Governo: Maria Luís Albuquerque chega a Ministra das Finanças no meio dos polémicos 'swap'
Porto Canal / Agências
Lisboa, 01 jul (Lusa) -- Maria Luís Albuquerque chega a ministra das Finanças no meio da polémica dos 'swap', dois anos depois de entrar no Governo vinda do Instituto que gere a dívida pública e com uma candidatura pelo PSD em Setúbal no currículo.
Licenciada em Economia pela Universidade Lusíada de Lisboa, mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), Maria Luís Albuquerque chegou ao Governo em 2011, aos 44 anos, para liderar a secretaria de Estado do Tesouro e Finanças. Isto no mesmo ano em que a amizade a Passos Coelho, de quem foi professora, a leva a aceitar ser cabeça-de-lista do PSD em Setúbal, nas legislativas, o que considerou um "batismo de fogo" para quem se estava a iniciar na política ativa.
De perfil discreto, esteve envolvida na venda do BPN ao BIC e nas privatizações de empresas como EDP e REN. Isto antes de em outubro de 2012 o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ter decidido separar as pastas das Finanças e do Tesouro, ficando a secretaria de Estado das Finanças a cargo de Manuel Rodrigues e mantendo-se Maria Luís Albuquerque com a pasta do Tesouro.
Nestes últimos meses, a então secretária de Estado destacou-se a negociar o cancelamento de contratos 'swap' (derivados de taxas de juro) tendo sido a primeira personalidade a ser ouvida na comissão parlamentar de inquérito aos 'swaps'.
O Bloco de Esquerda, através da deputada Ana Drago, tratou várias vezes Maria Luís Albuquerque pelo epíteto "senhora 'swap'", mas o nome não pegou. Isto, apesar de ter sido a responsável pela contratação de vários contratos 'swap' quando foi diretora do departamento de gestão financeira da gestora da rede ferroviária REFER, entre 2001 e 2007. Em sua defesa, Maria Luís Albuquerque disse que o conjunto dos contratos 'swap' realizados pela Refer nos últimos 10 anos teve mesmo um ganho líquido para a empresa.
Casada e mãe de três filhos (dois gémeos), Maria Luís Albuquerque nasceu em 1967 em Braga, cidade onde nunca viveu verdadeiramente, como disse em maio de 2011 em entrevista ao jornal Rostos.pt. Então, o seu pai era Comandante da GNR e Maria Luís acompanhava-o nas deslocações, o que a leva aos 9 anos para Moçambique, onde o pai vai trabalhar para a Barragem de Cahora Bassa, e em que fica entre 1976 e 1982.
É em Moçambique que diz ter feito a formação ideológica e de personalidade, ao viver a adolescência num período conturbado do país: "Sempre tive um espírito combativo, porque sempre me recusei a aceitar as regras, o cantar o hino, a adoração ao líder. Essas foram situações que me marcaram, porque não aceitava que limitassem as liberdades individuais", disse ao mesmo jornal, em que lembrou ainda a sua formação católica.
Acabado o ensino preparatório, voltaria para Portugal para casa dos avós, em Armamar, na região do Douro, a terra que diz sentir como mais sua. Isto antes de ir estudar para a capital, num percurso a que atribui o "espírito de grande abertura à mudança", do gosto por "coisas novas, ideias novas" que desenvolveu.
É em Lisboa que se licencia em economia pela Universidade Lusíada e que faz o mestrado em Economia Monetária e Financeira pelo ISEG.
Numa carreira que começa por lecionar na universidade, Maria Luís Albuquerque foi técnica superior na Direção-Geral do Tesouro e Finanças entre 1996 e 1999, técnica superior do Gabinete de Estudos e Prospetiva Económica do Ministério da Economia entre 1999 e 2001, e desempenhou funções de assessora do Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças em 2001, no governo de António Guterres.
Foi ainda Diretora do Departamento de Gestão Financeira da Refer entre 2001 e 2007 e coordenou o Núcleo de Emissões e Mercados do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público entre 2007 e 2011.
Uma carreira que, na entrevista ao Rostos.pt, disse que lhe fez perceber desde cedo que era inevitável o caminho que Portugal estava a tomar.
"Iniciei uma rede de contactos com técnicos de outros países europeus, que permite a troca de experiências, permite conhecer a realidade de outros países. Também o facto de desenvolver muitas ações para vender dívida pública, tudo isto deu-me uma perceção daquilo que seria inevitavelmente o caminho de Portugal - este que estamos a viver", afirmou em maio de 2011.
Um caminho que tentará resolver a partir de terça-feira, quando toma posse como ministra das Finanças.
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