PS acusa Governo de comprometer-se externamente sem ter consenso no próprio executivo
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O PS considerou hoje que o Governo assumiu compromissos externos sobre novas medidas de austeridade sem ter sequer consenso dentro do executivo, acusando Paulo Portas de ameaçar com moção de censura e de humilhar o primeiro-ministro.Estas posições foram transmitidas em conferência de imprensa pelo porta-voz do PS, João Assunção Ribeiro, em reação às declarações proferidas pelo presidente do CDS e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no domingo.
Para os socialistas, o que se tem passado no interior do Governo desde sexta-feira passada, quando o primeiro-ministro comunicou ao país novas medidas de austeridade no valor de 4,8 mil milhões de euros até 2016, "é muito grave".
"O dr. Paulo Portas desautorizou o primeiro-ministro e com uma ameaça pública. Desautorizou quanto à medida em concreto do imposto sobre reformados e pensionistas e quando considerou o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) irrealista. Nos dois casos, estamos perante compromissos do Estado assumidos por escrito junto dos credores internacionais", declarou João Ribeiro.
De acordo com o porta-voz socialista, Portugal está em crise política "permanente" desde setembro de 2012 e o conjunto de posições que foi defendido no domingo por Paulo Portas constituiu "uma verdadeira ameaça de moção de censura, o que por si só comprova que o país tem um Governo dividido e sem credibilidade".
"Qual é a autoridade política do primeiro-ministro para apelar ao consenso depois do triste espetáculo? Para quem valoriza tanto no discurso a credibilidade externa, que credibilidade tem este Governo perante os nossos credores?", questionou o porta-voz do PS.
Na sua declaração, João Ribeiro também observou que o primeiro-ministro escreveu agora uma carta à 'troika' (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia) a vincular o Estado Português a um conjunto de medidas aprovadas em Conselho de Ministros.
"O que aconteceu no domingo quer dizer que o Governo comprometeu externamente Portugal sem sequer ter consensualizado o compromisso dentro do Governo? A partir de hoje, quando o primeiro-ministro falar ao país, alguém o poderá levar a sério, ou teremos de esperar por uma segunda declaração de Paulo Portas? O primeiro-ministro fala por metade do Governo?", questionou ainda o porta-voz do PS.
Na perspetiva do dirigente dos socialistas, o que se passou em Portugal nas últimas 72 horas "não tem paralelo na nossa memória constitucional".
"Assistimos a um ministro de Estado [Paulo Portas] a humilhar publicamente o seu primeiro-ministro. Não há memória de tal episódio na História da democracia portuguesa. Estamos perante uma crise política muito grave e os portugueses não a merecem", acrescentou.
Interrogado se o PS, na atual conjuntura política, defende a realização de um Conselho de Estado, o porta-voz dos socialistas deu a seguinte resposta: "O PS não se substitui ao Presidente da República na avaliação política que faz sobre a necessidade ou não de ouvir o Conselho de Estado".
"Sobre essa matéria não cometeremos nem a indelicadeza nem a falta de sentido de Estado de fazer qualquer comentário sobre uma convocatória de um Conselho de Estado", disse João Ribeiro, numa crítica indireta ao ex-presidente do PSD Marques Mendes que, no sábado, na SIC, disse que Cavaco Silva iria em breve convocar uma reunião do Conselho de Estado.