Luís Filipe Menezes diz-se "perseguido" pela imprensa e afirma ser "mentira" que câmara de Gaia esteja em ruptura financeira

| Política
Porto Canal

O anterior presidente da Câmara de Gaia, o social-democrata Luís Filipe Menezes, negou terça-feira que a autarquia estivesse em ruptura financeira quando a deixou, acusando o actual executivo socialista de "falta de capacidade de afirmação".

"É mentira que esteja em dificuldades económicas e problemas de rutura financeira. Como pode estar em rutura financeira uma câmara que tem uma dívida de curto prazo de 30 milhões e não estava, quando eu a geri, com uma dívida de curto prazo de 80 milhões? Há uma falácia nisto", disse Luís Filipe Menezes numa entrevista ao Porto Canal.

Menezes começou por defender que durante a campanha eleitoral que travou em setembro, quando era candidato à Câmara do Porto, houve, por parte dos seus adversários, "uma grande tentativa de descredibilizar a obra feita em Gaia, colocando o acento tónico naquilo que seria o endividamento excessivo da Câmara de Gaia" e que este passou a ser, após as eleições, o "discurso oficial do atual executivo de Gaia".

O ex-autarca apresentou documentos sobre a conta de gerência de 2013, vincando que o relatório mereceu aprovação do atual presidente da Câmara de Gaia, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, estabelecendo a dívida da Câmara de Gaia, em 2013, em 196 milhões de euros, dizendo que este valor significa "cerca de 10% do investimento total realizado no concelho".

O ex-presidente estimou mesmo que o endividamento de curto prazo, ou seja de tesouraria, atual da autarquia de Gaia seja de 24 milhões de euros.

"A Câmara de Gaia, face ao brutal volume de investimentos que fez, tem problemas de tesouraria ainda? Sim, tem. Mas só 55 câmaras portuguesas tiveram super avit orçamental. Também deixei indicadores económicos excecionais", disse, dando como um dos exemplos o facto de a Câmara de Gaia ser "a terceira no país com menos funcionários por habitante".

"Ele [referindo-se a Eduardo Vítor Rodrigues] tem obrigação este ano de poupar 30 [milhões de euros] ou mais a continuar as políticas que deixei e chegar daqui a um/dois anos numa situação completamente equilibrada", referiu.

Num primeiro período de entrevista dedicado a "desmontar" a ideia de que deixou a câmara de Gaia em más condições financeiras, Menezes falou em "falta de capacidade de afirmação, de esperança, de confiança e de projeto alternativo" para explicar o porquê do atual executivo falar em dificuldades financeiras.

O ex-autarca enumerou mesmos nomes que foram reconduzidos pela liderança socialista nos cargos que ocupavam quando o social-democrata era presidente para concluir que se se fossem responsáveis por má gestão ou "incompetentes" isso não teria acontecido.

"As Águas de Gaia [empresa municipal] estão muito bem. Em 2015 não terá lucro mas estará numa situação de equilíbrio total. É uma empresa enxuta, com ativos fabulosos. Está uma auditoria em curso, não sei com que resultados, mas peço que o senhor presidente da câmara rapidamente ponha os resultados cá fora", desafiou Menezes.

Com estas afirmações, o ex-autarca contrariava as declarações de Vítor Rodrigues, que em junho anunciou estar a trabalhar na "salvação" da empresa Águas de Gaia por esta ter registado que em 2013 um prejuízo de 3,8 milhões de euros.

"A Gaiurb e a Gaiasocial estão bem (?). Fala-se muito da Gaianima (?). Eu extingui a Gaianima mas esta câmara ainda não conseguiu fechá-la. A dívida da Gaianima é, dito pela câmara de quatro milhões, mas não é, é de quatro", afirmou, lembrando que o presidente "por mais tempo da Gaianima" é José Guilherme Aguiar, atual vereador independente da câmara assumiu uma coligação com o PS.

Menezes desvaloriza investigações sobre época em que presidia à câmara de Gaia

O social-democrata Luís Filipe Menezes desvalorizou esta terça-feira as notícias que o têm envolvido em investigações levadas a cabo pelo Tribunal de Contas (TdC) e pela Polícia Judiciária (PJ) sobre contratos feitos enquanto era presidente da câmara de Gaia.

Em entrevista ao Porto Canal, o antecessor do socialista Eduardo Vítor Rodrigues e ex-candidato à câmara do Porto nas autárquicas de setembro de 2013, começou por usar a expressão "tsunami" para definir os seus últimos meses e a palavra "perseguido" a abordar a sua relação com a imprensa.

Um dos temas que mais tem sido alvo de notícias é, e também de acordo com uma espécie de resumo feito por Menezes ao longo de hora e meia de "Grande Entrevista" naquela estação de televisão regional, a renovação do contrato de limpeza urbana de Gaia com a empresa SUMA do Grupo Mota-Engil.

"Fui presidente de câmara 16 anos. Licenciei milhões de metros quadrados de construção numa terra que era tida como a do caos urbanístico. Não vejo ninguém dizer que há um metro quadrado de construção que foi mal concedido (...).O que eu vejo aí uma salada de massa enrolada. Acho muito estranho e muito absurdo", disse Menezes.

O ex-autarca explicou que a renovação de contrato com a SUMA aconteceu no âmbito da adesão a um pacto europeu de autarcas que se comprometiam a reduzir as emissões de CO2, contando que coube à empresa municipal Águas de Gaia negociar.

Mas Menezes disse ter exigido "pareceres jurídicos sólidos" e "parecer de visto do TdC", entidade que, de acordo com o antigo presidente, que só aprovava "minutas de contratos", pelo que decidiu avançar para uma reunião com o então líder da oposição - ou seja o atual presidente de câmara, Vítor Rodrigues, que era vereador do PS - pois o processo teria repercussões num novo mandato.

"Escreveu-se nos jornais que isto custava mais quatro milhões de euros por ano. Não, isto significa uma poupança de quase dois milhões de euros por ano", garantiu Menezes.

Questionado sobre se a oposição teve acesso a todos os pormenores do contrato, o ex-autarca respondeu peremptoriamente: "absolutamente todos".

"A quem é que levanta dúvidas? A mim não. Ao presidente de câmara não levantará dúvidas. Tenho confiança absoluta nos magistrados portugueses e se alguma vez analisarem esta questão não lhes suscitará dúvidas (...). Porque me fizeram esta perseguição? Não sei", concluiu Menezes.

Quanto à sua ligação à Mota Engil disse que não se sentirá "nada inibido com isso", respondendo à questão sobre se poderá vir a ser convidado para trabalhar nesta empresa, aproveitando mesmo para apontar como exemplo Jorge Coelho que esteve na direção do grupo após ter sido ministro em Governos de António Guterres (PS).

"Contratos vulgares" e com valores "nada extravagantes" foi como resumiu as notícias sobre assessorias jurídicas e de comunicação e quanto ao seu património garantiu que "está legalíssimo", confidenciando que "há 15 anos era muito maior".

"Acha-me disponível para me albergar atrás de qualquer cargo?" questionou, por fim, quando confrontado com o facto de ser atualmente conselheiro de Estado, situação que lhe poderá conferir alguma imunidade em processos jurídicos.

A propósito do seu futuro, Menezes apontou que sobre um possível regresso à política "há quatro meses diria liminarmente não", mas muito devido aos ataques de que diz ter sido alvo "neste momento" não tem "a certeza".

 

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