“A fotografia também é partilha”. O Olhar Descartável da diretora da Secundária Filipa de Vilhena no Porto

“A fotografia também é partilha”. O Olhar Descartável da diretora da Secundária Filipa de Vilhena no Porto
Fotografia: Maria José Tavares
| Porto
Pedro Benjamim

Os portões do número 205 da Rua do Covelo, em Paranhos, abriram-se ao ‘Olhar Descartável’, um projeto do Porto Canal onde, através da entrega de máquinas fotográficas descartáveis às ‘gentes do Porto’, são recolhidas, guardadas e partilhadas as memórias de quem dá vida à cidade.

 
 
 
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Essa é a morada da Escola Filipa de Vilhena, a única Secundária que não está agrupada na cidade do Porto. As ruas que circundam a Secundária integram um dos principais acessos ao centro da cidade. Da VCI sai-se para a Rua de Faria Guimarães, vira-se à direita na Rua do Covelo, de seguida à esquerda na Rua Dr. Adriano de Paiva – onde se acompanha o muro da escola – de novo para a Rua Joaquim Kopke, continuando pela rua do Cantor Zeca Afonso e Rua de São Brás até entrar na Rua de Camões, rumo à Avenida dos Aliados. Mas, apesar das muitas viaturas que por lá passam, dentro dos limites da Filipa de Vilhena o ambiente é outro.

“Lembro-me que tirei muitas fotografias aqui dentro da escola, principalmente nos espaços exteriores, em que podemos perceber que há uma certa calmia dentro do que é o caos da cidade”. A frase é da diretora da escola, Maria José Tavares, que aceitou o desafio de mostrar o seu olhar e a escola que dirige desde 2021.

O atual edifício da Filipa de Vilhena foi inaugurado em maio de 1958, depois de em 1948 a Escola Comercial Mouzinho da Silveira ter passado a designar-se Escola Comercial Filipa de Vilhena, deixando de ser mista para ser exclusivamente feminina. Foi em 1979 que a escola passa a designar-se Escola Secundária Filipa de Vilhena, consequência da reforma do ensino que terminou com a distinção entre ensino liceal e ensino técnico.

Seis anos mais tarde, Maria José Tavares ingressava no ensino, em fevereiro de 1985. É professora de Português e Francês há 40 anos, mas a relação com a fotografia precede a carreira profissional. “Recordo-me que tinha 16 anos e ofereceram-me uma máquina daquelas modernas, de rolo, e comecei a tirar fotografias”, conta.

Maria José Tavares define-se no mundo da fotografia: “Sou muito de pormenores”. A professora gosta de “ver a paisagem humana”, de “captar um momento que sei que é efémero”, afirma.

Porto Canal

Esse olhar para o pormenor está presente não só na sua relação com a fotografia, mas também na vida profissional. Recorda, na conversa com o Porto Canal, o período entre 2007 e 2011, quando exerceu funções no ministério da Educação, à data liderado por Maria de Lurdes Rodrigues, integrando o gabinete de apoio à autonomia das escolas, quando nas visitas que fazia às escolas detinha o olhar em pormenores que a ajudavam a conhecer com mais rapidez o dia-a-dia de cada estabelecimento.

Para Maria José Tavares a fotografia é também partilha. “Se eu não registar através de uma fotografia aquele pormenor, certamente ele será esquecido. Poderá até ficar na memória, mas não posso partilhá-lo com mais ninguém e a fotografia também é partilha. É a captação de um determinado momento e uma determinada emoção e depois partilhá-la com os outros”.

Nesta relação com a fotografia, Maria José Tavares quer olhar “para o que está para além da nossa passagem física”. “É passarmos um olhar e reinterpretá-lo”, destacando uma vertente mais emocional da imagem.

Nesta viagem com a máquina fotográfica descartável, a diretora da Escola Filipa de Vilhena fez fotografias “fora da cidade e do outro lado da cidade, nomeadamente perto do rio e também da natureza urbana”. “A mim é o que me fascina, porque muitas vezes passamos e não olhamos para as árvores, principalmente naquele estado de mutação. Na altura era o Outono, aquela parte em que as folhas começam a cair. A cidade muda, há uma roupagem diferente, mas com a sua beleza”, lembra.

“É muito importante termos esta ideia de espaço interior e espaço exterior, até por uma questão de saúde mental, psicológica e pública. Todos nós deveríamos ter a preocupação de apanhar ar puro e sair um bocadinho daquilo que é o nosso bairro, ou a nossa zona de trabalho”, algo que durante algumas semanas fez com a máquina fotográfica descartável na mão.

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