Janelas partidas, grafitis e lixo. Torre em Campanhã continua inacabada e sem futuro à vista

Janelas partidas, grafitis e lixo. Torre em Campanhã continua inacabada e sem futuro à vista
André Arantes | Porto Canal
| Porto
Henrique Ferreira

A construção começou em 2018, mas passados quase seis anos o "gigante" edifício da Avenida 25 de Abril, em Campanhã, continua inacabado e sem previsão para entrar em funcionamento. Segundo a Câmara Municipal do Porto, os serviços do urbanismo da autarquia receberam um novo "pedido de licença especial para conclusão da obra" da torre de 13 andares construída junto à VCI.

Ao Porto Canal, fonte do Município do Porto explica, no entanto, que "o requerente não propõe efetuar qualquer alteração ao projeto inicialmente licenciado". Recorde-se que a torre foi desenhada para ser um hospital privado, mas o acordo terá alegadamente "caído" devido desentendimentos entre a promotora do projeto, a construtora Alexandre Barbosa Borges, e o Grupo Trofa Saúde.

O edifício está agora ao abandono, com várias janelas partidas, grafitis nas paredes e lixo no interior.

Torre não pode ser transformada em hotel

Perdura, por isso, a dúvida quanto ao destino final do edíficio. Isto porque a torre foi entretanto comprada pela Predi5, do empresário bracarense Domingos Névoa, que inicialmente mostrou a intenção de transformar o prédio numa unidade hoteleira, mas que nunca conseguiu a alteração do Plano Diretor Municipal (PDM).

Em resposta ao Porto Canal, a autarquia do Porto, dá nota de que o proprietário do prédio não voltou a solicitar a alteração do PDM desde que o último pedido foi recusado, em 2021.

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Construção começou em 2018, mas o projeto foi se arrastando no tempo e na justiça

Já em outubro de 2022, Pedro Baganha, vereador do urbanismo, explicava ao Porto Canal, que o edifício está em duas qualificações de solo distintas no Plano Diretor Municipal e que "apenas a zona mais baixa da torre é de implementação livre".

Ou seja, só a zona baixa do prédio pode ser transformada em habitação ou alojamento hoteleiro. O restante edifício, que corresponde à maioria da área bruta, só poderá receber serviços como hospitais, clínicas ou escolas, por exemplo.

De acordo com o alvará de licenciamento, consultado pelo Porto Canal, o edifício tem uma área bruta total de 17.478 metros quadrados. Desses, apenas 4500 não tem classe de equipamento. Os restantes 13 mil (ocupados pela torre), possuem essa classificação, ou seja, não poderão ser transformados num hotel.

Contactado pelo Porto Canal, o empresário Domingos Névoa, dono do edíficio, nunca quis prestar esclarecimentos sobre o futuro do prédio. O mesmo acontece com a construtora que continua sem responder às questões da imprensa.

Edifício ao abandono e com janelas vandalizadas

O ponto de situação atual é, por isso, de impasse. Os responsáveis não explicam qual será a finalidade do edifício e como poderá servir a população e a Câmara do Porto garante que além dos pedidos que vão sendo entregues nos serviços do urbanismo não tem conhecimento sobre o que virá a nascer de facto no impunente edifício construído junto ao Estádio do Dragão.

O Porto Canal contactou ainda o presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, onde se localiza o prédio, mas Paulo Ribeiro também não tem respostas. "Gostava de saber, até para responder às pessoas que vivem ali à volta e que estão sempre a perguntar-me, mas não sei de nada", afirma o autarca.

Numa visita recente ao edifício foi possível verificar o estado de abandono do prédio, que tem já grafitis nas paredes, várias janelas vandalizadas e lixo no interior. A torre está aparantemente terminada por fora, mas por dentro parece continuar vazia.

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Numa visita recente ao prédio foi possível verificar o estado de abandono

No ano passado, uma fonte próxima da empreitada garantia ao Porto Canal que na parte exterior não havia mais trabalho a fazer e que os funcionários da construtora não sabiam quando é que o projeto iria avançar para o interior.

A mesma fonte lamentava ainda a falta de comunicação do proprietário, a Predi5, de Domingos Névoa, com a construtora Alexandra Barbosa Borges, que continuou responsável por terminar o edifício, mesmo depois de o ter vendido.

Uma obra que se arrasta há anos na justiça

Apesar de ser um dos maiores da zona, a altura não é a única característica que salta à vista neste prédio. Os vários processos judiciais em que o edifício tem estado envolvido nos últimos anos marcam inevitavelmente o projeto, que se tem arrastado no tempo.

Segundo a certidão permanente do prédio urbano, a que Porto Canal teve acesso, em março de 2019, o Grupo Trofa Saúde interpôs um procedimento cautelar de arresto contra a promotora imobiliária (a empresa Alexandre Barbosa Borges II – Imobiliária, S.A) e o novo dono do prédio, a Predi5.

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A construtora Alexandre Barbosa Borges vendeu o edifício à Predi5, mas continua responsável por finalizar a obra

Em maio do mesmo ano, o grupo hospitalar entrou com outra ação no Tribunal Judicial da Comarca de Braga. Desta vez uma Ação Pauliana do contrato de compra e venda, celebrado em janeiro de 2019 entre a ABB e a Predi5. O objetivo da Trofa Saúde era obter o “direito à restituição dos bens” objeto do contrato promessa de arrendamento, celebrado em maio de 2014 com a Alexandre Barbosa Borges.

Em setembro de 2019, a administração do Grupo Trofa Saúde garantia, em comunicado enviado às redações, que não iria desistir de construir o seu primeiro hospital no Porto, considerando-o “um projeto estratégico” para o grupo e de “fundamental importância” para a freguesia de Campanhã.

Contactada novamente pelo Porto Canal, a empresa não prestou esclarecimentos adicionais sobre o projeto.

 
 
 
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