Covid-19: Oposição da Guiné Equatorial diz que fundo criado pelo Governo é insuficiente
Porto Canal com Lusa
Malabo, 26 mar 2020 (Lusa) -- O líder do partido da Convergência para a Democracia Social (CPDS, oposição) da Guiné Equatorial, Andrés Esono Ondo, saudou a criação de um fundo pelo Governo de Malabo, mas assinala que este "é pouco" para combater a pandemia da covid-19.
Numa conversa telefónica com a Lusa, Andrés Esono Ondo considerou que a criação de um Fundo Nacional de Emergência de luta contra o novo coronavírus não vai permitir a satisfação das necessidades previstas para a contenção da covid-19 no país.
"Parecem-me insuficientes as medidas tomadas pelo Governo", disse o opositor, acrescentando: "O Governo contribuiu com 5.000 milhões de francos CFA [7,62 milhões de euros]. Isto não é nada".
Em causa está a criação de um Fundo Nacional de Emergência contra o Coronavírus anunciado pelo Governo de Malabo em 20 de março. O Governo equato-guineense anunciou que contribuiria com os 5.000 milhões de francos CFA e instou cidadãos, empresas e organizações não-governamentais a contribuírem para este fundo.
O opositor referiu que a Guiné Equatorial é "um país onde se gastou 40 mil milhões de francos CFA num centro comercial, oito vezes mais do que o que o Governo disponibiliza agora para lutar" contra o novo coronavírus.
Andrés Esono Ondo assinalou que são necessários fundos para a aquisição de material como 'kits' de teste, máscaras, desinfetante e ventiladores.
O opositor mostrou-se ainda preocupado com a falta de apoio a trabalhadores de pequenas empresas e do comércio, que "vão ficar sem trabalho" caso não haja um devido apoio pelo Governo equato-guineense.
O líder partidário comparou os fundos agora disponibilizados, com os cedidos à China para o combate à pandemia, no início de fevereiro.
"Se o Governo foi capaz de utilizar dois milhões de dólares [1,8 milhões de euros] para ajudar a China, não deve utilizar apenas oito [milhões de dólares, 7,34 milhões de euros]" no seu país, vincou.
Num comunicado emitido na quarta-feira, o CPDS assinalou que "noutros países, os governos implicam todas as suas forças políticas e sociais na luta contra o coronavírus, porque, ao ser uma questão de saúde pública com implicações sociais, deve haver unidade e consenso para enfrentar a situação",
À Lusa, Andrés Esono Ondo mostrou-se ainda com dúvidas sobre a veracidade dos números que Malabo vai anunciar sobre a propagação da covid-19 no país.
"Acredito que não, e essa é outra preocupação", afirmou, dando o exemplo de oito casos que terão chegado ao país num voo oriundo de Espanha, em 13 de março, e que não foram devidamente acompanhados.
Segundo dados publicados pelo Governo da Guiné Equatorial na noite de quarta-feira, o país regista 11 casos em território nacional, tendo registado pela primeira vez contágio local.
"O Comité Técnico tomou todas as medidas necessárias para a transferência dos novos casos para a unidade de gestão e monitorização em Bata. Assim, até à data, temos um total de 11 casos positivos no país", referiu então Malabo.
Apesar do atual baixo número de casos, Andrés Esono Ondo espera haja uma reciprocidade por parte das autoridades chinesas.
"Quando a epidemia começou, a Guiné Equatorial apoiou a China, e espero que a China possa ajudar a lutar contra esta epidemia", concluiu o líder partidário.
No comunicado de quarta-feira do seu partido, o CPDS pediu às autoridades para que "endurecessem as medidas de confinamento da população" e que "mobilizassem as Forças Armadas e de Segurança do Estado para velarem pelo cumprimento das medidas", apelando, no entanto, para que haja uma "proibição expressa de agredir os cidadãos".
Ao mesmo tempo, o partido solicitou ao Governo para apoiar os trabalhadores que estejam confinados em casa, considerando que o executivo "terá de pagar os seus salários durante o período" de isolamento.
O CPDS exortou também o Governo para que se dirija "aos cidadãos que beneficiaram do 'boom' do petróleo e recolheram grandes fortunas e exigir-lhes que (...) coloquem solidariamente os seus recursos económicos e materiais à disposição de um país que tanto lhes tem dado".
O número de mortes causadas pela covid-19 em África subiu hoje para 72 com o número de casos acumulados a ultrapassar os 2.700 em 46 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 450 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 20.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
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