Óbito/Eduardo Lourenço: Cineasta Miguel Gonçalves Mendes lembra homem de "grande candura"

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 01 dez 2020 (Lusa) -- O realizador Miguel Gonçalves Mendes recorda o ensaísta Eduardo Lourenço, que morreu hoje, aos 97 anos, como "uma das vozes mais incríveis e que melhor pensou Portugal", um homem de "uma grande candura" que "vai fazer muita falta".

Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, Conselheiro de Estado, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço morreu hoje, em Lisboa, confirmou à agência Lusa fonte da Presidência da República.

Em 2018, foi protagonista e narrador da sua própria história, num filme de Miguel Gonçalves, que teve antestreia a 23 de maio, dia em que Eduardo Lourenço completou 95 anos.

O realizador, hoje, em declarações à Lusa, recordou o ensaísta como "uma das vozes mais incríveis e que melhor pensou Portugal".

"Numa época tão histriónica como a que vivemos, é efetivamente uma voz que nos vai fazer muita falta, pela sua candura e porque ele nos fazia sistematicamente relembrar que talvez a maior beleza do ser humano seja a sua capacidade pré-empatia e para se colocar no lugar dos outros, que é uma coisa que infelizmente nos dias de hoje nos está a faltar", afirmou Miguel Gonçalves Mendes.

Com o filme, intitulado "Labirinto da Saudade", que adapta a obra homónima de Eduardo Lourenço e traça uma viagem através da cabeça do pensador português, Miguel Gonçalves Mendes quis "quase cristalizar uma espécie de portugalidade, que de alguma forma estava quase a desaparecer".

"Pessoas que tinham entrado no nosso imaginário, que construíram uma imagem que nós temos de Portugal, como Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes, Saramago. E, no filme, o que se passa dentro da cabeça do Eduardo é quase como se ele entrasse em contacto com esse seus amigos ausentes e também com os amigos presentes e vivos, que de alguma forma dão conteúdo a essa imagem de país. Por isso também participam [Álvaro] Siza Vieira, Jorge Sampaio, Ramalho Eanes", contou.

O realizador recordou que a rodagem, que em grande parte aconteceu num hotel no Buçaco, como forma de apresentar Eduardo Lourenço como um hóspede que revisita, em cada divisão, pensamentos e fases da vida, "foi muito bonita".

"Porque apesar dos seus 93/94 anos, Eduardo predispôs-se a entrar neste jogo quase infantil do que é brincar ao cinema e do que era tentar entrar na sua cabeça", partilhou.

Em maio de 2018, Eduardo Lourenço admitiu, em entrevista à Lusa, que "entrou no filme sem saber que estava a entrar num filme", e considerou haver uma "tal incompatibilidade" entre ele e ser ator, que não se via nesse papel.

"Aquilo era uma espécie de visita ao Buçaco, sem programa propriamente dito, e a gente tinha que inventar umas situações e umas falas com muitas personagens, meus amigos ou não, quase todos eles meus amigos, e eu não podia adivinhar o que é que saía dali e continuo na mesma, porque ainda não o vi", disse na altura.

Miguel Gonçalves Mendes fala de Eduardo Lourenço como um homem "de uma doçura tremenda, de uma grande generosidade, de um grande sentido de humor e, sobretudo, de uma grande candura, que acho que é importante realçar", no momento atual. "Numa época em que toda a gente grita tão alto às vezes é importante esta questão da empatia".

"Isto é, eu acho que o Eduardo é efetivamente um ícone do pensamento, tanto à esquerda como à direita, neste país, exatamente por isso, porque ele nos fazia lembrar que a Política é a arte do consenso. O oposto disso é a guerra. Então há esse lado de nos sabermos colocar no lugar do outro que para mim é essencial", defendeu.

Miguel Gonçalves Mendes destacou ainda um outro feito de Eduardo Lourenço: "Temos que lhe estar agradecidos também pela forma como, de alguma forma, nos devolveu Fernando Pessoa, que até a uma certa altura estava bastante esquecido e desaparecido".

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda.

Conselheiro de Estado, ex-administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, lecionou em diversas universidades, de Coimbra a Brasília, passando por Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Grenoble e Nice.

Prémio Camões e Prémio Pessoa, recebeu também o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, o Prémio da Academia Francesa, e foi agraciado com as Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade. Foi ainda nomeado Officier de la Légion d'Honneur e consagrado Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro, Universidade de Coimbra, Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Bolonha.

Autor de mais de 40 títulos, que testemunham "um olhar inquietante sobre a realidade", como destacaram os seus pares, tem em "Os Militares e o Poder", "Labirinto da Saudade", "Fernando, Rei da Nossa Baviera" e "Tempo e Poesia" algumas das suas principais obras.

JRS (MAG/AL/SS) // MAG

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