabalhadores humanitários entrevistados pela Human Rights Watch disseram que a drástica redução na capacidade de operações afetou a sua capacidade de executar mesmo os serviços considerados "essenciais".
Os profissionais de saúde disseram que essas interrupções podem impedir uma resposta médica imediata ao vírus e podem ter consequências a longo prazo para a saúde.
Mais de 900.000 refugiados rohingya vivem em campos de refugiados no sul de Bangladesh depois de fugirem da perseguição do Governo de Myanmar (ex-Birmânia).
As condições extremamente restritas tornam os campos vulneráveis à rápida disseminação do vírus do novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, se ocorrer um surto.
A nova diretiva do Governo mantém os serviços "essenciais", incluindo saúde, nutrição, água, alimentação, gás, higiene, saneamento, tratamento de resíduos, identificação de recém-chegados e "garantia de confinamento".
No entanto, os trabalhadores humanitários disseram que as restrições de pessoal e um 'blackout' na Internet estão a obstruir os seus esforços para fornecer até esses serviços básicos e responder efetivamente à ameaça da covid-19.
A redução de pessoal também interrompeu alguns programas de vacinação, como a vacina contra o sarampo. Os campos já haviam tido surtos de sarampo e outras doenças infecciosas.
Alguns campos estão a enfrentar sérios problemas de escassez comida e água. Dezassete refugiados de quatro assentamentos - campos 7, 9, 11 e 18 - disseram à Human Rights Watch que as rações alimentares não foram reabastecidas e estão a diminuir e que algumas áreas não têm água potável.
A violência contra mulheres e meninas tem sido um problema generalizado nos campos. No entanto, as recentes medidas de bloqueio cessaram todas as atividades de proteção, incluindo acesso a "espaços adequados para crianças e mulheres" e gerenciamento de casos de violência com base no género.
Ativistas de direitos das mulheres disseram que, desde o início do bloqueio, têm aumentado a violência doméstica e os casos de abuso sexual. Porém, devido às restrições nas comunicações, os trabalhadores humanitários não conseguem coordenar remotamente os serviços de suporte e proteção.
Alguns trabalhadores humanitários autorizados a entrar nos campos tiveram de adiar serviços essenciais porque não dispunham de equipamentos de proteção individual para se protegerem da covid-19.
Segundo a ONG, a ONU e os doadores devem trabalhar com o Governo de Bangladesh para garantir que todos aqueles que prestam serviços essenciais, incluindo voluntários, tenham equipamento suficiente, disse a Human Rights Watch.
As restrições à Internet e aos serviços telefónicos facilitaram a disseminação de informações erradas, impedindo aos refugiados procurarem atendimento médico urgente.
Vários refugiados disseram que, depois de as clínicas locais os rejeitarem por falta de capacidade de atendimento, foram encaminhados para os Médicos Sem Fronteiras (MSF), mas as forças de segurança detiveram-nos nos postos de controlo e impediram-nos de chegar às clínicas de MSF nos arredores do campo.
Quaisquer medidas tomadas para restringir o movimento por motivos de saúde pública ou emergência nacional devem ser legais, necessárias e proporcionadas, além de não discriminatórias, defendeu a HRW.
Segundo a ONG, as autoridades do Bangladesh devem usar as melhores práticas para aumentar a prontidão contra a covid-19 nos campos sobrelotados.
CSR // FPA
Lusa/Fim