Manoel de Oliveira: O "cineasta do povo" que fez da vida um filme intemporal

Manoel de Oliveira: O "cineasta do povo" que fez da vida um filme intemporal
| Norte
Porto Canal

A maior parte dos planos que Manoel de Oliveira registou na orla do Douro, em 1930, estão ainda lá para ser filmados.

O mesmo horizonte, com Gaia ao fundo, entrecortado por velas, gaivotas e "putos reguilas", demonstram que ali pouco mudou em mais de um século, no que à vida fluvial diz respeito e no que ao que o talento de fotografar o intemporal concerne.

Falecido hoje, em casa, no Porto, aos 106 anos, aquele que foi o cineasta em atividade mais velho do mundo era acarinhado por quem nasceu e morou toda a vida na marginal, Foz e Ribeira da cidade que imortalizou em película.

"Era um cineasta do povo", diz à Lusa José Teixeira, ex-marinheiro, fabricante de barcos em miniatura na Ribeira, e primo do "Eduardinho", personagem do filme "Aniki Bobó", de 1942.

Enquanto lixava um pedaço de madeira que daria origem a uma miniatura de um barco rabelo, este antigo marinheiro de alto-mar, nascido no Muro dos Bacalhoeiros, n.º 111, há 68 anos, recordou a Ribeira dos tempos em que Manoel de Oliveira lá filmava como "mais unida do que agora".

"Ele era conhecido por ser um indivíduo aqui do Norte e por fazer filmes que fizeram com que tivéssemos um bocado de estimação por ele", lembrou José Teixeira, apreciando o hábito que Manoel de Oliveira tinha "de passear - mesmo com uma certa idade, ainda vinha para a rua e conversava por aí".

O primo, segundo conta o artesão, era conhecido na família por Nonó, mas foi como Eduardinho que o ator António Santos havia de ser recordado.

"Eram miúdos, mas conheciam bem a Ribeira, sabiam nadar e eram malandros, como se costuma dizer", descreveu o fabricante de barquinhos, supondo que Manoel de Oliveira terá reparado que "bastava eles fazerem o que faziam, que já dava um filme".

Proprietário do já histórico tasco "Está-se bem", aberto há 23 anos, nem a 20 metros do que resta do bar Aniki Bobó, Adriano Ferreira recorda Manoel de Oliveira como "um grande homem", que fez com que a Ribeira "ficasse conhecida em todo o mundo", retratando-a "com justiça, porque ele fez tudo por bem, não por mal".

"Era um grande senhor, mas com aquela idade, já tinha de ir embora", considerou Adriano Ferreira, descrevendo a obra que o cineasta deixou como algo que "faz parte da história do Porto e da Ribeira e que vai continuar a fazer para os outros, para os netos e bisnetos e sucessivamente, por aí".

À porta do apartamento em que Manoel de Oliveira faleceu esta manhã, concentravam-se vários órgãos de comunicação, observados por clientes de esplanadas. O realizador era também bom vizinho, ao que se conta por lá, e sobretudo bom cliente da confeitaria em que exercia uma rotina precisa.

"Vinha com a esposa, jantava, na manhã seguinte comia sempre os seus rissoizinhos e tosta mista, que era peculiar nele. Bebia o seu fininho - não perdoava - e depois um café curto. Isto durante cerca de 25 anos, desde a antiga gerência, e até há cerca de seis meses, quando passou a ficar mais em casa", contou Emídio Rodrigues, 53 anos, proprietário do estabelecimento.

"Era muito divertido, falávamos de filmes, daquelas coisas de vidas particulares, triviais e diárias? fiquei triste, obviamente, por mim ele durava mais 106 anos", lamentou Emídio Rodrigues, recordando a impressão de "homem afável, que falava com toda a gente. Era uma pessoa do povo, sem dúvida alguma", asseverou.

Manoel Cândido Pinto de Oliveira, nascido a 11 de dezembro de 1908, na cidade do Porto, falecido a 02 de abril de 2015, na mesma cidade, trabalhou quase até morrer. A curta-metragem "O velho do Restelo" foi "uma reflexão sobre a Humanidade", estreada em dezembro passado, por ocasião do 106º aniversário.

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