Caça ao lobo volta a ser permitida em Espanha a norte do rio Douro

Porto Canal/ Agências
Os lobos voltarão a poder ser caçados em Espanha, ao norte do rio Douro, na sequência de uma proposta aprovada esta quinta-feira no plenário do parlamento espanhol por quatro partidos de direita.
Por iniciativa do Partido Popular (PP, direita e maior força da oposição parlamentar em Espanha), o lobo saiu esta quinta-feira da Lista de Espécies Silvestres em Regime de Proteção Especial (conhecida como Lespre) no caso de territórios a norte do rio Douro.
Além do PP, votaram a favor Vox (extrema-direita espanhola), Juntos pela Catalunha (independentistas catalães) e Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em espanhol).
O lobo-ibérico é uma espécie protegida em toda a Espanha desde setembro de 2021, quando entrou na Lespre e deixou então de ser cinegética ao norte do rio Douro.
No debate desta quinta-feira no parlamento espanhol, os quatro partidos argumentaram com ataques de lobos a gado e a pessoas e com a necessidade de, nas palavras da deputada do PP Milagros Marcos, "acabar com o pesadelo de milhares de criadores de gado e famílias humildes que querem continuar a viver nas suas aldeias sem medo".
"Não é preciso escolher entre o lobo e o gado, há é que garantir o equilíbrio e a convivência", através da "gestão responsável" das populações de lobos, "como se fazia" até 2022, quando essa gestão foi "proibida por pura ideologia", afirmou Milagros Marcos.
Para a deputada, "a ideologia" está "diariamente a acabar com o mundo rural", numa crítica à esquerda.
Segundo os dados que referiu no debate, desde que o lobo entrou na Lespre em Espanha, o "resultado não podia ser mais lamentável": menos 3,5 milhões de cabeças de gado, mais 71 alcateias de lobos, mais de 15 mil cabeças de gado "assassinadas" por dia e 4,5 milhões de quilos de carne transformadas em resíduos.
"Quem é preciso proteger?", questionou a deputada.
O PP defendeu, ainda, que com esta medida aprovada, Espanha se adianta a uma diretiva europeia que vai qualificar o lobo como "espécie gestionável" em toda a União.
O Partido Socialista Espanhol (PSOE, que está à frente do Governo do país), através da deputada Patricia Otero, limitou-se a criticar a forma como o PP levou a plenário esta medida, "colando" uma alteração a uma proposta de lei para prevenir o desperdício alimentar e sem permitir um debate alargado.
A desproteção do lobo em Espanha, com a retirada da espécie da Lespre, foi já criticada por várias associações de defesa do ambiente e dos animais, que consideraram a decisão do parlamento um "retrocesso histórico":
"O Congresso [parlamento] assinou um capítulo negro da história da conservação da natureza em Espanha, desprotegendo o lobo pela porta das traseiras sem qualquer apoio científico", disse a associação WWF, através do seu secretário-geral, Juan Carlos del Olmo.
Para a WWF, ficou aberta a possibilidade de "matanças indiscriminadas" de lobos em Espanha, por parte dos governos regionais, como acontecia até 2021.
O secretário-geral da WWF lembrou que o governo autónomo da Cantábria, por exemplo, já anunciou que pretende autorizar a caça de 40 lobos sem, no entender da associação, "justificação científica".
A Comissão Europeia apresentou em 07 de março uma proposta para alterar o estatuto dos lobos de “estritamente protegidos” para apenas “protegidos”, permitindo a cada país do bloco comunitário “flexibilidade adicional” para controlar as populações destes animais.
Em comunicado, o executivo de Ursula von der Leyen anunciou que a alteração foi feita ao abrigo da Convenção de Berna, que começou a ser aplicada a partir desta quinta-feira.