Portuenses saem à rua para que a cidade “cumpra a sua função”: proteger casa de Garrett

Portuenses saem à rua para que a cidade “cumpra a sua função”: proteger casa de Garrett
Foto: Pedro Benjamim | Porto Canal
| Porto
Ana Francisca Gomes

Um grupo de cidadãos e artistas portuenses vai manifestar-se, este domingo, pela salvaguarda da casa de Almeida Garrett, que foi colocada à venda por 3,8 milhões de euros, como avançou o Porto Canal. Será ainda lançada uma petição pela classificação do edifício.

 
 
 
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A partir das 15h00 e até às 19h00 na Rua Doutor Barbosa Ribeiro, junto à antiga Cadeia da Relação, vão ser realizadas várias atividades como a leitura de excertos de toda a obra de Garrett, depoimentos de personalidades da vida cultural portuguesa, música ao vivo, uma instalação artística na fachado do edifício e ainda uma feira com livros do impulsionador do teatro em Portugal e de outros romancistas nacionais.

Trata-se de um dia que será “uma jornada de luta para salvar a casa de Garrett”, clarificou ao Porto Canal Francisco Alves, diretor artístico do Teatro Plástico e um dos organizadores desta que diz ser “uma atividade organizada por cidadãos, por portuenses e por moradores aqui da rua”.

“O que nós pretendemos é que a Câmara do Porto cumpra a sua função e que faça aquilo que ainda não fez: classificar este imóvel e promover a construção de uma casa de Garret com ligações ao movimento liberal e ao romantismo”, explicou. Nesse sentido, será lançada uma petição.

Câmara do Porto não vai exercer direito de preferência

Mais de cinco anos após a autarquia ter tentado adquirir o edifício, este foi colocado à venda há poucas semanas pela imobiliária portuense Metro3. O lote, à venda por 3,8 milhões de euros, tem 1616 metros quadrados de área útil e inclui dois edifícios.

Segundo a imobiliária, o lote já tem até projetos aprovados. “Tem PIP [Pedido de Informação Prévia] aprovado para edifício de apartamentos e comércio, com 13 frações, contando ainda com projeto de arquitetura para Hotel de Charme de 29 quartos e 1 restaurante, o que permite uma diversificação de abordagem para investimento”, pode ler-se na sua página online.

A 11 de novembro, Rui Moreira afirmou que, em caso de venda, a autarquia não vai exercer o direito de preferência. “A Câmara Municipal do Porto não pode, não é não querer. Nós não podemos exercer um direito de preferência pós-incêndio por um valor de quatro milhões. Não podemos fazê-lo”, declarou numa reunião do executivo municipal.

Os edifícios foram adquiridos em 2017 e 2018 pela sociedade anónima Midfield - Imobiliária e Serviços, com sede na Avenida da Boavista, detida pelos mesmos membros do conselho de administração da Teak Capital, um fundo de investimento da família Moreira da Silva.

Autarquia quis transformar casa em museu

Em março de 2019, a Câmara do Porto aprovou por unanimidade uma recomendação da CDU para tentar adquirir a casa e ali instalar um pólo do Museu do Liberalismo, a propósito dos 200 anos da Revolução Liberal. A proposta - que passava por adquirir o edifício e outros dois contíguos - acabaria por não sair do papel. Apesar dos esforços da autarquia, o negócio não foi avante, já que o valor pedido pelo proprietário (4 milhões de euros) foi superior à avaliação dos três imóveis (1,5 milhões).

Contactada em julho pelo Porto Canal, a autarquia portuense referia apenas que nada mudou desde o tempo em que as negociações com o proprietário acabaram por não chegar a bom porto.

Para o historiador Joel Cleto, o melhor destino para o edifício seria “um espaço que recordasse a figura de Almeida Garrett, mas também esse momento crucial da história do Porto e do país, que é o cerco do Porto”. À conversa com o Porto Canal em julho, o historiador lembrava que, “curiosamente, nós não temos na cidade nenhum espaço museológico, onde, de um modo aprofundado, seja explicado o que foram esses 13 meses em que a cidade suporta um cerco terrível”.

Para quem olha para o prédio, que tem também uma fachada virada para o Passeio das Virtudes, sobram agora as marcas do incêndio que o devastou em 2019 e que deixou dois bombeiros feridos, não afetando nenhum dos prédios vizinhos. Fogo esse que deflagrou na mesma semana que a autarquia liderada por Rui Moreira fez a proposta de compra aos proprietários, noticiava à data o jornal Público.

“Salvou-se a sua fachada, salvou-se essa memória e por isso acho que estamos sempre em tempo de reabilitar este imóvel como memória importante para a cidade”, remata Joel Cleto.

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