Governo/2 anos: Crise política em Portugal não seria "tão grave quanto isso" - IMF

| Política
Porto Canal / Agências

Porto, 05 jun (Lusa) -- O economista Filipe Garcia desdramatiza os efeitos de uma eventual crise política em Portugal, considerando que o país é visto como "alinhado" na Europa e que, "no essencial", o plano de ajustamento seria mantido por um novo Governo.

"Portugal tem sido visto como um país alinhado no sentido do plano de austeridade e da intervenção a que se sujeitou e não creio que uma crise política nos trará tantas diferenças quanto isso", sustentou o presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros em declarações à agência Lusa.

Para Filipe Garcia, a tão falada crise política dentro da coligação não tem que ser encarada como algo de "obrigatoriamente negativo", já que "é perfeitamente saudável" perceber que há "visões diferentes" no Governo sobre como atingir os objetivos definidos.

A este propósito, o economista destaca, aliás, que "não vale a pena criticar ou elogiar em demasia os governos, que têm que fazer as coisas certas, mas dependem muito do contexto externo".

"O Governo, em Portugal e noutros países, tem que lidar com a política real, tem poucos graus de liberdade, e tem feito aquilo que pode fazer. O Governo em Portugal não tem feito a política que quer, tem feito a política que consegue fazer, porque estamos muito dependentes dos nossos credores e da nossa integração europeia, porque o nosso sistema bancário está muito pendurado nas instituições europeias e há um conjunto de questões em que não temos a liberdade que alguns acham que temos para agir", considerou.

Neste contexto, o analista da IMF aponta os casos da Grécia e da Itália, recentemente marcados pela instabilidade política interna, para defender como "a política interna é importante, mas não é, de todo, o essencial".

"Mais essencial é que cada país consiga reunir em si o consenso para estar dentro do projeto europeu", sustentou.

E, se "há coisas que se podem dizer em ambiente de luta política ou de campanha", o economista recorda que, "chegados à mesa das negociações, os políticos deparam-se com a realidade e têm que se adaptar a ela".

O que, no caso português, significa que um novo Governo saído de eleições antecipadas poderia, eventualmente, tentar "a renegociação de alguns aspetos do plano de ajustamento, mas no essencial, que tem a ver com a trajetória de consolidação orçamental e com as metas impostas pela 'troika', não haveria grandes diferenças".

Isto "quer porque não há margem de manobra, quer, sobretudo, devido ao contexto de Portugal enquanto devedor e enquanto participante da União Europeia".

"Portugal tem uma dívida pública bastante grande e uma dívida privada também de elevado montante, e isso, obviamente, limita-nos o espaço de manobra", sustenta.

No que respeita ao desempenho do atual Governo, Filipe Garcia entende que, "do ponto de vista das medidas para consolidação das contas públicas, nem tudo foi bem feito, longe disso", mas o país está, hoje, "melhor do que estava a esse nível".

Outro aspeto "positivo" que retira da crise é o facto de os portugueses terem tomado "um bocadinho mais de consciência sobre o que é o Estado e sobre a fatura que é preciso pagar", assim como a "redescoberta", por parte das empresas nacionais, da sua "função exportadora", e, por parte dos portugueses em geral, do seu "espírito empreendedor".

"As pessoas começaram a procurar criar o seu emprego, a criar projetos e a trabalhar em mais do que um projeto em paralelo, e isso é sinal de uma sociedade viva e sustentável", concluiu.

PD/ACYS // VC

Lusa/fim

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