CDU de Gaia exige esclarecimentos sobre proposta da LusoLav sobre alta velocidade

Porto Canal/ Agências
A CDU de Vila Nova de Gaia exigiu esta quinta-feira esclarecimentos sobre a proposta da LusoLav de deslocalizar a estação ferroviária de alta velocidade de Santo Ovídio para Vilar do Paraíso, acusando consórcios privados e autarcas de atuarem “à margem”.
Em comunicado, a CDU/Gaia começa por salvaguardar que “reafirma a importância da alta velocidade ferroviária para o desenvolvimento do país e da região”, mas rejeita que “um projeto desta dimensão e impacto seja decidido à porta fechada, em reuniões entre consórcios privados e autarcas, à margem da população, dos representantes locais e do interesse público”.
“As recentes notícias sobre alterações ao traçado da Linha de Alta Velocidade (LAV) expõem de forma grave a entrega deste projeto estratégico a um consórcio privado (LusoLav – Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto) que, depois de vencer um concurso público, redesenha agora o projeto à sua medida e conveniência, à margem do que foi discutido com autarcas e a Infraestruturas de Portugal (IP)”, lê-se no comunicado.
Em causa está uma proposta do consórcio LusoLav, responsável pela linha de alta velocidade entre Porto e Oiã.
Este quer mudar em dois quilómetros a localização da estação de Gaia e fazer duas pontes sobre o Douro em vez de uma rodoferroviária.
De acordo com documentos a que a Lusa teve acesso, e que irão esta quinta-feira a votação numa reunião extraordinária da Câmara de Gaia às 16h00, bem como numa Assembleia Municipal às 21h00, em causa está a alteração do que foi inicialmente apresentado.
Para a CDU/Gaia, “este episódio revela o modelo de desenvolvimento que PS e PSD promovem: decisões tomadas em gabinetes, sem transparência, sem participação, sem respeito pelos territórios e pelas suas necessidades reais. Uma política de anúncios, recuos e propaganda que serve os grandes interesses económicos, não as pessoas”.
Assim, a coligação PCP/PEV de Gaia exige “esclarecimentos e respostas concretas” e quer saber como é que o Governo, a IP e a Câmara do Porto alegam desconhecer alterações discutidas entre a Câmara de Gaia e o consórcio.
“Vai o Governo ceder à chantagem do consórcio, que usa os prazos dos fundos europeus como arma para impor decisões do seu interesse? Quem está a decidir o futuro da mobilidade da região: o poder político eleito ou os interesses privados?”, questiona a CDU/Gaia.
Também é questionado se “o Governo, a IP e as autarquias envolvidas consideram legítimo que um consórcio, depois de ganhar um concurso público, tenha liberdade para redesenhar o projeto à sua medida e à margem dos compromissos iniciais e da vontade das populações”.
A proposta do consórcio LusoLav de alterar a localização da estação de Gaia e de passar de uma ponte rodoferroviária sobre o rio Douro para duas está "dentro do corredor aprovado" da linha de alta velocidade, segundo documentos consultados pela Lusa.
A proposta da LusoLav retira a ligação direta à Linha Amarela do Metro do Porto, apesar de propor uma extensão da Linha Rubi.
A nova localização localiza-se por cima de uma ribeira, e por isso em zona de Reserva Ecológica Nacional.
À Lusa, a IP disse desconhecer as alterações propostas e lembrou que ainda não assinou o contrato de concessão com o consórcio.
Também fonte oficial da Câmara do Porto disse à Lusa que esta autarquia não tinha conhecimento da proposta de abandonar a solução de uma ponte rodoferroviária sobre o Douro para a linha de alta velocidade e passar para duas, apresentada pelo consórcio LusoLav.
De acordo com os documentos do processo a que a Lusa teve acesso, há várias menções a "diversas reuniões" entre as partes, Câmara de Gaia e consórcio, antes de o processo culminar esta quinta-feira na votação de pareceres que podem validar politicamente, ao nível concelhio, a mudança em dois quilómetros a localização da estação de Gaia, retirando-a de Santo Ovídio, e fazer duas pontes sobre o rio Douro em vez de uma rodoferroviária.
Já o Governo informou esta quinta-feira estar em diálogo com a IP sobre a proposta.