Fecho em Viana pode representar acréscimo de até 12% no desemprego do distrito

Fecho em Viana pode representar acréscimo de até 12% no desemprego do distrito
| Norte
Porto Canal

A União de Sindicatos de Viana do Castelo (USVC) disse hoje que o anunciado encerramento dos estaleiros navais poderá representar um acréscimo de até 12% no desemprego do distrito, onde 16.330 pessoas não têm trabalho.

As contas foram feitas à agência Lusa pelo sindicalista Branco Viana, garantindo que servem para alertar para a "situação caótica" e de "calamidade" em que o distrito ficará envolvido se se concretizar o encerramento do maior construtor naval português.

"No pior dos cenários, porque para nós é apenas uma situação hipotética [anunciado encerramento dos estaleiros] contra a qual continuaremos a lutar, estamos a falar de um impacto na taxa de desemprego em todo o distrito que vai dos 4% aos 12%, a curto prazo, também indiretamente", explicou Branco Viana.

Em causa está o anunciado encerramento dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), no âmbito da subconcessão de terrenos, equipamentos e infraestruturas ao grupo Martifer, já em janeiro, e que envolve o despedimento dos atuais 609 trabalhadores da empresa pública.

Em termos indiretos, são os próprios empresários que estimam uma ameaça sobre mais 4.000 postos de trabalho na região - que conta com menos de 250.000 habitantes - em vários setores de atividade que dependem dos estaleiros ou do dia-a-dia dos seus trabalhadores.

"A concretizar-se, o distrito passará a ter a taxa de desemprego percentual mais alta do país. Em Viana do Castelo, que contava segundo dados do IEFP [Instituto de Emprego e Formação Profissional] com 6.407 desempregados em outubro, estimámos um impacto potencial entre 5% e 10%, tendo em conta que nem todos os trabalhadores são do concelho", sublinhou o coordenador da USVC.

Numa posição conjunta recentemente assumida pela Associação Empresarial de Viana do Castelo e pela Confederação Empresarial do Alto Minho, os empresários manifestaram também "enorme discordância e repúdio" pela forma como o caso foi resolvido pelo Governo. Um processo "doloroso, tortuoso, demonstrativo de inabilidade política e, como má prática, merecedor de cuidado estudo no domínio da economia e gestão", sustentam.

O grupo Martifer anunciou que estima criar, em três anos, cerca de 400 postos de trabalho através da subconcessão, recrutando preferencialmente atuais trabalhadores dos estaleiros. No entanto, para o sindicalista Branco Viana, o encerramento dos ENVC assumiria um "efeito dominó", a curto e médio prazo, "terrível" para a região, em setores que vão da metalomecânica à restauração.

"Estes números servem para chamar a atenção para o efeito social. Passaríamos a ter o distrito mais empobrecido do país o que obrigaria, a curtíssimo prazo, estas pessoas a deixarem a região", apontou o coordenador Branco Viana, reclamando, tal como a comissão de trabalhadores e a autarquia, a suspensão do encerramento.

A preocupação ganha rosto, igualmente, em José Machado, o responsável pela Cáritas de Viana do Castelo, instituição que já hoje não tem capacidade para dar resposta aos pedidos de apoio.

"Se com os estaleiros a funcionar temos estas solicitações, então não sei como será a partir de 01 de janeiro. Estamos muito preocupados com o que vem aí", contou, apreensivo, o dirigente da Cáritas, instituição que em 2006 apoiava 481 famílias da região.

Em 2013, só até 30 de novembro, esse apoio, de todo o tipo, já se cifrava em 1.356 famílias, representando 3.718 pessoas.

"Nesta altura não temos nenhum plano de emergência preparado [para os ENVC], mas estamos prontos a intervir, inclusive vamos tentar agendar uma reunião com a comissão de trabalhadores", admitiu ainda José Machado.

O plano de rescisões amigáveis proposto pela administração dos ENVC aos 609 trabalhadores prevê indemnizações de um salário por cada ano de trabalho e vai custar 30,1 milhões de euros. Segundo a administração, há ainda direito a subsídio de desemprego e 230 terão acesso à reforma.

Os primeiros trabalhadores que aceitaram sair da empresa por mútuo acordo começaram na sexta-feira a rescindir os respetivos contratos, segundo fonte da administração da empresa.

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