Covid-19: Bruxelas rejeita "reagir a quente" a suspensão de voos dos EUA
Porto Canal com Lusa
Bruxelas, 12 mar 2020 (Lusa) -- A Comissão Europeia rejeitou hoje "reagir a quente" à decisão dos Estados Unidos de impor uma suspensão de voos para o espaço Schengen, mas garantiu que vai "analisar as consequências" e "refletir sobre possíveis" respostas.
"Como sabem, a União Europeia não tem o hábito de reagir a quente [porque] acreditamos que as boas decisões requerem reflexão e coordenação interna", declarou o porta-voz do executivo comunitário Eric Mamer, falando aos jornalistas na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia, em Bruxelas.
Questionado sobre qual será a resposta da União Europeia (UE) à decisão da administração norte-americana, Eric Mamer referiu que Bruxelas vai agora "analisar as consequências desta suspensão de voos e refletir sobre os possíveis próximos passos".
"Mas não vamos, seguramente, tomar uma decisão imediata", adiantou.
Minutos antes destas declarações, os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu divulgaram uma declaração conjunta na qual frisam que a UE desaprova a "tomada de decisão unilateralmente e sem consultas".
"O [novo] coronavírus é uma crise global, não está limitada a um continente, e exige cooperação, e não ação unilateral", começam por argumentar Ursula von der Leyen e Charles Michel, na declaração conjunta divulgada ao final da manhã em Bruxelas.
Sublinhando que "a UE desaprova o facto de a decisão dos Estados Unidos de imporem uma proibição de viagens ter sido tomada unilateralmente e sem consultas", os líderes do executivo comunitário e do Conselho Europeu, que representa os 27 Estados-membros, reiteram também que "a UE está a agir de forma determinada para limitar a propagação do vírus".
Esta madrugada, Charles Michel já se insurgira contra a medida anunciada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, advertindo que é necessário "evitar a disrupção económica", numa mensagem publicada na sua conta oficial na rede social Twitter.
A indignação da UE ocorre depois de Trump ter anunciado a suspensão de todos os voos provenientes da Europa, medida que entra em vigor na sexta-feira e irá prolongar-se pelo menos durante 30 dias.
Aquando do anúncio, o Presidente norte-americano acusou a UE de ter falhado na adoção de medidas restritivas de precaução e apontou que muitos dos focos de infeção nos Estados Unidos foram provocados por viajantes oriundos da Europa.
Depois da intervenção de Trump, os serviços de segurança interna norte-americanos precisaram que a proibição de viagens desde a Europa contempla várias exceções, não se aplicando ao Reino Unido, a cidadãos norte-americanos ou residentes permanentes e familiares diretos de cidadãos dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos registavam na quarta-feira 38 mortos e mais de 1.300 casos de infeção.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, também na quarta-feira, a doença Covid-19 como pandemia, justificando tal denominação com os "níveis alarmantes de propagação e de inação".
A pandemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.600 mortos em todo o mundo.
O número de infetados ultrapassou as 125 mil pessoas, com casos registados em 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 78 casos confirmados.
Face ao avanço da pandemia, vários países têm adotado medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto.
A Itália é o caso mais grave depois da China, com mais de 12.000 infetados e pelo menos 827 mortos, o que levou o Governo a decretar a quarentena em todo o país.
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