Covid-19: Curandeiros são fulcrais para suster epidemia incontrolável em Moçambique
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 29 mar 2020 (Lusa) - O investigador Paulo Granjo considerou hoje à Lusa que Moçambique deve aproveitar a rede de curandeiros para promover as medidas de isolamento social contra a covid-19, alertando que se a pandemia chegar às zonas rurais será incontrolável.
"Moçambique deve pagar todos os custos necessários do isolamento social dentro das condições muito difíceis em que as pessoas têm de subsistir, sobretudo nas cidades, onde a morfologia é muito concentrada, e para esse convencimento da população é fulcral não apenas o Estado falar, mas falar também com a enorme rede de curandeiros que existe no país", disse o investigador do Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa.
Em entrevista à Lusa a propósito dos efeitos da pandemia de covid-19 em Moçambique, Paulo Granjo alertou que "o Estado deve informar os curandeiros para que compreendam o que está em causa e mobilizá-los como as pessoas mais eficazes para convencerem as populações, que conhecem, da gravidade do que pode acontecer".
Para o investigador, que estuda Moçambique há 30 anos, é imperativo que o Estado promova "todas as formas possíveis de isolamento social para evitar a propagação da epidemia porque se ela se propaga vai tornar-se incontrolável e não há condições de resposta a ela, porque os países que poderiam normalmente ajudar estão, eles próprios, com um problema e até já a retirar pessoas das embaixadas" em Maputo.
"Não há, de todo, capacidade de resposta por parte do sistema de saúde a uma epidemia se ela se generalizar, nem nas grandes cidades e muito menos há quando vamos para os distritos rurais, onde há centros de saúde abertos apenas nas horas de expediente, muitas vezes sem água e sem eletricidade, e sem médicos, só com enfermeiros", disse o investigador.
"Se alastrar para as zonas rurais, temo que seja uma catástrofe incontrolável", por isso "Moçambique tem de apostar tudo no isolamento social para evitar que a epidemia se estenda, e sobretudo se estenda a áreas onde a capacidade de resposta em termos sanitários é menor", concluiu.
Moçambique tinha detetado, até este sábado, oito casos positivos de infeção pelo novo coronavírus, responsável pela covid-19.
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