O primeiro projeto de Housing first no Porto arranca em janeiro de 2025 e procurará dar casa a até 12 pessoas em situação de sem-abrigo, refere um dossiê da Albergues do Porto a que a Lusa teve esta segunda-feira acesso.

Denominado Porto de Partida – Rumo à Inclusão com Housing First, o projeto-piloto terá uma duração de dois anos e procurará dar resposta ao facto de nos últimos cinco anos o número de pessoas em situação de sem-abrigo em Portugal ter aumentado 78% e, nos últimos quatro anos, os pedidos de alojamento à Albergues do Porto terem triplicado, assinala a associação.

Segundo o projeto, em janeiro será feita a sinalização dos beneficiários em colaboração com o Núcleo de Planeamento e Intervenção para pessoas em situação de Sem-Abrigo (NPISA), devendo as primeiras três casas ser ocupadas em abril, outras três em julho e as últimas quatro em janeiro de 2026.

A associação aponta a que entre os 70% e 80% das pessoas que ocuparão as casas dispersas pela Área Metropolitana do Porto não voltem à rua.

Com o Propósito de ajudar à sua implementação, o Teatro Nacional São João (TNSJ) anunciou esta segunda-feira que vai doar as receitas de sexta-feira e sábado da sua produção “O Pelicano”, de August Strindberg, com encenação de Nuno Cardoso.

“Os espetadores que assistirem a ‘O Pelicano’ na sexta-feira e sábado estarão a contribuir para o desenvolvimento de um projeto-piloto de integração habitacional, social e comunitária de pessoas em situação crónica de sem-abrigo, designado Porto de Partida – Rumo à Inclusão com Housing First, que arranca já em 2025 e conta com o apoio do BPI e da Fundação “la Caixa”, também mecenas do TNSJ desde 2020”, lê-se no comunicado enviado à Lusa.

Citado pela nota de imprensa, o presidente do conselho de administração do São João, Pedro Sobrado, afirma que o apoio do TNSJ ao projeto da Albergues do Porto “não só tem enquadramento na política de responsabilidade social desta entidade pública como também decorre diretamente da relação de parceria que, nos últimos meses, vem sendo construída com várias entidades públicas e com organizações não-governamentais e associações, para alargar bermas ao nosso trabalho com a comunidade”.

Pedro Sobrado assinala, neste particular, o esforço para resolver o problema de “mais de uma dezena de pessoas (…) alojadas nas fachadas laterais do teatro”.

Números avançados pela Albergues do Porto referem que em, 2023, a associação, que “apoia pessoas em situação de extrema vulnerabilidade 24 horas por dia, recebeu quase 900 pedidos de alojamento, conseguindo apenas responder a 13% desses pedidos”.

Com este projeto, a Albergues do Porto “procura dar uma resposta de longa duração a pessoas em situação crónica de sem-abrigo, com problemas de saúde mental ou com comportamentos aditivos e dependências, totalmente desenraizadas e sem uma rede social ou familiar”, lê-se no comunicado.

Fonte da associação explicou à Lusa que o projeto prevê habitações unifamiliares permanentes, que estarão dispersas pela Área Metropolitana do Porto para assegurar uma boa integração na comunidade e que o processo será acompanhado por equipas multidisciplinares para a melhor integração possível.

O modelo de Housing First já foi cientificamente testado a nível nacional e internacional, com uma taxa de sucesso de 90% sem regresso à rua, mas a solução permanece inédita no Porto e na sua área metropolitana.

“O Pelicano” estreou-se a 21 de novembro e está em cena até 08 de dezembro no TNSJ. A sessão de sexta-feira será às 21:00 e a de sábado às 19:00. O preço dos bilhetes varia entre os 7,50 e os 16 euros.