Sindicato dos Magistrados do Ministério Público diz que declarações de Mário Soares sobre o caso Sócrates são lamentáveis
Porto Canal
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) considerou hoje "absolutamente lamentáveis" e "uma vergonha para o país" as declarações do ex-Presidente da República Mário Soares à saída da cadeia de Évora.
"As declarações do Dr.Mário Soares são absolutamente lamentáveis, são indignas de um Presidente da República, são uma vergonha para o país de que foi o mais alto magistrado", disse à Agência Lusa Rui Cardoso, presidente do SMMP, reagindo às afirmações do antigo Chefe de Estado à saída da cadeia, onde o ex-primeiro-ministro José Sócrates está em prisão preventiva por indícios de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Questionado sobre se as palavras de Mário Soares podem ser entendidas no sentido de que foi montada uma cabala contra Sócrates, o presidente do SMMP escusou-se a comentar, limitando-se a dizer que ele (Mário Soares) é que "pode dizer as razões do que disse".
Contactado pela Lusa, Nuno Coelho, vice-presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), referiu que a estrutura dos juízes não vai comentar o que foi dito por Mário Soares.
Mário Soares disse hoje, em Évora, que José Sócrates está a ser vítima de "uma campanha que é uma infâmia", argumentando tratar-se de "um caso político".
"Têm feito uma campanha contra ele que é uma infâmia. É a comunicação social que faz, mas são os tipos que estão por trás dela", acusou.
Segundo Soares, "toda a gente acredita na inocência [de José Sócrates] neste país" e que "todo o PS está contra esta bandalheira", apesar de este caso não ter "nada a ver com os socialistas".
Em sua opinião, "tem a ver com os malandros que estão a combater um homem que foi um primeiro-ministro exemplar".
Para o antigo chefe de Estado, José Sócrates foi tratado como se fosse "um malandro" e "nem sequer foi ao tribunal".
"Alguém o mandou ao tribunal, Qual tribunal", questionou, depois de os jornalistas terem dito que o ex-primeiro-ministro foi ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal, considerando que o caso "não é outra coisa senão um caso político".
Mário Soares considerou que José Sócrates "é um homem de dignidade e digno e nem sequer foi julgado", acrescentando que, "se for julgado, é absolvido".
Questionado sobre a prisão preventiva de Sócrates por alegado perigo de perturbação do inquérito, Soares respondeu: "Diga a esse juiz que é muito estranho, que eu também sou jurista", afirmou.
À entrada do Estabelecimento Prisional de Évora e quando questionado se acredita na inocência de José Sócrates, Mário Soares respondeu: "com certeza".
O ex-primeiro-ministro é o primeiro ex-chefe de governo da história da democracia portuguesa a ficar em prisão preventiva.
Na noite de segunda-feira, o Tribunal Central de Instrução Criminal decretou a prisão preventiva a José Sócrates, João Perna e Carlos Santos Silva e a obrigatoriedade de apresentação bissemanal no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), proibição de ausência para o estrangeiro e proibição de contactos com os outros arguidos a Gonçalo Ferreira.